domingo, 31 de maio de 2009

1.º Congresso dos Antigos Alunos dos Seminários: da memória à profecia*

1. Desejo e memória latente no passado de muitos, fica agora este evento para memória futura de todos e registo primeiro de uma realidade antiga, viva e potenciadora numa sociedade positivamente marcada pela formação em tempos recebida dos nossos seminários.

Vivendo certamente há longo tempo no silêncio mental de alguns, o Congresso dos Antigos Alunos dos Seminários de Portugal, realizado em Fátima, teve o seu empurrão decisivo em Maio de 2008 a quando da visita do Mons. Luciano Guerra -(ao tempo Reitor do Santuário de Fátima)- ao Seminário de Resende para falar sobre Fátima e Lurdes, integrado nas comemorações do 80º aniversário do Seminário, dos 150 anos das aparições de N.Snra.de Lurdes, 25 º aniversário da ASEL e lançamento da Antologia Estrela Polar .

Essa vivência de 2 dias intensos no Seminário de Resende onde se respirou também vida e dinâmica da Associação dos Antigos Alunos de Lamego (ASEL), levaram no local o Mons. Guerra a pronunciar- «agora sim vamos fazer o Congresso dos Antigos Alunos dos Seminários». Alguns meses depois estava constituído o secretariado e dados os primeiros passos para a sua realização.

Esta é uma realidade resultante da minha leitura dos factos que ASEL e os nossos Seminários não precisam ocultar ou esquecer.

Assim se desenvolveu em ponta final ideia e projecto, e assim o 1º Congresso dos Antigos Alunos dos Seminários foi marcado atempadamente para os dias 24-25 e 26 de Abril de 2009.

Relativamente ao local escolhido para o evento, melhor e com melhor simbologia não se encontraria, pelo que tiro o meu chapéu à escolha de 5 estrelas. No que respeita ao número de presenças formalmente inscritas e instituições representadas, faço duas leituras diferentes e ambas certas, pelo que cada um abraçará a que melhor lhe convier sendo que de pessimismo estamos quase saturados e é o optimismo realista e crítico que comanda o futuro, desenvolve actividade e conclue projectos.

De facto o número aproximado de 500 presenças não é altamente abonatório para uma realização desta grandeza e amplitude, porém a amplitude e grandeza deste evento esteve exactamente na sua concretização.

Nunca vez alguma se tinha pensado decididamente levar a efeito iniciativa desta projecção. O facto de se ter realizado é o maior êxito que se deve acolher e reter.

A não presença de antigos alunos de muitos seminários e instituições religiosas é uma lacuna de fácil solução a resolver já no 2º Congresso desejavelmente a realizar a curto prazo .

2. Com início em 24 e encerramento a 26 de Abril de 2009, ocorreu em Fátima este 1º Congresso sobre o tema « da Profecia à Memória» .

Um programa cheio com intervenções e testemunhos de elevada qualidade pouco tempo deixou para debates temáticos que dariam ainda mais vida aos conteúdos.

As 16 conclusões (demasiadas e de caracter bastante genérico) apresentadas no encerramento juntamente com novas sugestões que entretanto surjam serão o ponto de partida na elaboração do programa do próximo congresso que todos desejamos e aguardamos.

Interessante seria pormenorizar as intervenções dos vários prelados convidados (com referência para o Snr. D.António Francisco dos Santos), dos oradores e moderadores dos temas em debate, mas por honra ao espaço e interesse de destino vou limitar-me ao papel de Lamego (Seminários e ASEL) na vida, animação e intervenções no congresso.

Presente na qualidade de antigo aluno e elemento da Direcção da ASEL, apraz-me referir (e sem saber explicar) que Lamego não teve qualquer quota de voz e responsabilidade activa na organização, mas o congresso seria mais pobre e menos vivo se Lamego com os seus Seminários e a Associação de Antigos Alunos não tivesse tido a representação e intervenção que teve.

A representação da ASEL ao Congresso, (talvez a mais expressiva de todas), com mais de 30 elementos, equivalente a cerca de de 10% do total dos congressistas inscritos, deixou em claro destaque nos espaços do congresso os nossos Seminários, com evidência para os Vice Reitores, Pe. Dr. João Carlos e Pe Dr. Paulo Alves, cuja presença salientou a preocupação, visão, nível e valor dos nossos Seminários e equipas formadoras.

A Lamego e seus representantes coube no programa o testemunho de um aluno frequentante apenas em seminário menor, pertencendo ao António Cândido, (à data, presidente da ASEL), a comunicação ao Congresso.

O seu testemunho, sem dúvida o mais bem elaborado e preparado de quantos sobre os seminários falaram, desenvolveu em mensagem falada a sua experiência enquanto aluno de um seminário menor, a sua actividade apostólica ao longo da vida e especialmente como elemento activo da ASEL. Ao longo dos 20 minutos da comunicação verbal fez-se acompanhar com diaporama qualitativamente preparado onde se viu, quem quis ver, (com imagens de espaços e pessoas), todo o suporte dos nossos Seminários em Resende e Lamego, a ASEL e os seus 26 anos de existência com realce para os últimos seis em que a Direcção assumiu uma intervenção mais directa e uma ligação mais intensa aos nossos seminários.

Quem viu e ouviu verificou que Lamego e a Associação de Antigos Alunos esteve claramente em evidência não só no já referido mas até e também na parte recreativa do encerramento com a intervenção do Luís de Matos e sua guitarra.

Sem vaidade mas com verdade, (por mérito e trabalho do António Cândido ), ficou no Congresso bem vincado o nome dos Seminários de Lamego e seus antigos alunos.

Não sendo elegante reportar ou desenvolver louvor próprio, também não era justa a omissão do testemunho desta verdade por mais valioso que seja o silêncio da humildade ou edificante a humildade do silêncio.

*Texto de autoria do Dr. Adão Sequeira, também reproduzido n' A Voz de Lamego

quarta-feira, 27 de maio de 2009

O "Milagre" de Cárquere: facto histórico, lenda ou embuste?*

Fruto de uma investigação aturada, o Dr. Joaquim Correia apresentou, no dia 9 do passado mês de Abril, à Academia Portuguesa de História, de que é membro, uma importante comunicação sobre a “cura milagrosa” do nosso primeiro rei. A ilustre assembleia foi confrontada com a importância e o papel de Cárquere nos primórdios da nacionalidade. Este apontamento pretende dar conta de alguns dados dessa prelecção.

Breve contextualização histórica de Cárquere
Esta freguesia testemunhou a fixação de diferentes povos ao longo da sua história. Há fortes evidências de ter existido um antigo castro pré-celta no outeiro, designado de Medorno ou Medorro situado junto da igreja e do mosteiro. Os romanos, aqui chegados no século II a. C., estabeleceram neste local um “oppidum” (povoação fortificada). Da sua presença chegaram até nós importantes vestígios de que se destacam inúmeras moedas e várias lápides funerárias. Nestas proximidades, em Caldas de Aregos, passava, aliás, a famosa “Via Caurium”, que ligava Mérida a Braga, o que explica a forte colonização romana do nosso concelho. Neste contexto, não é descabida a referência de Frei Teodoro de Melo, em manuscrito de 1733, a uma estatueta de Diana, descoberta por uns “rústicos” que trabalhavam para os padres Jesuítas em Cárquere. Sendo assim, parece justificada a existência de um pequeno e rude templo em honra da deusa das florestas e da caça.
Com a cristianização destas terras, que deve ter acontecido ao longo do século VI, registou-se a fundação de pequenas paróquias e a construção de pequenos templos. Assim aconteceu em Cárquere, datando o seu primeiro templo, ao que tudo leva a supor, da época suevo-visigótica. E por analogia com o que sempre aconteceu ao longo da história, é provável que tivesse sido erguido a partir da transformação/reconstrução do templo pagão, tendo-se operado a substituição do culto de Diana por Santa Maria, Mãe de Jesus Cristo. A corroborar esta tese, há a preciosa escultura em marfim, de 29mm de altura e 14 de base, representando uma Senhora com o Menino, cujas formas e expressões denunciam ser obra muita antiga, talvez da época visigótica. Há indícios que sugerem ter sido Cárquere um centro intenso de espiritualidade e de difusão religiosa, tendo esta imagem sido venerada com especial devoção. Por altura das invasões sarracenas, a mesma terá possivelmente sido escondida, tendo sido posta a descoberto aquando da reconquista cristã, reiniciando-se, a partir de então e ainda com mais afinco, a antiga devoção a Santa Maria (de Cárquere).

A “cura milagrosa”
É neste local de sobreposição de cultos, de sortilégios, da redescoberta da imagem ancestral de Nossa Senhora e do reencontro com a Sua devoção que acontece o “milagre”.
Sendo D. Egas Moniz, senhor de Ribadouro e com Paço em Resende, pessoa da máxima confiança do Conde D. Henrique, este constituiu-o aio do seu filho Afonso Henriques, ficando com a incumbência de o criar e educar. Conta-se que a criança sofria de uma malformação das pernas, o que constituía uma grande preocupação para Egas Moniz. E a cura só poderia vir por intervenção divina. É natural que as orações se dirigissem para Nossa Senhora/Santa Maria, cuja imagem era muito venerada ali bem perto. Até que um dia, encontrando-se no seu Paço de Resende, esta lhe apareceu em sonhos, dizendo-lhe que caminhasse até Cárquere, colocasse a criança em cima do seu altar e lhe acendesse duas velas. E assim fez. Mas um facto inesperado aconteceu. Cansado e dormente, só o príncipe se deu conta que uma das velas caíra e pegara fogo às toalhas e ao altar. A fim de evitar o alastramento do incêndio, é impelido a agir, deslocando-se para apagar as chamas. E é nesse instante que se sente curado.
Esta é a tradição que tem atravessado gerações, encontrando-se bem enraizada na nossa região. A par disso, este “milagre” encontra-se referenciado em diversos cronistas do século XVI e XVII.

Inconsistência da tradição popular e dos relatos dos cronistas
Muitos autores não dão credibilidade a estes textos, por terem sido escritos quatro ou cinco séculos depois do suposto milagre. Acham inverosímil que este facto não tivesse sido devidamente anotado nos documentos da época, pois supostamente permitiu levar Portugal à independência. Um rei portador de uma enfermidade nunca poderia levar avante tão insigne e dificílima tarefa. Muitos alegam também que as crónicas foram fabricadas, pois foram redigidas por frades ou monges integrantes de ordens ou famílias monásticas que estiveram na posse do Mosteiro de Cárquere, sendo parte interessada no seu engrandecimento. Os detractores da tese do milagre identificam ainda algumas contradições de datas, tais como a que situa a cura aos cinco anos, em memória da qual Conde D. Henrique mandou erigir a igreja, quando a “Crónica dos Godos”atesta que este faleceu quando o filho tinha apenas dois anos. Por fim, há quem negue que Egas Moniz tivesse sido senhor destas terras e que D. Afonso Henriques aqui tivesse permanecido.

Argumentos a favor
O Dr. Joaquim Correia Duarte rebate estes argumentos com base em vários dados de que se enumeram brevemente os seguintes.
Em primeiro lugar, convém realçar que ninguém apareceu até hoje a negar a deficiência. Quanto à passagem a escrito do eventual milagre, é bom recordar que, nos primeiros tempos da nacionalidade, não havia os chamados cronistas do reino. O primeiro a surgir foi Fernão Lopes, que se incumbiu de tal tarefa por ordem de D. Duarte, datada de 19 de Março de 1434. De qualquer forma, nada nos garante que tivesse havido um relato escrito, tendo-se perdido com o tempo. Convém, no entanto, realçar que muito do que sabemos sobre os primeiros tempos da nossa história foi pela via dos nobiliários, hagiógrafos e cronicões do século XIV e cronistas dos séculos XVI e XVII. E quanto ao crédito que devem merecer, a questão deve ser ponderada. Na verdade, há relatos de exageros e inverdades, mesmo por parte dos “cronistas por ofício”. O facto de serem remunerados e, por vezes, cumulados de honrarias propiciava descrições não correspondentes aos factos. Contudo, há que separar o trigo do joio. Alexandre Herculano confiou, por exemplo, na obra de Frei António Brandão, historiador de Alcobaça da era de seiscentos, a quem chamou “um ilustre restaurador da história pátria”, servindo-se dos seus documentos para redigir a sua História de Portugal. O mesmo não aconteceu com Bernardo de Brito, cuja obra caracterizou de “altamente ridícula”. Ora, António Brandão refere-se ao “milagre de Cárquere”, citando duas antiquíssimas “Comemorações” em louvor de D. Afonso Henriques, que ele próprio teve em mão: uma, escrita em pergaminho, tendo-a visto no Mosteiro de Lorvão, e a outra no Mosteiro de Alcobaça. E estes Mosteiros não tinham qualquer interesse em forjar o milagre, já que nada tinham a ver com Cárquere. E importa perguntar: Como é que em Lorvão e Alcobaça se sabia do “milagre” tantos anos antes de ser “inventado” pelos cronistas?
Por sua vez, a questão das datas tem de ser relativizada, pois não é credível que o Conde D. Henrique confiasse as tarefas e responsabilidade nem transmitisse as recomendações, constantes do Nobiliário de D. Pedro e das Crónicas Breves de Santa Cruz de Coimbra, a uma criança de dois anos e, ainda por cima, doente e incapaz. Aliás as contradições dos investigadores relativamente a alguns aspectos da vida do nosso primeiro rei são frequentes, designadamente a data e o lugar do seu nascimento.
Quanto à estadia de D. Egas Moniz na região de Ribadouro, há alguma unanimidade a este respeito, pois possuía aqui grandes bens patrimoniais e parece ter dominado várias revoltas da população árabe na zona de Lamego, o que lhe terá valido a confiança do Conde e da mulher e um papel ímpar na corte. Esta relação de amizade poderá justificar a responsabilidade e o papel de aio do príncipe herdeiro.

Infanticídio e troca de crianças
Esta é uma hipótese muito difundida pelo país para contradizer o milagre, sendo aceite por muita gente. Tem origem num artigo de Santana Dionísio, escrito n “O Primeiro de Janeiro” de 12 de Janeiro de 1969, onde o autor sugere que o príncipe deficiente foi eliminado, tendo sido substituído por um filho saudável e robusto de Egas Moniz. O suposto milagre de Cárquere teria sido apenas uma invenção ardilosa para encobrir este facto. Esta versão foi suavizada, falando-se actualmente de uma troca de crianças, ficando D. Egas Moniz com uma criança enfermiça e o Conde D. Henrique com uma outra forte e saudável.
Esta hipótese não está documentada nem tem atrás de si qualquer tradição. Nem parece consistente. A honestidade e a honradez de Egas Moniz e do Conde D. Henrique não são compatíveis com a troca de crianças e muito menos com o infanticídio. Além disso, como explicar a inexistência de reivindicações de poder por parte de outros filhos do Conde D. Henrique e o silêncio de D. Teresa na batalha de S. Mamede, sabendo que o responsável da revolta não era filho do casal?

Onde está o milagre?
O Dr. Joaquim Correia Duarte refere na sua comunicação que ninguém pode afirmar nem ninguém pode negar o milagre. Todavia, os argumentos a favor, em seu entendimento, são mais credíveis, embora não existam documentos nem provas irrefutáveis. A sua opinião é a de que “pode não ter havido um milagre assim tão claro, tão aparatoso, tão radical e tão rápido; pode e deve haver ampliação e exagero, tanto no que aconteceu como no modo como as coisas ocorreram, mas alguma coisa se passou, e muito séria, e com isso se relaciona Cárquere, a sua Igreja e o seu Mosteiro”.
Embora se desconheça o alcance e a natureza da enfermidade, a envolvência religiosa, a auréola do local e a eventual fama de ocorrências extraordinárias propiciavam condições e criavam mecanismos para a cura de pequenos e grandes males. Qualquer transformação e acontecimento inexplicado eram interpretados, à luz da mundivisão religiosa de então, como milagre, que o tempo ajudava a colorir e a ampliar de alguns pormenores fantásticos. A realidade não é objectivável. Os dados e os fenómenos só são passíveis de interpretação. O facto de abruptamente o príncipe ter começado a andar, a ter acontecido, seria hoje explicado “cientificamente” na base de mecanismos psicológicos. Para quem tem fé, contudo, independentemente dos contributos e das explicações da ciência, determinados acontecimentos, pelas suas características extraordinárias e pelas alterações inesperadas na vida das pessoas, podem sempre ser vistos como milagres ou antes como sinais reveladores da intervenção divina.
Em síntese, para além do que realmente se terá passado (e “alguma coisa se passou, e muito séria”), Cárquere consubstancia no plano simbólico o arranque da nacionalidade, com os “primeiros passos” de D. Afonso Henriques.

Nota: Este apontamento segue de perto, por vezes quase literalmente, a comunicação Santa Maria de Cárquere, em Resende: A “cura milagrosa” do nosso primeiro rei e os “primeiros passos” da nossa História, apresentada pelo Dr. Joaquim Correia Duarte à Academia Portuguesa de História, em 9 de Abril de 2008, cujo texto (sem a extensa bibliografia) está disponível neste blogue.

*Apontamento de minha autoria, publicado no Jornal de Resende, em Maio de 2008

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Luzes e sombras na Igreja de Lamego

(Conferência proferida pelo Pe. Dr. Joaquim Correia Duarte, no Auditório do Museu Diocesano, em 17 de Novembro de 2008, inserida no programa da celebração das Bodas de Ouro da Ordenação Sacerdotal de D. Jacinto Tomás Botelho)
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Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo
Senhor Vigário Geral e restantes membros da Comissão Organizadora desta honrosa efeméride que nos reúne e rejubila nestes dias
Senhor Presidente do Cabido
Senhores Cónegos da Catedral
Reverendíssimos colegas
Senhores Representantes da Comunicação Social
Minhas senhoras e meus senhores

Para celebrarmos condignamente as bodas de ouro sacerdotais do nosso estimado bispo, convidou-me o senhor Vigário Geral, em nome da ilustre Comissão Organizadora a que preside, para dizer umas palavras sobre a história da diocese e da cidade. Saúdo suas excelências e agradeço a confiança que em mim depositaram.
Antes de lhes darmos início, desejo expressar publicamente o meu respeito e veneração ao senhor D. Jacinto Tomás Botelho, saudá-lo pessoalmente neste lugar especialmente honroso e repleto de memórias para tantos que aqui sonharam, estudaram e sofreram (agruras do clima, faltas de espaço e carências de bens) e agora magistralmente renovado no aspecto e nas funções, e augurar a Sua Ex. cia Rev.ma uma benéfica e longa vida e a continuação de um profícuo e prolongado exercício pastoral.
Ao senhor Dr. José Dias Gabriel, quero manifestar a minha enorme gratidão por ter vindo de Resende aqui, nesta fria noite de Outono quase Inverno, esquecendo os seus problemas de saúde, para fazer a esplendorosa apresentação deste humilde servo de Deus, que todos acabamos de ouvir. È uma honra muito grande ser apresentado por uma das personalidades mais ilustres de Resende e um dos melhores e mais leais amigos, com uma invejável folha de serviços à comunidade no âmbito social, na vida pastoral e litúrgica e no campo da educação da juventude, e com um currículo que eu próprio gostaria muito de possuir.
O que disse a meu respeito, relaciona-se mais com a amizade com que faz o favor de me brindar do que com a verdade de mim e da minha existência.
Bem haja por tudo.

Aos presentes nesta assembleia tão selecta e tão distinta, que saúdo também cordialmente, peço a caridade de me ouvirem com tolerância e paciência se o não fizerem com prazer ou com agrado, e a bondade de me perdoarem com clemência e fidalguia se não corresponder de algum modo ao que de mim e da minha intervenção esperam provavelmente. Quem pouco tem, pouco pode dar. Só mesmo boa-vontade.
Previno-os de que nada, ou quase nada, vão ouvir de novo. O que vou dizer não é fruto inteiro da minha investigação pessoal nas escuras salas dos arquivos, mas apenas da consulta de bibliografia relacionada com o tema, desde Rui Fernandes e Manuel Fernandez que viveram no século XVI, a Joaquim de Azevedo que escreveu a primeira História da Cidade e da Diocese em finais do século XVIII, ao Cónego João Mendes que escreveu a “Memória Chronológica” dos Prelados de Lamego até 1789, e ao grande Gonçalves da Costa, nosso contemporâneo e amigo, com quem a diocese e a cidade contraíram grande dívida. O trabalho de investigação histórica é tão esgotante e cansativo que não tem preço, pouca gente tem a coragem de o assumir e abraçar, e raramente existe alguém de fora que o saiba avaliar, reconhecer e agradecer condignamente.

Excelência Reverendíssima
Minhas senhoras e meus senhores
Queridos ouvintes

As instituições deste mundo são como seres humanos que nele habitam: nascem, crescem, atingem o maior vigor, entram em declínio e acabam por morrer depois, aos poucos.
Com o sol - o astro que ilumina o mundo e dá vida e pão a todos, a estrela que centraliza o universo e é sempre a esperança do amanhã - acontece o mesmo em cada dia: espreita cada madrugada atrás dos montes, eleva-se na amplidão do firmamento, afirma-se nas cumeadas da abóbada etérea que nos envolve, alumia e acalenta toda a terra que é enorme, dá alegria e bem-estar aos animais, abre carinhosamente a corola das flores do campo e as pétalas perfumadas das rosas dos jardins, faz cantar as aves e os insectos, clareia as estradas e os caminhos dos homens, inunda os mares de brilho e de fulgor, tinge de verdura encostas e montanhas, amadurece e faz gostosos e belos os frutos dos vergéis e dos pomares e, mais tarde um pouco, sem resistência visível ou lamentação palpável, descai em direcção ao poente, e não demora a expirar e a morrer em horizontes de negrume, em crepúsculos de sangue e em radiações de dor e de saudade.

Por ser de instituição divina, a nossa Igreja, nascida do querer e do amar de Cristo, só difere das demais instituições porque não morre. Nunca morre.
-Pedro, - afirmou o Fundador ao líder que escolheu -, eu te digo: nem as forças do Inferno destruirão esta Igreja que te entrego e deixo aos teus cuidados!
Já Herculano dizia no seu tempo: “é certo, sabido e claro para os seus membros que a Igreja é perpétua e indestrutível…mas, por que fases terá de passar (…) nem a Igreja, nem eu, nem você sabemos”. [1]
Morreram os reinos; feneceram os sistemas; tombaram os impérios. Muitas forças quiseram destruir a Igreja de Jesus. Homens a desejaram matar. Poderosos a tentaram aniquilar. Mas a Igreja está aí, viçosa, cheia de vida e de força, implantada em todo o mundo: una, santa, católica e apostólica.
Não sendo uma instituição igual às outras, por ser divina, por ser eterna, gloriosa e universal, por ter um fundador que é o “Filho do Deus Vivo”, não segue o percurso das demais: nasceu e cresceu como as outras, mas não tem ocaso e morte como as congéneres.
Tal não quer dizer porém que, no seu longo percurso de quase dois mil anos, ela tenha passado imune de tristezas e de dores, não tenha sofrido doenças que pareciam incuráveis, não tenha passado por enormes e longas crises, que não tenha sido encoberta por escuras, pesadas, e até vergonhosas manchas de pecado, e que não tenha sido causadora de escandalosos e hediondos procedimentos. A pedofilia de alguns membros do clero americano e australiano, que obrigou o nosso tão querido Santo Padre à humilhação de ter de pedir desculpa às vítimas inocentes, diante dos holofotes dos “media” do mundo inteiro, é a mais recente edição de uma Igreja manchada e denegrida.
A razão é simples, óbvia e fácil de entender: instituída por um Deus, ela é constituída por homens. Homens pecadores.
A Igreja, que aponta para ideais de santidade e aspira pelos bens celestes, vive numa aurora permanente: todos os dias tem novos filhos, e todos os dias se renova a si e informa o mundo na Fé e na Esperança. Tal como a aurora, ela anuncia sempre que já passou a noite mas ainda não mostra o esplendor do novo dia. Essa a razão porque a Igreja é feita de luz e de trevas ao mesmo tempo. Nós próprios, os seus membros de cada tempo e de cada lugar, já praticamos algumas obras de luz mas ainda estamos marcados por muitos rastos de negrume e escuridão. Como diz o Profeta, todos cometemos ainda muitas faltas.
Quando S. Paulo dizia que “ a noite passou” não acrescentava que o dia já chegara, mas antes, que já se aproximava. Quem assim fala, o que pretende dizer é que a comunidade cristã se encontra sempre em aurora, situação intermédia entre as trevas escuras da noite e o alvor radiante e fagueiro do sol que vai chegar.
Seria interessante fazer um apanhado das glórias e triunfos e também das derrotas e fracassos da Igreja Universal. Sem dúvida que seria. Mas, o que me foi encomendado foi um texto simples sobre as luzes e sombras da Igreja de Lamego.
Vamos então a isso.

A maior glória de Lamego (cidade e arredores) esteve sempre, e continua a estar, na sua diocese. Foi o que sempre teve e, ainda hoje, é o que tem. A grandeza monumental da cidade, o que esta tem de bom para mostrar a quem quer vê-la (excluindo obviamente os arranjos de beleza que a natureza aqui compôs e as obras que os homens recentemente materializaram) é quase só o que a Igreja nela ergueu e construiu.
Gloriosa foi a instituição da diocese; fulgente e assinalável a sua antiguidade.
A diocese foi referenciada a primeira vez no Concílio de Lugo, em 568. No 1º Concílio de Braga, reunido em 561, ainda constavam apenas as dioceses de Coimbra e de Viseu. As actas do 2º Concílio de Braga, celebrado em 572, já foram assinadas por Sardinário, Bispo de Lamego: “Sardinarius, Lamecencis Ecclesiae Episcopus, his gestis subscripsit.”[2] Donde se conclui que a criação da diocese terá acontecido entre os anos 561 e 568 (ainda em tempos de domínio Suevo e antes da assimilação desse povo pelos Visigodos que só terá acontecido em 585), e é uma das cinco ou seis dioceses mais antigas do país, acrescendo a tal glória, o facto de se manter ininterrupta desde então, até aos dias que hoje partilhamos.

Falando de antiguidade, não é de modo algum para omitir a informação de que, no “Parochiale” da igreja suévica, conhecido por “Divisio Theodimiri”, tendo como referência o ano 569, vem mencionada a diocese de Lamego com seis grandes paróquias ou circunscrições, do modo seguinte: “Ad Lameccum, ipsum Lamecum, Tuentica, Aravoca, Cantabriano, Omina, Camianos”. [3]
Esta informação dá-nos ainda uma ideia da grandeza geográfica da diocese nesses recuados tempos: sendo limitada a norte pelo rio Douro, estendia-se desde o rio Côa até à margem esquerda do rio Arda. Confrontada de sul pela diocese de Viseu no curso do Paiva, incluía a poente a grande “parochia” de Aravoca que, já em tempos nacionais, abrangia as terras de Arouca e de Paiva.

Quando os Árabes conquistaram a cidade, em finais do século VIII, Lamego era uma das principais cidades episcopais do território peninsular. Situada nas proximidades da linha estratégica do Douro, a cidade e os arredores sofreram durante 400 anos o martírio repetido de conquistas e reconquistas, mudando constantemente de mão e de senhores e sofrendo destruições inimagináveis na agressividade dos ataques e na teimosia das defesas. Haja em vista a destruição total da cidade em 987, com a vinda do terrível Almançor.
Durante séculos, pelo motivo referido e apesar de ser cabeça de importante diocese, Lamego não teve bispo, oficialmente. Ou antes, tinha bispo, mas, por não haver garantia de segurança, vivia na Galiza e nas Astúrias. [4]

Quando, ao amanhecer do dia 29 de Novembro de 1057 – um Sábado e dia de S. Saturnino – Fernando Magno, rei de Leão, reconquistou definitivamente a cidade aos mouros, [5] terá pensado recuperar de imediato a diocese mas, por ser tão escassa a população cristã, terá deixado essa tarefa a seus filhos D. Elvira e D. Sancho. Efectivamente, numa doação de D. Elvira em favor do Bispo de Lugo, assinada em 29 de Julho de 1071, diz-se textualmente: “cumprindo os desejos de seu pai, seu filho Sancho aprestou Pedro como Bispo de Braga e outro Pedro como Bispo na Sé de Lamego”[6].
Tudo leva a crer, porém, que D. Pedro não passou de um Bispo titular e que nunca residiu em Lamego, porquanto, pelo menos até 1147, por razões que se prendem com o despovoamento e a pobreza destas terras depois da Reconquista e também com a reduzida extensão de Coimbra onde a reconquista parara por algum tempo, a diocese esteve sob a jurisdição do bispo dessa cidade. Tal situação é-nos confirmada por dois interessantes documentos que encontrei nas minhas deambulações pelos arquivos: No primeiro, da colecção “Portugaliae Monumenta Histórica”, e com a data de 1099, os senhores padroeiros da Igreja de S. Miguel de Anreade fizeram doação da mesma ao Mosteiro de S. João de Alpendurada, dizendo que assinavam o documento “por consentimento e ordem de D. Ero, arcediago da Sé Lamecense”. [7] No segundo, da colecção “Documentos Medievais Portugueses” e do ano 1102, duas senhoras irmãs legaram por disposição testamentária vários bens que possuíam em Louredo, na Terra de Aregos, “junto das águas quentes, à beira do Rio Douro, sob o Monte Gerônzo, no território e diocese lamecense”. Neste caso, as senhoras declararam que fizeram tal legado em 21 de Maio de 1140 (1102 da era cristã), “nos dias do rei Afonso (Afonso VI, pai da Condessa D. Teresa), e de Maurício (Burdino) glorioso e venerável Bispo das Igrejas de Coimbra, de Viseu e de Lamego”[8]
Daqui se conclui que, tanto Lamego como Viseu funcionavam como dioceses e tinham a sua catedral, mas eram administradas pelo Bispo de Coimbra que, para o efeito, nomeava e tinha, em cada uma, um administrador como seu delegado e representante.
D. Paterno, Bispo de Coimbra, eleito em 1080, instituiu junto à sua catedral um colégio de clérigos regulares sob a regra de S. Agostinho e, desse colégio, saíam os administradores, priores, “arcediagos” ou “ecónomos” para as dioceses anexas. D. Hero, que vem referenciado no citado documento relativo à igreja de Anreade, foi o segundo arcediago ou administrador da nossa diocese, por ordem cronológica.
Gonçalves da Costa diz-nos que os tais arcediagos ou ecónomos, ao chegarem a Lamego, encontraram na margem direita do rio Coura (então ainda arrabalde da cidade amuralhada), uma capela dedicada a S. Sebastião, à volta da qual de se congregava uma comunidade moçárabe depois da destruição da igreja de S. Salvador do Castelo, e aí estabeleceram uma colegiada segundo o modelo e a Regra da de Coimbra, onde os clérigos faziam vida comum, colegiada que o mesmo Gonçalves da Costa considera “o núcleo do futuro Cabido da catedral”. [9]
Bispo próprio e residencial, só veio a sê-lo D. Mendo, sagrado na catedral de Coimbra por volta de 1147, embora eleito 3 ou 4 anos antes. Conquanto na “Crónica Geral de Espanha” se diga que o Conde D. Henrique restaurou as Sés de Viseu, Lamego e Porto, dando-lhes bispos próprios sagrados pelo Bispo de Toledo, na qualidade de Primaz das Espanhas, e Duarte Galvão, na sua “Chronica de El-Rei Don Afonso Henriques” afirme o mesmo, [10] parece que foi sob a influência de D. Afonso Henriques e por ocasião do Tratado de Zamora (um ano antes, um ano depois) que a diocese foi definitivamente restaurada com a nomeação de um bispo residencial. No Códice “Pequenas Crónicas de Santa Cruz de Coimbra” diz-se textualmente: E elle avia nome dom Mendo e foi elleto bispo de Lamego”. [11] Joaquim de Azevedo chega a assinalar a presença de D. Mendo nas famigeradas e muito discutidas Cortes de Lamego que, a serem verídicas, teriam acontecido em 1142.[12]
Do que acaba de ser dito se pode concluir que, desde a sua longínqua fundação (seguramente anterior ao ano 572), com a sombra de não ter tido bispo residencial no longo período de 350 anos, desde a invasão árabe até à fundação de Portugal, a diocese se manteve canonicamente viva, apesar de acéfala por falta de bispo próprio ou por ter o seu bispo na diáspora ou no exílio.
D. Manuel Fernandez, no seu opúsculo “Summaria Recapitulaçam da Antiguidade da Sé de Lamego”, publicado em Lisboa em 1590, diz textualmente:”Posto que esta Sé ficasse deserta, sem pastor, sem ovelhas, sem offícios divinos, todavia nunqua deixou de continuar o nome do bispado e bispos de Lamego, e sempre delle ouve prelados titulares ou de anel”. [13]

Falando primeiro das luzes e glórias da igreja diocesana, e seguindo a linhagem dos bispos que depois de D. Mendo administraram a diocese, com base na biografia que dos mesmos fizeram D. Joaquim de Azevedo e o Cónego Mendes em finais do século XVIII, permitam que eu afirme sem grandes dúvidas que a maior glória da diocese e da cidade esteve sempre nos seus bispos.
Augusto Dias, meu conterrâneo, escrevia em 1947: “…em todos os momentos de crise, Lamego encontrou sempre nos seus Prelados um baluarte para a defesa dos seus legítimos interesses”. [14]
Entre todos, como exemplos de virtude e de caridade para com os pobres, deixem-me destacar D. Agostinho Ribeiro que viveu no reinado de D. João III, e D. Luís de Sousa que foi bispo de Lamego nas últimas décadas do século XVII. O primeiro foi frade de hábito azul celeste no antiquíssimo Mosteiro de S. Jorge de Recião em Várzea de Abrunhais (que mais tarde se mudaria para o lugar de Santa Cruz) e 1º Reitor da Universidade Coimbra quando o citado rei a transferiu da cidade de Lisboa.
Nomeado Bispo de Lamego, veio montado numa mula que o rei lhe dera. Logo que chegou, vendeu a mula e deu o preço aos pobres da cidade. Sabedor do caso, o rei mandou-lhe outra mula e ele vendeu-a também, o que levou D. João III a comentar: “Quantas mulas vender D. Agostinho, tantas outras lhe hei-de mandar; os pobres correm por conta dele, e ele por conta do rei”. [15] Toda a sua biografia se resume num infatigável serviço à Igreja e ao País e numa exemplar dedicação aos pobres e aos doentes em todos os lugares onde serviu. O segundo, conselheiro privado do rei D. Pedro II, passou por Lamego com uma inteligência fulgurante para ensinar, uma mão firme para tudo disciplinar e um coração sempre aberto para a todos ajudar. Nomeado em 1675 embaixador de Portugal em Roma pelo monarca, deixou uma diocese banhada em lágrimas na sua saída e envolta em luto pela sua ausência.
Exemplos de caridade e de dedicação ao povo da diocese, com risco da própria vida, houve muitos outros bispos que seria fastidioso e cansativo enumerar. Cito apenas quatro: D. António de Vasconcelos e Sousa que governou a diocese em finais do século XVII e dedicou a sua vida inteira à oração e à penitência, a visitar as paróquias, a evangelizar os fiéis, a corrigir os maus costumes e a consolar e a socorrer os deserdados da sorte; D. Manuel de Vasconcelos Pereira que, no terceiro quarto do século XVIII, foi um verdadeiro pai dos pobres da cidade e da diocese; D. Fernando Meneses Coutinho e Vasconcelos que viveu no século XVI, sempre preocupado com a educação da fé dos seus diocesanos, a ponto de pôr mestres e cartilhas de catequese em todas as igrejas da diocese, conseguindo que todas as crianças soubessem recitar a Ave - Maria, o Pai - Nosso, o Credo, a Salve-Rainha, os Mandamentos, e também ajudassem à Missa; e D. António da Trindade que, em 1868, por ocasião de uma grande epidemia, andou de porta em porta pela cidade a mendigar ajudas para instituir o “Asilo de Infância Desvalida de Nossa Senhora dos Remédios”.
Houve bispos que foram grandes construtores, dos quais parece justo destacar: D. Fernando Coutinho e D. Manuel de Noronha que viveram no século XVI; D. Manuel de Vasconcelos Pereira que governou a diocese no início da segunda metade do século XVIII; D. João António Binet Píncio que veio para Lamego nos finais do mesmo século; e D. João da Silva Campos Neves que governou a diocese de 1948 a 1971, e ainda está na lembrança da grande parte dos presentes.
A D. Manuel de Noronha deve-se a fundação das três capelas dos claustros da Sé (a de S. Nicolau para nela funcionar um Colégio de 8 clérigos destinado à formação dos futuros padres e que podemos considerar o gérmen do futuro seminário diocesano), a ampliação da torre da Sé, a colocação do órgão na mesma Sé, a construção das capelas do Espírito Santo e da Senhora dos Meninos, e ainda a de Santo Estêvão, no monte do mesmo nome, antecessora do Real Santuário da Senhora dos Remédios. A D. Fernando Coutinho, vários melhoramentos na Sé, a reconstrução do Paço Episcopal, de raiz, e todo o arranjo do amplo Rossio que lhe está em frente. A D. Manuel de Vasconcelos Pereira, as últimas intervenções de vulto no grandioso Paço Episcopal, a inauguração e sagração definitiva da nossa Catedral e o apoio às grandes obras do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios e do seu escadório monumental, a substituir a Capela de Santo Estêvão que ali fora ali erguida por D. Manuel de Noronha em meados do século XVI e consagrada pelo mesmo bispo a Nossa senhora dos Remédios, com imagem que mandou vir de Roma. A D. João António, a construção do primeiro Seminário e a sua corajosa intervenção na defesa do povo da cidade quando, na tarde do dia 21 de Junho de 1808, com risco da própria vida, se dirigiu ao Relógio do Sol para impetrar a clemência de Loison, o general que comandava as tropas francesas vindas da Régua e prontas para invadir e saquear as igrejas e as casas de Lamego. A D. João da Silva Campos Neves, a ampliação do Seminário de Resende, e a construção do novo Seminário de Lamego e da Casa de Retiros de S. José.
Grandes figuras da história nacional, os Bispos D. Miguel de Portugal e D. Tomás de Almeida. O primeiro administrava Lamego em Dezembro de 1640, quando, na capital do país, se deu a Restauração da nossa independência. Chamado a Lisboa com urgência, foi encarregado pelo novo rei, D. João IV, de defender em Roma os interesses do Reino e de conseguir da parte do Papa o reconhecimento da Independência de Portugal. O segundo, nomeado bispo de Lamego por D. Pedro II, em 1706, transferido para o Porto três anos depois, foi nomeado o primeiro patriarca de Lisboa sete anos mais tarde, vindo a falecer na capital em 1754, como cardeal da Santa Igreja.

Se quisermos agora destacar como momentos luminosos e acontecimentos marcantes na vida da diocese depois da sua fundação, poderemos seleccionar os seguintes, em forma de listagem resumida e seguindo uma ordem mais ou menos cronológica:
1).—A restauração da diocese após a reconquista Cristã, em 1071, como acima se disse.
2).---A fundação do ermitério de S. Pedro das Águias, em Tabuaço, no século XI, sob a Regra do Patriarca S. Bento e a adesão dos seus monges à Regra de Cister e à obediência de Claraval, nos finais do século XII.[16]
3).---A nomeação de D. Mendo como bispo residencial, sagrado em Coimbra em 1147, depois de 350 anos de domínio árabe em que os bispos de Lamego estiveram exilados nas Astúrias e depois dos 90 anos em que a diocese esteve anexa à de Coimbra.
4).---A sagração da Igreja do Mosteiro cisterciense de S. João de Tarouca pelo Bispo D. Mendo, em 18 de Maio de 1169 e o início da construção da Igreja do Mosteiro de Salzedas, em 20 de Janeiro de 1168, após a criação do Mosteiro por D. Teresa Afonso, mulher de Egas Moniz de Ribadouro.[17]
5).---O início da construção da catedral que hoje temos, e que, segundo parece, teria acontecido ainda em vida do nosso primeiro rei, ou pouco depois, no sítio onde já existia uma antiquíssima capela dedicada ao mártir S. Sebastião, na margem direita do Rio Coura, como atrás ficou dito, e em substituição da igreja do SS. mo Salvador do Castelo, que teria sido a primitiva catedral.
Efectivamente, no seu precioso testamento, assinado em Fevereiro de 1179, D. Afonso deixou em depósito, no mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, 22 mil maravedis destinados aos pobres do Reino, aos mosteiros e às obras das catedrais de diversas dioceses, incluída a de Lamego, que contemplou com a quantia de 500 maravedis.[18]
A catedral, depois de passar por inúmeras intervenções ao longo de toda a Idade Média e Moderna, com destaque para a intervenção principal decidida pelo Cabido em 7 Outubro de 1734, com ideias e sugestões do famoso Nazoni, e projecto de António Pereira, estando a diocese então sem Bispo por falecimento de D. Nuno Álvares Pereira de Melo, viria a ser definitivamente inaugurada e consagrada por D. Manuel de Vasconcelos Pereira de Melo, em 20 de Novembro de 1776. [19]
6).---A construção de inúmeras Igrejas Românicas na diocese, (com destaque para a raridade da de S. Martinho de Mouros por fugir aos modelos galegos e provençais e apresentar formas de inspiração italiana) todas porém de uma beleza arquitectónica notável - verdadeiras jóias nacionais - relíquias e sinais de um enorme desenvolvimento da vida cristã nestas paragens, nos primeiros tempos da nossa história.
7).---A celebração do primeiro Sínodo Diocesano, convocado pelo Bispo D. Mendo, em 1171 (na linha das Cortes que os monarcas costumavam reunir de vez em quando), para ouvir as sugestões dos representantes da diocese e se elaborarem as normas disciplinares por que a mesma se devia reger. Depois deste, o Sínodo de 1194, quando era bispo de Lamego D. João I; o de 1252, no reinado de D. Afonso III, quando era bispo da diocese D. Egas Pais; o de 1368 convocado pelo Bispo D. Lourenço; o de 1561 sendo bispo D. Manuel de Noronha, para se aplicarem na diocese as determinações do Concílio de Trento; o de 1639 convocado por D. Miguel de Portugal; e por último, a comemorar os centenários do de D. Miguel, o sínodo celebrado em 1953, por convocatória de D. João da Silva Campos Neves.[20]
8).---Notável, a posição de Lamego e do seu bispo D. Lourenço quando, em 1378, se deu o “Cisma do Ocidente”, com um Papa em Roma e outro em Avinhão. Lamego, com Braga e Porto, obedeceram sempre ao Papa de Roma, no caso Urbano VI, quando todas as demais dioceses prestaram obediência a Clemente VII, de Avinhão. [21]
9) ---De realçar o apoio que o Bispo de Lamego, D. Lourenço, deu ao Mestre de Aviz na Crise Política de 1383/85, abraçando a causa nacional contra Castela, acompanhando-o na sua entrada em Coimbra, jurando-lhe fidelidade nas Cortes, assinando as actas das Cortes em 3º lugar e celebrando na Sé uma solene pontifical de acção de graças. [22]
10).---De referir que os primeiros Estatutos do Cabido da Catedral foram promulgados em 1223 pelo Bispo D. Payo Furtado, natural de Soutelo do Douro. Nesses estatutos, que vieram a ser confirmados em 1276 pelo Bispo D. Gonçalo e, em 1514, por D. Fernando de Meneses Coutinho de Vasconcelos, sobrinho do rei D. Manuel I, ficou estabelecido que o número de cónegos não ultrapassasse os dezoito.[23]
O quadro do cabido viria a ser fixado posteriormente por portaria de 25 de Outubro de 1886, do Ministério da Justiça, e, a pedido de D. João da Silva Campos Neves, pela Santa Sé, em 15 de Junho de 1953, fixando-o em 12 cónegos (sendo 4 dignidades e 8 cónegos) e dois beneficiados. [24]
10).---De referenciar as primeiras Constituições Diocesanas, promulgadas por D. Manuel de Noronha na sequência de um Sínodo, em 8 de Setembro de 1561, e impressas em Coimbra dois anos depois. Antes destas, consta que teriam existido outras – as primeiras, segundo parece – do tempo de D. Fernando Coutinho, no princípio do século XV, mas que nunca chegaram a ser impressas. Depois das de D. Manuel de Noronha, conhecem-se as Constituições de D. Miguel de Portugal, de 1639, impressas em Lisboa em 1683 por ordem do Bispo D. Luís da Silva, e, já em nosso tempo, as Constituições de 1953, promulgadas por D. João da Silva Campos Neves, em 8 de Setembro do mesmo ano.
11).---Engrandecimento para a diocese, a ampliação do seu território – então chamado “Bispado Novo” – com a anexação do distrito de Riba Côa (antes incluído na diocese de Cidade Rodrigo), em 4 de Julho de 1403, a pedido do rei D. João I e da rainha D. Filipa de Lencastre, distrito que viria a perder de novo em 1733, com a criação da Diocese de Pinhel. [25] Quando, em 1882, foi extinta a diocese de Pinhel, Lamego apenas acabou por recuperar as 17 freguesias da Meda e as 15 do Concelho de Vila Nova de Fozcoa. [26]
12).---De não esquecer, a grandeza e a excelência dos Bispos do Renascimento (séc. XVI), com especial destaque para D. Fernando de Meneses Coutinho e Vasconcelos e D. Manuel de Noronha, a quem se deve a maior parte do riquíssimo património arquitectónico da cidade na sua grandiosidade monumental, bem como quase todo o riquíssimo recheio da Sé e do antigo Paço Episcopal, agora a servir de Museu.
13).---De referir, os numerosíssimos Mosteiros e Conventos implantados na cidade e disseminados pela diocese: para além das grandes abadias cistercienses de Salzedas, S. João de Tarouca e S. Pedro das Águias, a que atrás me referi, o Convento de Santa Cruz, dos padres Lóios, construído em 1596 em substituição do antiquíssimo Mosteiro de Recião onde os mesmos frades estavam sedeados desde 1438, na sequência da extinção de um outro convento, de freiras de S. Bento, ali fundado por D. Dórdia Ordoriz, por volta do ano 1140; [27] o Convento de S. Francisco, hoje reduzido quase só à sua igreja depois de terem transformado o convento em Hospital Militar e de terem vendido a Cerca. Os Religiosos da Primeira Ordem encontram-se no actual convento desde a década de 60 ou 70 do século XII. Antes, moravam em Fafel, no lugar que ficou conhecido por “Campo dos Frades”. Algum tempo antes, em meados do século, já tinham estado em Lamego, nas casas do Porto Cavalar situadas nas margens do Coura, algumas Religiosas de Santa Clara, que entretanto, se mudaram para Santarém; [28]o Convento de S. Agostinho ou dos Gracianos aqui instalado em 1630, e do qual apenas resta hoje a Igreja da Graça e o edifício da Câmara Municipal, aí construído em 1884 em substituição do antigo Convento, demolido para o efeito; o Convento das Chagas, de freiras de Santa Clara, fundado pelo Bispo D. António Teles de Meneses, em 1588, em louvor das Cinco Chagas de Cristo.
De referir ainda na cidade a antiquíssima Ordem de Rocamador, de ermitãos hospitaleiros, com um hospício para leprosos perto do Terreiro da Sé, substituído mais tarde no mesmo local pelo Hospital da Misericórdia - Irmandade instituída em 1519 - edifício do século XVIII com belíssima fachada rococó, hoje Teatro Ribeiro da Conceição; e o Recolhimento de Santa Teresa, na Regueira, fundado no século XVII, onde viviam muitas senhoras de grande virtude, sob a obediência do Bispo da Diocese.
No perímetro actual da diocese e fora da cidade episcopal, são de realçar também: o Mosteiro de Cárquere, dos Cónegos Regrantes de S. Agostinho ou Frades Crúzios, com origem nos primórdios da nacionalidade e entregue aos Jesuítas em meados do século XVI; o Mosteiro de S. Maria da Ermida do Paiva, de origem muito discutida mas seguramente dos princípios do século XII, tendo vindo a morrer em meados do século XV; o Convento de S. António de Ferreirim, dos Frades Menores de S. Francisco, cuja fundação se deve a Francisco Coutinho e a sua mulher, D. Brites, em 1525; o de Tarouquela, em Cinfães, das freiras de S. Bento, dotado com privilégios de couto pelo rei D. Sancho em 1186; o de S. Francisco de Caria, na freguesia da Rua, que terá sido o primeiro da Congregação da Ordem Terceira Regular em Portugal e deve ter sido fundado em 1443 na quinta cedida por um tal Pedro Gil, homem rico e nobre de linhagem e sentimentos; o de S. João da Pesqueira, dos terceiros regulares de S. Francisco, erecto em 1581; o Convento de Tabosa, das freiras descalças da Ordem de S. Bernardo, dedicado a Nossa Senhora no século XVII pela fundadora, D. Maria Pereira; o de Moimenta da Beira, de monjas de S. Bento, fundado pelo Dr. Fernando Mergulhão em finais do século XVI; o Convento de Barrô, da Ordem de Santa Clara, fundado por Mariana da Madre de Deus em 1671, data em que começou formalmente o noviciado; o de Santa Maria das Arcas, das monjas de S. Bento, de origem remota e obscura, onde está hoje a Capela da Senhora das Seixas; o da Senhora da Lapa, onde, a partir de 1575, se instalaram alguns Padres da Companhia de Jesus, para desenvolverem o culto no seu famoso santuário e favorecerem a cultura no seu notável Colégio.
Não podemos deixar ainda de registar a existência de comunidades religiosa de vida comum, em Freixinho, na Granja Nova, em Cedovim, na Ribeira junto a Vila da Ponte, e em Fonseca, S. João de Fontoura.[29]
Não é difícil imaginarmos a grande influência que tiveram todas estas comunidades religiosas no desenvolvimento económico e cultural das populações que as rodeavam e o incremento que deram no crescimento da Fé e da Vida Cristã em toda a diocese.
14).---De anotar, como boa recordação, o aparecimento de inúmeras paróquias novas por toda a diocese ao longo dos séculos XVI e XVII, por um fenómeno de autonomização em relação às grandes paróquias medievais, com a construção de incontáveis igrejas novas e propiciadoras de uma assistência religiosa mais próxima das populações.
15).---Nos séculos XVII e XVIII, é de realçar o enriquecimento das igrejas mais antigas, incluídas as românicas, e a construção de outras novas, com o trabalho dos grandes entalhadores e douradores do barroco, as riquezas que chegavam do Brasil, com excelência para o ouro do sertão e o grande incremento da cultura da vinha e do comércio do vinho, no Douro e na sua região.
16).---Também do século XVIII, a construção do Palácio Episcopal, às ordens de D. Manuel de Vasconcelos que governou a diocese de 1773 a 1786, ampliando uma antiga Casa do Paço já existente no mesmo sítio, e erguendo-lhe uma fachada característica das grandezas desses tempo, com um esbelto portal brasonado e janelões enriquecidos de saiais e de frontões.[30] O enorme terreiro em frente conhecido por Rossio, já fora arranjado em tempos de D. Fernando de Meneses, em 1522, com mudança do leito do rio Coura de junto da Sé para a beira do Hospital (agora Casa do Teatro) e a aquisição de duas propriedades de particulares com que ampliou o enorme espaço. [31]
17).---Dos finais do mesmo século, a construção do primeiro Seminário Diocesano, na margem esquerda do Coura e em frente ao Paço Episcopal, a substituir o antigo Colégio de S. Nicolau que D. Manuel de Noronha erguera no século XVI na margem direita do mesmo ribeiro, para formação dos clérigos da diocese. O novo Seminário, dedicado por D. João António Binet Píncio a Jesus, Maria e Ana, teve os seus primeiros estatutos em 13 de Dezembro de 1800, texto que agora podemos ler a apreciar no interessante livro que senhora Dra. Isolina Guerra acaba de escrever e dar à estampa. [32]
18) – Na segunda metade do século XIX, para revigorar a Igreja e a fé dos cristãos da diocese, abaladas por incontáveis e sistemáticos ataques do racionalismo dos corifeus da época liberal e pelos ódios políticos que dominaram quase todo o século envolvendo também uma grande parte dos ministros do altar, instituíram-se na maior parte das paróquias da diocese as Associações do Apostolado da Oração que vieram reacender entre o povo a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e reanimar a Fé e a vida sacramental nas nossas comunidades. Foram igualmente estas associações que se dinamizaram e quase sempre assumiram o ensino da catequese às crianças, nesses tempos de tanto desleixo por parte do clero na instrução religiosa do povo.
19).---Importantíssimo foi também a benemérita acção educativa de rapazes e raparigas da cidade e da diocese, desenvolvida pelo Colégio da Ortigosa fundado pelo Pe. Lopes Roseira em 1859 e assumido pelos Padres Beneditinos em 1894, pelo Colégio da Imaculada Conceição que iniciou os seus trabalhos em 1927 sob a orientação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras Portuguesas, e os Externatos Diocesanos criados na década de sessenta do século passado em quase todas as vilas da diocese. [33]
20).---De grande interesse para a vida da diocese, a criação do “Boletim da Diocese de Lamego” por D. Francisco Ribeiro de Brito, em 15 de Dezembro de 1915, que foi publicado até 1936 e que podemos considerar o “pai” ou o “irmão mais velho” do actual “Voz de Lamego”.
21).---Grande notícia foi a aquisição da Casa do Poço, em frente à Sé, em 6 de Fevereiro de 1920, para servir de Seminário da diocese, que fora esbulhada do seu antigo seminário pelo governo republicano, em 1911.
22).---Outra grande notícia foi a inauguração e a abertura do Seminário de Resende, em 18 de Novembro de 1928, sob a presidência de D. Agostinho de Jesus e Sousa, nessa data ainda bispo coadjutor de D. Francisco Ribeiro de Brito que, em 1923, se refugiara na sua casa de Rendufinho, em Braga, idoso, doente, desgostoso e cansado.
23).---Marcante e decisivo na vida cristã da diocese, o grande movimento da Acção Católica, instituído em Portugal pelo episcopado português, em 7 de Abril de 1932. Em quase todas as paróquias da diocese, com uma alegria e entusiasmo hoje difícil de imaginar, criaram-se secções de jovens e adultos (agricultores, operários e estudantes). Formados em retiros espirituais exigentes e em reuniões semanais comprometedoras, esses inúmeros militantes da Acção Católica renovaram uma Igreja desgastada por uma república maçónica que tudo fez para matar a Fé em Portugal e trouxeram novo vigor à vivência cristã do povo, com uma espiritualidade séria revigorada numa oração intensa e numa vida sacramental assídua.
O movimento da Acção Católica, moribundo na altura da revolução de Abril, viria a ser de algum modo substituído ou continuado na diocese pelos “Cursilhos de Cristandade” importados de Espanha e introduzidos na diocese em 1964,[34] e pelos “Convívios - Fraternos de Jovens”, nascidos praticamente em Lamego por iniciativa de alguns sacerdotes, em 1971.[35]
24).---Assinalável aquela que terá sido a “idade de ouro” dos seminários diocesanos, em meados do século passado, com estatutos bem definidos, com corpos docentes competentes e dedicados, e cheios de crianças e de jovens desejosos de ser alguém na vida. Do seminário saía todos os anos um numeroso grupo de novos sacerdotes, cheios de garra e imbuídos de altos ideais, cultos e sabedores, dotados de uma grande fé e de um notável zelo apostólico, e também muitos leigos bem formados que deixaram o seminário por não terem vocação para o sacerdócio, mas que vieram a ser verdadeiros luminares na sociedade portuguesa do seu e nosso tempo. E foi também ao clero formado nessa época que a Nunciatura Apostólica veio buscar seis dos bispos mais distintos do país: D. Manuel de Jesus Pereira; D. António Cardoso Cunha; D. Alberto Cosme do Amaral; D. António José Rafael; D. Jacinto Botelho; e D. António Francisco dos Santos.
25).---Relacionados com o êxito dos seminários desses tempos e com esse entusiasmo na vida cristã trazido pala Acção Católica, outras dinâmicas de se desenvolveram nas décadas de 40 a 70 do século passado: as Missões Populares e o Grande Movimento Catequístico. As missões populares, que já vinham do século XIX, e que tanto contribuíram para a educação da fé do povo cristão para o incremento da vida sacramental e até para o florescimento das vocações consagradas, sucederam-se por toda a diocese em meados do século passado, a maior parte das vezes sob a orientação dos Padres Redentoristas. Do grande movimento catequístico dinamizado por uma activo e zeloso grupo de sacerdotes da diocese comandados pelo Cónego José Cardoso, todos ou quase todos nos recordamos ainda. Dedicando à catequese a sua vida inteira, apoiado vivamente pelo bispo D. João da Silva Campos Neves e secundado pelos párocos das paróquias, o diligente sacerdote correu a diocese, uma e outra vez, para formar catequistas e dinamizar as catequeses. Recordamos ainda com saudade os “Congressos Catequísticos” realizados nas sedes dos concelhos, e os célebres “Certames de Catequese”, onde as crianças, representando as paróquias ou os arciprestados, respondiam sobre a Bíblia e o Catecismo, perante enormes e interessadas assembleias regionais.
26).---Verdadeiramente memorável na história da diocese, a vinda da imagem de Nossa Senhora de Fátima, da Cova da Iria, em Agosto de 1950 – o Ano Santo - correndo a diocese de lés a lés, sempre levada a ombros de leigos e sacerdotes, e acompanhada por verdadeiras multidões, de terra em terra, com entrada por Vila Nova de Paiva e despedida em castro Daire. [36]
27).---Por último, vários momentos de glória que ainda recordamos e que a história da diocese registará em letras de ouro: a inauguração do novo e grandioso edifício do Seminário Maior, em 17 de Setembro de 1961 (erguido na quinta de S. Lázaro, doada à diocese por D. Maria Rosa Vaz Medeiros Barbosa por disposição testamentária, em 29 de Novembro de 1926), e da Casa de Retiros de S. José, na Ortigosa, em 1969 - uma e outra obra devida à acção benemérita do grande Bispo que foi D. João da Silva Campos Neves; a Celebração dos Centenários da Diocese, ao longo do ano de 1976 (com exposições de arte sacra e sessões solenes nas sedes de todos os concelhos da diocese e solene celebração na catedral), a primeira celebração do Dia da Igreja Diocesana na Festa de Cristo Rei de 1983, e o Congresso Diocesano de Leigos em 21 e 22 de Novembro de 1987 - três solenes eventos sob o alto patrocínio do bispo D. António de Castro Xavier Monteiro; [37] e a inauguração do Museu Diocesano, em 15 de Novembro de 2008, erguido nas instalações da antiga Casa do Poço, com projecto do Arquitecto Tomás Botelho e bênção do bispo D. Jacinto Botelho, na ocasião em que a diocese celebrava com todo o brilho as bodas de ouro sacerdotais de sua Ex. cia Rev. ma.

Falemos agora um pouco das sombras que escureceram a paisagem da história e de algumas nódoas que mancharam o tecido da existência mais que milionária desta nossa muito querida diocese.
1).— Desde logo, com a conquista e o domínio dos Árabes.
Pelos motivos que atrás referi, a diocese esteve sem bispo residencial durante séculos, com o prejuízo e orfandade espiritual que podemos imaginar.
2).---Referimo-nos atrás à grandeza moral, ao prestígio social e político e á santidade da maior parte dos bispos que pastorearam a diocese ao longo de toda a Idade Média e Moderna. Não se pode porém deixar de referir e evidenciar os enormes problemas das dioceses portuguesas, e também da de Lamego, nesses longos e afastados tempos:
Desde logo, a escolha dos bispos. Eleitos inicialmente pelo clero da diocese depois de consultado o povo sobre o bom nome do candidato, a que se seguia a aprovação dos reis e a confirmação do Bispo da Metrópole a que a diocese estivesse ligada ou subordinada (sistema que já de si era complicado, moroso, e fonte de grandes desuniões), a escolha passou para as mãos do Cabido da Catedral logo nos finais do século XI vindo a consolidar-se o costume ao longo do século XIII, tentando sempre os monarcas influenciar e controlar também essa escolha, de muitas e variadas formas, e principalmente porque era a eles que pertencia o direito de aprovar a eleição feita pelo cabido. [38] A partir de então, e por tal motivo, a sede episcopal passou a ser vista como um benefício mais ou menos rendoso, causador de um intrincado jogo de ambições. Só no século XIV é que a santa Sé chamou a si o direito de provisão das dioceses e da investidura dos bispos, prescindindo mesmo do beneplácito dos reis, mas, neste caso, como a escolha era imposta, o escolhido era muitas vezes contestado e mal aceite pelos Cónegos do Cabido, com todas as consequências que podemos facilmente imaginar.
Este desagradável ambiente, que se prolongou por toda a Idade Média, pese embora a humildade e o desprendimento de alguns bispos exemplares, tornou os servidores da diocese mais administradores de bens e distribuidores de prebendas do que pastores de almas e mestres do Evangelho. No Cabido, as desavenças provocadas pela distribuição de rendas e benefícios, eram também muito frequentes.
Os bispos, salvo raras excepções, por uma razão e por outra, estavam muitas vezes ausentes da sua cátedra. Ao longo dos séculos XV e XVI, eram mais fidalgos da Corte do que bispos de Diocese.
No início da 2ªdinastia em Portugal, as nações da Europa estavam divididas por duas obediências: a Roma ou a Avinhão. Na sequência do “Cisma do Ocidente”, que enfraqueceu gravemente a autoridade papal, os reis portugueses começaram a chamar a si o direito de prover as Sés que íam vagando e, como é natural, proviam-nas com os seus amigos ou apaniguados, mais como recompensa por serviços que deles houvessem recebido do que pelos seus méritos ou qualidades pessoais. Alguns bispos nem se sequer se dignaram vir pessoalmente tomar posse.
No que aos párocos das paróquias diz respeito, como as igrejas medievais eram “próprias”- propriedade dos senhores que as construíam nos seus domínios privados e delas ficavam padroeiros – era aos ditos senhores que pertencia o direito de apresentar o pároco do seu gosto e preferência e, assim sendo, eram escolhidos para as igrejas os sacerdote mais subservientes e não os mais dignos ou capazes. Muitas igrejas não eram servidas pelos párocos, mas por curas ou capelães que os substituíam, recebendo deles uma diminuta compensação. Chegaram até a entregar-se benefícios de igrejas e paróquias a indivíduos não ordenados e até a indivíduos de menor idade.[39]
Aos paroquianos cabia o dever de obedecer aos seus pastores e pagar os “dízimos” e as “primícias” aos padroeiros das igrejas e estes, por sua vez, atribuíam aos párocos uma tença reduzidíssima que consistia apenas na 6ª parte dos dízimos pagos pelos paroquianos.
A tudo isto, acresciam ainda os pesados direitos que os párocos tinham de pagar aos próprios bispos a pretexto de visitações às paróquias, quer pessoalmente quer através dos seus “Visitadores”, e também a “concorrência” que lhes faziam os frades dos mosteiros aliciando os fiéis a sacramentar-se e a enterrar-se nas suas igrejas e a destinarem os seus legados à sua Ordem. [40]
Por outro lado, a deficiente formação dos párocos e a falta de motivação para um serviço de qualidade no pastoreio do rebanho, acompanhadas da pobreza, do atraso cultural e da generalizada iletracia dos fregueses e bem assim a enorme distância a que se encontravam das igrejas e a falta de vias de comunicação seguras e minimamente confortáveis, fazia com que os fiéis desses recuados tempos ignorassem gravemente os mais pequenos rudimentos da doutrina cristã. Na segunda metade do século XV, o arcebispo de Lisboa recomendava insistentemente aos párocos que, na hora da Missa, recitassem bem claramente o Padre - Nosso , a Ave-Maria e o Credo, e que, nos Domingos do Advento e da Quaresma, recitassem também os Dez Mandamentos da Lei de Deus com os actos contrários de cada um, as Obras de Misericórdia, os Pecados Mortais, os sete sacramentos e as virtudes teologais e cardeais. [41] Imagine-se! Se era assim em Lisboa, o que seria em Lamego?!
Para além de tudo isto, numa sociedade em que impunemente reinava o vício e a devassidão, o clero medieval não estava imune do contágio, tanto mais que grande parte dos seus membros, interessados em ascender a uma classe que gozava de não poucas imunidades e privilégios, se ordenavam sem verdadeira vocação. Concubinatos de sacerdotes não eram coisa estranha e rara e, por demais generalizadas, tais anomalias já nem eram motivo de escândalo, mesmo que se tratasse de barregâs dos próprios bispos. [42]
Males como os que acabo de referir, só Concílio de Trento os tentou erradicar com autoridade suficiente. Razão tinha o então Bispo de Braga, Frei Bartolomeu dos Mártires, para falar no concílio da necessidade de uma “eminentíssima reforma” na Igreja, a começar pelos eminentíssimos senhores cardeais da Cúria Romana.
3).---Na sequência da Revolução do 1º de Dezembro de 1640, e apesar dos esforços do nosso bispo D. Miguel de Portugal no sentido de a Santa Sé reconhecer a nossa restaurada independência, o Papa, pressionado pela poderosíssima influência espanhola na Corte Pontifícia, não confirmava os Bispos apresentados pelo novo rei de Portugal nem reconhecia também os Bispos que os reis de Espanha continuavam a nomear para Portugal. Em 8 de Outubro de 1649, as dioceses portuguesas, à excepção de Elvas, estavam todas sem bispo. Só em 1669, 29 anos depois, feitas as pazes com Castela, é que o Papa Clemente IX acabou por confirmar os bispos eleitos. [43]
Lamego esteve portanto sem Bispo mais de 24 anos. D. Miguel de Portugal fora chamado a Lisboa pelo rei restaurador para o nomear seu conselheiro e seu embaixador em Roma, em Dezembro de 1640. Falecido em 1644, só veio a ser legalmente confirmado pela santa Sé um novo bispo para Lamego, na pessoa de D. Luís de Sousa, em Setembro de 1688.
Conta-se que este último, quando chegou à diocese, a encontrou muito desorganizada e carente de tudo, empenhando-se então a visitar pastoralmente paróquias e mosteiros, chegando a crismar 500 e 600 pessoas por dia, já que há cerca de 30 anos se não celebrava o sacramento na diocese. O historiador Joaquim de Azevedo, na sua obra preciosíssima, afirma que não houve lugar algum da diocese que esse senhor bispo não tivesse visitado, a ponto de, contra tudo e contra todos, se ter deslocado à igreja da Gralheira, na Serra do Montemuro, quando aí grassava uma terrível peste que dizimava sem compaixão os moradores daquela aldeia. [44]
4).---Momentos de alguma tristeza para a diocese foi a redução da sua área geográfica em três momentos bastante dolorosos: o primeiro, em 18 de Setembro de 1773, com a criação da nova diocese de Pinhel e a perda das 50 freguesias da comarca de Riba – Côa; o segundo, em Setembro de 1882, quando, por influência dos governos liberais, nos foram retiradas as freguesias de Arouca e Castelo de Paiva em favor da diocese do Porto, com a excepção honrosa da freguesia de Alvarenga, situada a norte do rio Paiva; e por último, em 20 de Abril de 1922, com a perda das 71 paróquias da margem direita do Douro que passaram à nova diocese de Vila Real, paróquias que tinham sido retiradas a Braga e anexadas a Lamego na remodelação de 1822.
Note-se que, por diversas vezes, a diocese esteve em risco de ser extinta, nomeadamente em 1843 e em 1869. Numa lei de 12 de Novembro deste último ano, Lamego constava duma lista de dioceses a suprimir. Valeu-lhe o dinamismo e o peso político dum Bispo como D. António da Trindade, a dissolução da Câmara dos Pares provocada por uma crise política e a intervenção decisiva da Câmara de Lamego. Passado esse mau momento, a Câmara Municipal, em 3 de Setembro de 1881, promoveu um solene Te Deum na Sé, instituiu o “dia de gala” da diocese e atribuiu a D. António da Trindade o título de “cidadão benemérito” da cidade[45].
5).---Tempos de grande confusão e sofrimento na cidade e na diocese, foram os finais do século XVIII e quase todo o século XIX.
Em 1758, foram expulsos pelo marquês de Pombal os jesuítas do Mosteiro de Cárquere e do Colégio da Lapa; em 21 de Junho de 1808, ao cair da noite, entraram na cidade as tropas francesas comandadas por Loison, pondo a cidade em polvorosa e os seminaristas em fuga; o Seminário, abandonado, foi ocupado pelo Regimento nº 4 por conta da Junta do Porto, até Fevereiro de 1811; em 24 de Agosto de 1820, estalara no Porto a Revolução Liberal, de cariz maçónico, que viria causar uma profunda divisão entre os portugueses e também no seio da diocese, com feridas dolorosas que tardaram a sarar.
À frente da diocese e das paróquias, sucederam-se pastores de uma e outra cor política - liberais e absolutistas - e as perseguições a membros do cabido e do clero da diocese, incluindo verdadeiros saneamentos por razões políticas, repetiram-se uma e outra vez, ao longo de muitos anos. Tristemente célebre, Manuel António de Figueiredo, abade de Castro Daire, apoiante declarado de D. Pedro IV e adepto fervoroso das ideias liberais. Colocado compulsivamente no governo temporal da diocese e eleito Vigário Capitular pelo Cabido por ordem de D. Pedro IV, em 17 de Maio de 1834, apressou-se a redigir uma bem estudada pastoral a condenar todos os adversários do regime liberal (eclesiásticos ou leigos) e a ameaçá-los de suspensão dos seus cargos e ofícios. À referida pastoral, seguiu-se o “saneamento” de dezenas de clérigos da diocese, por decisão gratuita e mal fundamentada. [46]
Na noite de 11 para 12 de Maio de 1834, houve um pavorosos incêndio no Seminário da cidade (pensa-se que de origem criminosa e por motivações políticas) deixando o edifício reduzido às paredes de alvenaria, tendo sido reconstruído só 20 anos mais tarde, por ordem do Bispo D. José de Moura Coutinho. [47]
Durante um longo período de 18 anos (de 1826 a 1844), a diocese esteve sempre sem pastor. Neste enorme espaço temporal, apenas exerceu funções o bispo D. frei José da Assunção, que pouco se demorou em Lamego por haver fugido à pressa para os arrabaldes de Lisboa, perseguido pelas forças constitucionais de Pedro IV, onde viveu o resto da vida e veio a terminar os seus dias.
Como podemos imaginar, todos esses anos foram tempos de uma enorme confusão na diocese (chegaram a estar dois Vigários Capitulares a governá-la em simultâneo), com vergonhosos aproveitamentos da Igreja e do clero por parte dos políticos em contenda, com vinganças e retaliações dolorosas e sangrentas, e com assaltos de clérigos a postos de comando, motivados apenas por objectivos de poder e de dinheiro.
A acrescentar ao que se disse, refira-se a extinção da maior parte das colegiadas das grandes igrejas e dos muitos conventos e mosteiros da diocese levada a cabo pelo decreto liberal de 30 de Maio de 1834, informado pelo racionalismo da Enciclopédia Francesa e pelos ideias maçónicos do Grande Oriente Lusitano.
É verdade que muitos mosteiros e conventos e a própria igreja precisavam de uma tempestade purificadora. A sociedade portuguesa desses tempos, feita de grandezas e privilégios em mistura com opressões e misérias, estava gasta no tempo e cheirava a podridão. As revoluções são quase sempre um favor de Deus ao mundo. Contudo, o que aconteceu então, sob a capa dos ideais românticos da Igualdade, da Fraternidade e da Liberdade e pese embora a validade desses ideais que vieram mais tarde a desembocar nas sociedades livres e democráticas dos nossos dias, não foi senão uma afirmação dos projectos pessoais da classe burguesa que se serviu, para o efeito, da afronta gratuita e do confisco indefensável. A desamortização dos bens e dos direitos pertencentes às igrejas e às corporações religiosas (incluídos os passais dos párocos) pelas leis de 61, 66 e 69, com a expoliação e profanação dos lugares sagrados e os roubos, incêndios e destruições das grandes bibliotecas das igrejas, dos conventos e dos mosteiros, foram bem a imagem de tal programa, com enorme prejuízo para a Igreja e para o país. Mas, dessa época e deste tema, virá falar-nos na próxima Sexta-Feira D. Manuel Clemente, um grande sábio a quem eu não sou digno sequer de desapertar os sapatos que lhe abrigam os pés.
6).---Apesar de ter sido assinado um importante acordo entre a Santa Sé e o Estado Português em Outubro de 1848, as perseguições continuaram. Identificando-se propositadamente os interesses da Igreja com os da Monarquia que se queria derrubar, tal como os liberais o tinham feito anteriormente em relação ao Regime Absoluto, os republicanos do início do século passado, eivados de um laicismo doentio que cobriam com a simpática capa da democracia, não demoraram a levar a bom termo o seu objectivo encapotado de destruir a Igreja em Portugal.
A proclamação da República, em 5 de Outubro de 1910, trouxe consigo os maiores ataques físicos e morais ao clero e às casas religiosas da diocese. Foi como um dique que rebentou num momento e abriu a porta a todas as barbaridades, a todos os oportunismos e a muitas vinganças pessoais. Alguém que viveu os acontecimentos e os presenciou relatou-me um dia horrorizado que os corifeus locais da república e a canalha que os apoiava entraram a cavalo, de rompante, pela Sé adentro, no meio da maior gritaria, dizendo as maiores obscenidades.
Perante os brados dos republicanos e arruaceiros locais, os 105 seminaristas que estavam nesse dia recolhidos em retiro espiritual, tiveram que fugir a toda a pressa, cada uma para o seu lugar de origem. [48]
No dia 13 de Outubro, a Câmara Municipal votou por unanimidade um pedido ao governo saído da revolução, no sentido de lhe ser entregue o Convento das Chagas para aí estabelecer escolas e outras actividades de utilidade pública. [49]
A fatídica lei de 20 de Abril de 1911 foi redigida pelo governo republicano para matar a Igreja à fome. Decretando a separação da Igreja do Estado (decisão que só podia ser benéfica para uma e outra parte se fosse apenas isso), legalizou-se a nacionalização de todos os bens patrimoniais da Igreja (igrejas e capelas públicas, paço episcopal, seminários, cercas, passais e residências), deixando os homens da Igreja sem púlpito para pregar, sem escolas para ensinar, sem casas para morar e sem pão para sobreviver.
Em 24 de Abril do mesmo ano, quatro dias depois da publicação da dita lei, o ministro da justiça Afonso Costa anunciava pomposamente em Braga que o catolicismo acabaria em Portugal em duas ou três gerações. [50]
O auto de entrega do edifício do Seminário na margem do Coura foi lavrado logo em 15 de Dezembro desse ano, para se tornar lugar de alojamento do Regimento de Infantaria 9, em 1916.
Os seminaristas, chamados mais tarde das suas terras, ficaram alojados em casas particulares da boa gente da cidade (um bom núcleo no Colégio de Lamego), indo assisti às aulas a casa de cada um dos professores que residiam na cidade.
Na sequência de uma corajosa pastoral que publicou em 18 de Janeiro de 1912, a condenar as famigeradas “cultuais” e a proibir os párocos da diocese de aceitarem as pensões que o governo lhes queria dar para os manter subservientes, o bispo D. Francisco José Vieira de Brito acabou por ser desterrado da diocese por dois anos, teve que deixar a cidade e foi exilar-se na sua casa de Rendufinho, no distrito de Braga.
Regressado do exílio em 1914, encontrou tomado o Paço e o Seminário e refugiou-se numa casa que lhe foi cedida, no lugar da Preguiça. Era aí que, quase clandestinamente, ele ia ordenando, um a um, os poucos rapazes que completavam Teologia, assim acontecendo até 1921, data em que se adquiriu a velha e degradada Casa do Poço, em frente da Catedral, onde se instalou de novo o Seminário, e onde os bispos passaram a residir, em péssimas condições, até 1945, ano em que D. Ernesto Sena de Oliveira se mudou para o actual edifício, na Rua das Cortes, que fora doado pelas irmãs D. Maria Joana e D. Maria Cândida de Castro da Fonseca Pereira Coutinho, da ilustre Casa das Brolhas. [51]
Ninguém de nós consegue agora imaginar as dificuldades por que passou a Igreja de Lamego (clero, religiosos e fiéis leigos) nas duas primeiras décadas do passado século: à anarquia e à insegurança – então o pão de cada dia – veio juntar-se a fome e a miséria e, mais tarde, a peste pneumónica (também chamada espanhola) que ao longo de 2 anos dizimou grande parte da população, e, por último, a Primeira Grande Guerra (de 14 a 18) que levou milhares de jovens para as trincheiras de França, onde passaram privações e abandono e onde morreram em grande número, sem sequer terem direito a funeral nas suas terras, já que foram enterrados sabe Deus onde, em campos extensivos transformados em cemitérios de emergência.
Em todo este tempo de quase clandestinidade na Igreja Portuguesa, com enormes sofrimentos para o clero e os fiéis, notável a presença dos nossos párocos no meio do povo. Nas dificuldades, eles não fugiram. Pobres sempre, e maltratados muitas vezes, eles não abandonaram o povo, e o povo teve sempre neles o apoio espiritual e moral de que tanto necessitava nessa altura.
7).---Aproximou-se entretanto o Estado Novo. O Movimento de 28 de Maio de 1926 e a Constituição Política de 1933 vieram finalmente abrir o caminho para um relacionamento mais pacífico e proveitoso entre a Igreja e o Estado, que viria a concretizar-se em letras na Concordata e no Acordo Missionário, assinados em Roma em 7 de Maio de 1940.
Com a Concordata, foi de novo reconhecida personalidade jurídica à Igreja e às suas instituições e foram devolvidas pelo Estado algumas das estruturas patrimoniais extorquidas à Igreja em 1911: as que não estavam ocupadas por serviços públicos do Estado e as que ainda não tinham sido alienadas a particulares. É o caso das igrejas e capelas públicas da diocese.
A partir de então, tudo principiou a renascer na Igreja de Lamego: os seminários começaram a encher-se de jovens candidatos ao sacerdócio; nas paróquias, animadas pelo zelo pastoral dos párocos e por grupos de associações de fiéis mais dedicados (com relevância para a Acção Católica o Apostolado da Oração, a Legião de Maria, o “Oásis” (movimento de espiritualidade para jovens que teve aqui em Lamego a sua primeira aparição em Portugal por iniciativa de Mons. Ilídio, por volta de 1950), o Escutismo Católico introduzido em Lamego em 1929 pela mão de Mons. Anibal Rebelo Bastos, [52] as Equipas de Nossa Senhora, os C.P.M., e o Movimento dos Cruzados de Fátima), a vida cristã intensificava-se cada dia mais, com as igrejas a encher-se nas Missas Dominicais e nas Adorações ao Santíssimo, e com a vida sacramental a incrementar-se a olhos vistos.
Atrever-me-ia a classificar as décadas de 40 a 70 do século passado, como um dos melhores tempos na história religiosa da diocese de Lamego.

Pese embora alguma subserviência por parte da Igreja ao regime do Estado Novo (que se compreende por uma espécie de gratidão pela paz reconquistada e por uma necessidade de apoio estatal para a recuperação das estruturas essenciais - subserviência que deu origem a algum silêncio da parte da Igreja na hora em que começaram a verificar-se no país um grande deficit nas liberdades essenciais e assinaláveis ofensas aos direitos humanos mais sagrados), a verdade é que os tempos do Estado Novo permitiram que a Igreja se recompusesse de algum modo, no que era essencial para a celebração digna do seu culto e liturgia e para o cumprimento da sua missão de evangelização e ensino, e de acção caritativa e social.

Analisemos agora, no mínimo de tempo possível, os nossos tempos. No palco em que somos actores e nos caminhos que agora percorremos, as luzes continuam a entrecruzar-se misturadas com as sombras. É um quadro ambíguo, e sem dúvida complicado.
Bela, a simplicidade de uma igreja que se despiu voluntariamente de grandezas e espaventos para ficar reduzida ao que lhe é essencial. Agradável, o facto de os nossos bispos terem deixado de ser “príncipes da Igreja”, com paços lustrosos e salas do trono solenes, para tornarem à simplicidade de pais amigos, de modelos de vida e de pastores sempre presentes, ao jeito dos primeiros Apóstolos. Importante, já com o senhor D. Jacinto, a planificação da pastoral diocesana em três ciclos de três anos, a partir da Carta Pastoral “O Nosso Caminho no Novo Milénio” escrita e publicada no ano 2001, a instituição das “Assembleias do Clero” em 2007, e a presença constante e sempre bem disposta do pastor da diocese onde ela é requerida ou solicitada. Oportuna e necessária a criação da Escola de Ciências Religiosas para formação teológica dos leigos da diocese, no ano de 1985. Notável, a acção de muitos sacerdotes e leigos no campo da assistência social aos mais idosos e aos mais pobres da nossa sociedade, na linha das nossas beneméritas e incomparáveis Misericórdias, com destaque para a Obra de Promoção Social de Mons. Ilídio Fernandes e a Obra Kolping, e a criação e manutenção de muitos Centros Socais com Lares de Idosos em muitas das nossas paróquias. De anotar, com louvor, a acção da Caritas Diocesana, das Conferências de S. Vicente de Paulo e de outros Grupos de Acção Social Cristã, existentes na diocese. De enorme interesse a presença simples e simpática dos sacerdotes no meio da juventude estudantil, como docentes, amigos e companheiros nas escolas da diocese. De relevar, os programas do Secretariado Diocesano da Juventude, e o seu empenho formação, na dinamização e no convívio dos jovens cristãos da diocese.
De aplaudir, ter-se acabado com as penas, os rigores e as suspensões de outro tempos na diocese. Contudo, se não houver cuidado, corre-se agora o risco de cair no pólo oposto: deixar as coisas um pouco à vontade de cada um, e desse modo começarem a faltar a disciplina e a unidade indispensáveis, com o que isso significa em desorganização, desleixo, facilitismo e mesmo falta de eficiência. Entendo que, na hora certa, uma pequena chamada de atenção pessoal por um acto de indisciplina ou um simples pedido de justificação por uma falta notada e não explicada, pode fazer toda a diferença.

Ex.cia Rev. ma
Queridos ouvintes
Esta diocese, discreta no castanho baço do seu húmus, bela nos tapetes esmeraldinos das encostas, exuberante no verde fresco da vegetação, romântica na cantilena repetida das suas ribeiras, fidalga na grandeza dos solares e na excelência dos brasões, notável pelos retábulos dourados dos seus templos e pela elegância medieva dos seus muitos pelourinhos, famosa até pela xistosidade do cascalho semeado nos vinhedos, devota nos nichos e nas capelas arvorados nos outeiros, distinta e venerada nos seus cheirosos e aristocráticos vinhos finos, majestosa na pacatez e na abundância do seu Douro, rica e esplendorosa em tradições salutares e genuínas, opulenta e admirada nas suas belezas naturais, e habitada por gente crente, naturalmente boa e particularmente generosa, não é uma ilha solitária e afastada, neste poluído e inquinado oceano onde hoje temos todos de remar e navegar.
O laicismo doentio, o relativismo fácil, o consumismo generalizado, o indiferentismo religioso - estilo de vida ensinado e quase imposto à nossa população diariamente através dos “média” que são hoje em Portugal os “fazedores de opinião”, os “profetas da verdade” e os “catequistas” de crianças e adultos - facilitado e ajudado pelo desleixo e contra - testemunho de muitos pais e outros educadores – vem gerando no país, e também em Lamego, quase sem nos darmos conta, um povo indiferente e ateu, desconhecedor dos valores do Reino e até das mais básicas regras da moral e da ética, e desinteressado de tudo o que não der dinheiro, não propiciar prazer, e não oferecer alegria fácil, emoções fortes e bem-estar imediato.
Já nem falo dos ataques múltiplos, programados e constantes à família como comunidade estável de vida e de amor, fundamentada no compromisso sério do homem e da mulher, para poderem realizar essa missão sublime de renovar continuamente a sociedade, criando e educando na paz, no amor e na fé os homens e mulheres do amanhã. Entronizados no altares da liberdade o direito e a vontade individual de cada um, sacrifica-se e imola-se a cada momento, nesta sociedade gerada num mês de Abril, tudo o que cheira a responsabilidade, a fidelidade ou a compromisso. Mas, de tal assunto, nos falará com a sabedoria e competência que todos lhe reconhecemos, o nosso querido amigo senhor Dr. Manuel Teixeira, ilustre advogado nesta cidade e homem da nossa estima e da nossa formação.
E não são apenas os “media” que informam, conduzem e orientam a nossa gente. São também alguns dos nossos conhecidos políticos e comentadores democratas. Não confrontando directamente a Igreja como os da Primeira República, perseguem objectivos semelhantes de um modo mais velado, mas muito mais perigoso: com exemplo negativo para o povo cristão (como se a grandeza e o valor de alguém estivesse agora em não ser crente) declaram, com desnecessária exibição e afectado snobismo, o seu agnosticismo endémico e o seu laicismo militante; legislam, desconhecendo as leis de Deus e desprezando até por vezes a própria lei natural; tudo fazem para que a Igreja se reduza às sacristias e aos templos; e nem se coíbem de ridicularizar a Igreja publicamente, uma e outra vez, apodando-a, mais ou menos veladamente, de antiquada e retrógrada, e chamando aos valores que a Igreja defende – o Amor, a Vida, a Fidelidade, o Pudor, a Castidade, e muitos outros que têm a ver com a dignidade da pessoa humana e com o respeito que devemos a nós próprios e aos demais – coisas de armário, papéis de arquivo e objectos de museu. E tudo isto, quantas vezes, perante a nossa retracção e o nossos silêncio, o que me parece muito grave e demasiado perigoso para a orientação dos crentes e sobretudo para a formação da nossa juventude.
Com toda a modéstia e humildade, apetece-me perguntar onde estão actualmente a coragem de um D. António Barroso da 1ª República, a ousadia de um D. Manuel de Bastos Pina das Cortes Liberais, o destemor de um cardeal José Neto da monarquia constitucional, o arrojo de um padre Sena Freitas dos finais da monarquia, a militância de leigos como Abúndio da Silva ou o Conde de Samodães dos finais do século XIX, ou a intrepidez de um Pe. António Vieira dos maus tempos do colonialismo seiscentista.
Pergunto ainda onde estão as elites católicas portuguesas formadas nas escolas do Opus Dei e nos bancos da Universidade Católica. Quase se não vêem os seus bustos. Quase não se ouvem suas vozes. Parece que temos pejo de ser crentes. Parece que, neste Portugal Missionário e nesta terra de Santa Maria, até nos falta coragem para pronunciarmos em público o nome de Deus Nosso Senhor.
Permitam-me que, com toda a humildade e sem qualquer prosápia ou pretensiosismo, eu emita algumas opiniões pessoais, quiçá descabidas mas bem intencionadas e sinceras: a Igreja portuguesa precisa de um episcopado mais unido que tenha uma só voz, e de um porta-voz sempre atento e vigilante a representar a Conferência Episcopal, para, no momento certo e oportuno e sem dilações ou timidez, num simples e rápido comunicado aos “media”, proclamar bem alto o acordo ou o desacordo da Igreja e do Evangelho em relação ao que se diz e ao que se faz neste país.
Considero que as “Pastorais”emanadas da Conferência Episcopal, além de raras, são também muito densas e demasiado profundas para que a generalidade dos portugueses as entendam e as leiam com interesse. A grande massa de povo não as conhece e nem as lê. Quantas pessoas das nossas paróquias lêem as Pastorais do Episcopado ou as Encíclicas Papais? Penso que a Conferência Episcopal para o país, e cada bispo para a sua diocese, haveriam de estar mais em cima dos acontecimentos, preveni-los até se for possível, e redigir e enviar pequenos textos ou mensagens que os párocos pudessem ler numa simples homilia das Missas Dominicais.
Matam-se em Portugal dezenas de bebés por dia; fazem-se todos os tipos de experiências com embriões humanos; destroem-se diariamente inúmeros embriões excedentários; exalta-se a sodomia e defende-se a homossexualidade; deixa-se que a riqueza se concentre na mão de uns poucos e que a pobreza contunda e esmague uma enorme maioria; incita-se a juventude a prostituir-se antes do tempo; tudo se conjuga para legalizar a eutanásia. Onde está a voz da Igreja sobre este volúpia geral, sobre esta bacanal do prazer, sobre estas injustiças escandalosas, e sobre todo este massacre de seres vivos, aprovados pelas leis humanas mas reprováveis à luz de Deus e das consciências?
Talvez não seja preciso elaborar uma grande, profunda e bem fundamentada Pastoral sobre cada tema ou problema nacional; isso, que é inegavelmente importante, acontece de longe a longe, em momentos especiais; mas, no dia a dia, neste tempo que não espera por ninguém, talvez seja preferível enviar para a comunicação social, no dia seguinte ou no mesmo se for possível, a informação simples de que o que se disse ou o que se fez, não está de acordo com a Palavra de Deus e com a dignidade do homem.
Os comunicados tipo “flash” enviados na semana passada pela Conferência Episcopal para a comunicação social sobre o ensino, as crianças e as escolas, são um pequeno e tímido exemplo do que talvez deva ser feito em outros casos e em circunstâncias similares.
Não podemos certamente imitar os partidos políticos que, minutos depois do governo ou da oposição ter afirmado ou decidido algo de novo, já estão a reagir com acinte e acrimónia, mas, mesmo assim, talvez possamos e devamos aprender alguma coisa com eles.
Reparem: então, diz-se o que se diz e faz-se o que se faz neste país, agora e logo, hoje e amanhã, em total contradição com o Evangelho, e a Igreja nada tem para dizer?
Procedendo assim, não estaremos nós a deixar o campo aberto e disponível a uma maçonaria militante que se introduz em quase tudo, quiçá na própria Igreja, e que, na sombra do anonimato e na pessoa dos que mandam ou controlam os “media”, vem minando toda a nossa sociedade destruindo a fé e a moral dos portugueses?
Sondagens muito recentes dizem-nos que 85% dos 60% dos portugueses favoráveis à eutanásia se declaram católicos praticantes.
Como se compreende que assim seja?
Só há uma explicação: a maioria dos católicos portugueses não tem convicções. Têm uma consciência “mal formada”, para não dizer “não formada”.
Há horas em que a tradições herdadas já não chegam. E eu creio que foi sempre este o grande problema da igreja em Portugal: contentar-se demais com devoções e sacramentos, fazer de menos um trabalho sério de formação de consciências.
Lembremo-nos de que tal modo de proceder desembocou numa derrota clamorosa no último referendo sobre o aborto. Eu penso que nós, a Igreja portuguesa, estamos talvez a falhar profundamente no campo da evangelização, na batalha da cultura, na acção educativa, e na formação das consciências.
Queridos ouvintes
Uma onda enorme de corrupção - uma espécie de “tsunami” libertário e amoral - assola hoje as famílias, desfigura as aldeias, invade as escolas, desorienta a juventude, desautoriza as instituições, degrada o regime e banaliza o país. Só a tibieza de muitos pode explicar o êxito absoluto de tão poucos.
A Igreja está inserida numa sociedade dita democrática. Em democracia, tudo é decidido por diálogo, consenso e negociação, e, no caso de não haver consenso, decidem as maiorias. Ora, as verdades reveladas não são negociáveis, e as normas da moral não se podem decidir por maiorias. O Papa Bento escreveu na sua penúltima encíclica esta frase segura e lapidar: “Quem segue a Cristo tem valores que são inegociáveis”.
Assim sendo, e proclamando a verdade com firmeza e as virtudes evangélicas com arrojo, a Igreja é acusada de ser dogmática, taxada de intransigente, considerada intolerante e apelidada de jarreta e anacrónica. É a desautorização planeada duma Igreja que se quer manter fiel ao Fundador e a si própria, mas que se pretende calar e amarfanhar para não ser voz incómoda ou desmancha-prazeres nestes tempos de pós-modernidade que se caracterizam por um eclipse cultural de Deus e pela lavoura do prazer imediato e do gozo efémero.

Numa sociedade pluralista como é a nossa, em que cada um é livre de pensar e de escolher o que quiser, tudo é relativo. Não há certezas ou verdades indiscutíveis, nem há estilos de vida que sejam censuráveis. Há somente opiniões diferentes, existem apenas gostos ou tendências desiguais, mas todos de valor idêntico e todos de igual modo respeitáveis… - Coisas da vida privada! – diz-se agora, justificando tudo e desculpando a todos. De proibido, quase só fugir aos impostos e invadir ou violar a liberdade dos demais. Daqui a pouco só existirão quatro ou cinco coisas censuráveis neste país: a violação de menores; o rapto de crianças; a fuga aos impostos; o tráfico de drogas; e o assalto às caixas Multibanco. Primeiro legalizou-se o aborto. A seguir, virá à cena a eutanásia. Tudo em nome dos direitos e das liberdades individuais. E tudo com eufemismos enganadores: ao aborto chamou-se “o direito de interromper uma gravidez não desejada”; à eutanásia vai chamar-se “o direito de morrer com dignidade”.
É verdade que, numa sociedade assim, as motivações podem tornar-se mais puras e as opções de crer e de viver mais firmes e mais profundas, ou seja, menos influenciadas pelo costume, pela tradição ou pelas pressões sociais. E isso é bom. A Igreja poderá ficar reduzida a poucos – o “pusillus grex” do Evangelho - mas ficará mais firme e mais segura. Isso implica, porém, um trabalho esforçado e persistente da parte de todos os que se deram a Cristo e um enorme investimento de toda a Igreja na formação das consciências, na geração de grupos corajosos e na organização de elites audazes, pois só com o dinamismo de Paulo, a coragem de Pedro e a espiritualidade de João, se poderá recristianizar esta Europa, quase tão paganizada como o mundo greco-romano do seu tempo.

Nesta era que chamamos “pós - modernidade”, o que se cultiva é o efémero. São impensáveis compromissos definitivos. Só “contratos a termo” … e, preferencialmente, sem “termo certo”.
Neste relativismo de pensar e de viver, em que vale tudo ou quase tudo, perdem-se todos os dias as referências morais e o sentido do pecado, mais tarde talvez até a noção do bem e do mal e daí, o afastamento quase generalizado da Confissão Sacramental e a corrida às seitas que lavam o cérebro, exturquem o dinheiro e desgraçam as pessoas, aos curandeiros e aos astrólogos, aos movimentos exotéricos, às “escolas orientais”, ao que agora se conhece por “new age”, quando nos vemos interiormente vazios e nos sentimos mal connosco próprios.
A este ambiente de relativismo de vida e de pensamento, associa-se uma ignorância religiosa assustadora. Incontáveis discípulos de Jesus (incluindo muitos que frequentaram as nossas catequeses) – eu diria que é a maior parte - não sabem qualquer oração para além do Pai - Nosso e da Ave-Maria, e desconhecem coisas tão elementares como os Mandamentos da Lei de Deus, os Preceitos da Igreja ou as Obras de Misericórdia.
Desculpem que eu, o mais incompetente de todos os presentes, ponha em causa os resultados das nossas catequeses e as técnicas e os conteúdos dos catecismos nacionais que temos tido.
Não quero escandalizar ou magoar alguém, e peço perdão se a minha análise é exagerada e pessimista, mas é minha convicção profunda de que grande parte dos nossos cristãos já nem acreditam na vida depois da morte e, assim sendo, que preocupação hão-de ter eles, senão cultivar a saúde e o bem-estar do corpo e viver cada momento com o maior prazer que for possível?
Não é verdade que as pessoas abandonam as igrejas e as celebrações religiosas – uma apostasia progressiva - e engrossam as enchentes dos estádios, dos ginásios, das piscinas, dos lugares de diversão nocturna e dos grandes concertos de rock?
A preocupação não está na perda de “clientes” ou “fregueses” por parte da igreja diocesana. O problema é o logro amargo e o vazio existencial em que caem todos os baptizados que abandonam a Casa de Deus e fecham os olhos à luz do Ressuscitado.

Ex.cia Rev. ma
Minhas senhoras e meus senhores
Perante este ambiente que se impõe cada vez mais na nossa sociedade, que podemos nós fazer? Condenar as pessoas e anatematizar as suas opções de vida? Pedir que “venha fogo do céu”?
A liberdade como um valor individual e o pluralismo cultural e comportamental são realidades que se impõem sempre mais e que devemos aceitar, respeitar e mesmo valorizar.Não podemos esperar ou exigir que todos pensem com nós e que todos se comportem como nós.
A nossa posição deve ser de um enorme respeito pelas opções e escolhas dos outros, mesmo que sejam opostas às nossas. Deus, que deseja como ninguém que todos sejam felizes, não obriga ninguém a sê-lo.

Se desejar apontar saídas e indicar direcções, não sei. Quem sou eu e que sei eu? Contudo, atrevo-me a repetir o que todos já sabemos: a grande aposta actual da diocese deve concentrar-se na “evangelização”. A começar pelos rudimentos da Fé. Não podemos esquecer-nos de que, a breve trecho, se as coisas continuarem no rumo que estão a seguir, temos uma diocese de baptizados a pensar e a viver como pagãos.
O Papa João Paulo II, em Maio de 98, já dizia preocupado: “No nosso mundo, frequentemente dominado por uma cultura secularizada que fomenta e difunde modelos de vida sem Deus, a fé de muitos é posta a dura prova e, não raro, é sufocada e mesmo extinta. Percebe-se, então, com urgência a necessidade de um anúncio forte e de uma sólida e aprofundada formação cristã.”
A ausência de empreendimentos inovadores de evangelização, a acomodação e a timidez, e a falta de militância e desassombro, estiveram sempre na origem da descrença e dos maus tempos na vivência do cristianismo. Usem-se todos os meios e processos sérios e honestos. Infelizmente, a Igreja portuguesa não tem um jornal de nível nacional porque deixou morrer o que tinha. Possui uma emissora com elevada audiência nacional (que agora até está a ser posta em causa) mas, em minha modesta opinião, tal emissora faz mais entretenimento do que evangelização. Perdemos um canal de televisão que nos foi dado com muita sorte e que nunca mais iremos recuperar e, num tempo em que toda a gente tem a televisão ligada de manhã à noite, somos os únicos que não usamos a televisão para “publicitar” as “nossas ideias” e os “nossos produtos”.
Parafraseando Jesus, eu diria lamentando: os filhos das trevas, infelizmente, são mais espertos e empenhados nos seus interesses do que os filhos da luz nos interesses de Deus e da Sua Igreja.
As nossas celebrações eucarísticas, que nunca podem nem devem tornar-se um espectáculo de luzes e emoções, são muitas vezes rotineiras, fastidiosas e monótonas, e as nossas homilias frequentemente desprovidas de simplicidade, de clareza, de interesse, de chama, e mesmo de novidade. A rotina, nisso como em tudo, é muito má conselheira.
As pessoas de hoje, desprovidas de fé e determinadas pela utilidade e pelo bem-estar que as coisas lhes dão ou possam dar, perguntam cada vez mais o que vão fazer às nossas igrejas, quando “aquilo” lhes não diz nada. Com o que dizemos, nem incendiamos os corações entibiados nem fazemos ondas no mar da vida de ninguém. Não podemos continuar a usar uma linguagem ultrapassada, genérica e abstracta que nada tem a ver com o concreto quotidiano desta sociedade que somos e da vida real dos que ainda nos vão ouvir. Os seminários têm de preparar os sacerdotes de amanhã, para serem cada vez mais os “homens de Deus” que o mundo espera e que a Igreja precisa: homens que cultivem uma profunda união com Deus e homens que transmitam o Evangelho com interesse, alegria, militância, desassombro e novidade.
Ribeiro de Vasconcelos, Lente de Teologia em Coimbra no século XIX, dizia acerca da Igreja do seu tempo: “A condição da igreja neste mundo não é de repouso mas de luta …aqui a santa Igreja é militante; não é ainda triunfante![53]
A “nova evangelização” não o será apenas por ser feita pela segunda ou pela terceira vez. Terá que ser nova também nos métodos e nos processos. É verdade que a imprensa continua muito importante. O jornal diocesano e os boletins paroquiais, que são indispensáveis, mais do que ser agentes noticiosos da cidade ou das aldeias, têm que procurar ser, hoje mais que nunca, luminares claros do Evangelho a incidir sobre o que se faz e o que se diz diariamente à nossa volta. Não podemos porém esquecer-nos de que já estamos há muito no tempo da “Net” e na era do telemóvel. Temos que fazer catequese “on-line” e servir-nos dos “SMSs”. Certamente, já todos recebemos no nosso correio electrónico um e outro “power point”, com maravilhosas mensagens de fé e de moral, adornadas com imagens mais que sugestivas e acompanhadas de excelentes trechos musicais, quase todos com origem no Brasil. Os brasileiros já se deram conta de que é este um precioso método de evangelização. Nós, portugueses, parece que ainda não.
Temos de apostar na formação dos educadores e dos catequistas nas novas tecnologias, na utilização de blogs atractivos e de redes sociais bem sucedidas. Numa era de pós - televisão, não podemos esquecer-nos de que cada uma das nossas crianças e cada um dos nossos jovens usa constantemente o telemóvel e já tem ao seu dispor um “Magalhães” com banda larga.
Faço uma pergunta: a nível central, na cabeça da diocese, não se poderá fazer algo de novo, aproveitando todos estes novos meios de contacto, para a tão necessária evangelização da nossa sociedade?
Para além disso, não pode faltar em todos nós (padres, religiosos ou leigos) uma espiritualidade profunda manifestada no modo como rezamos, na forma como celebramos, na alegria com que servimos, na simpatia com que acolhemos, na bondade com que ajudamos, na esperança que testemunhamos, na fidelidade que preservamos, na chama da Fé que mantemos viva, na coerência que evidenciamos, e no gosto com que trabalhamos na obra de Deus e no serviço dos Seus filhos. Leigos, religiosos ou sacerdotes, precisamos de cumprir com mais amor e com mais chama a missão que Deus nos confiou. Carecemos todos de ganhar um novo alento missionário que não nos deixe ficar parados dentro das igrejas, um pouco desalentados, a olhar para a porta, à espera que voltem os que desertaram ou se afastaram.
O que os nossos seminários estão a fazer actualmente, deslocando-se com os seminaristas pela diocese a despertar vocações, em vez de continuarem à espera, a ver se algum jovem ou menino lhe vem bater à porta a pedir admissão, parece ser um bom exemplo.
Não podemos esquecer-nos de que 80% dos nossos cristãos baptizados já não se ligam à comunidade cristã onde residem, e já nada mais praticam a não ser uma ou outra procissão ou romaria e alguns actos de carácter social, eivados muitas vezes de enorme vaidade e carregados de alguma exibição. Temos que arriscar. Temos de levar com entusiasmo o Evangelho a quem nunca o ouviu e a quem o ouviu mas já o esqueceu ou retirou do seu viver. Temos mesmo que pegar no telemóvel e chamar pessoalmente as nossas crianças e os nossos jovens à Catequese, à oração comunitária, à Liturgia do Domingo e até aos Sacramentos.
Não fazem assim os outros, em múltiplas e variadas situações, quando estão interessados na nossa presença? E nós, não acabamos por ir?
O fenómeno “Obama” nas recentes eleições da América, comprova à saciedade o que acaba de ser dito.

Ex.cia Rev. ma
Minhas senhoras e meus senhores
Este mundo que se alicerça em miragens e esta sociedade que se alimenta de banalidades e vive de interesses egoístas e de ambições mesquinhas, vão desacreditar-se muito em breve. Um mundo afastado de Cristo e desprezador dos valores do Evangelho, não demora a tornar-se inabitável. A pouco e pouco, vai - se transformando num pântano de vícios, num antro de egoísmos, e numa selva de feras onde só se salvam os mais fortes. Nos inquéritos que têm vindo a fazer-se no país e no mundo, a Igreja aparece cada vez mais como o corpo mais respeitável e a instituição mais credível dos nossos dias. Por alguma razão…e apesar de tudo.

Amáveis ouvintes
Falei de sombras na igreja de hoje. De grandes sombras. Quero lembrar porém a todos que as sombras são sempre passageiras. Só ficam até o sol brilhar de novo. Depois de cada noite escura, vem sempre uma nova madrugada. A madrugada vem aí. E não vai tardar. Vem aí, porque o homem e a mulher do século XXI, cansados de um caminho sem sentido, enfadados de uma vida sem esperança, saturados de um vazio sempre mais insuportável, vão voltar. Vão voltar-se para Deus. A abundância de “coisas”, o fascínio da técnica, os prazeres momentâneos e fugazes que agora encantam e seduzem a nossa geração, não passam de fogos-fátuos de hidrogénio que se apagam num instante, e de bolas de sabão que se desfazem com um pequeno sopro ou um vago arejo. Esta sociedade hedonista e decrépita vai desacreditar-se a si própria muito em breve, e as pessoas, desiludidas de tudo, sem razões para viver, sem esperança para sonhar, sem paz no seu relicário mais íntimo e mais profundo, voltarão de novo à procura de Deus, ansiosas por escutar Palavras de Vida Eterna, e então, dirão como Pedro a Jesus: - Por onde andamos nós, até agora, Senhor, se “só Tu tens Palavras de Vida Eterna”? Essa é a especialidade da nossa Igreja: dar ao mundo a Palavra de Deus.
Jesus prometeu estar connosco até ao fim dos tempos.
Só Ele trouxe esperança à humanidade. Ninguém, senão Ele, abriu horizontes novos à vida humana. Só Ele descobriu e ensinou uma saída libertadora e luminosa para este ciclo fechado de vida e de morte que é a nossa existência sobre a terra.
Só Ele salva. Só Ele cura. Só Ele é o Caminho e a Verdade. Só Ele é capaz de encher o coração de todos e de cada um. Só Ele é capaz de trazer nova luz e nova esperança a este mundo imerso em trevas e banhado de incertezas. Tudo se passa à vista de Deus e sob o Seu olhar amigo e providente. Ele é o senhor da Vida, o guia dos Tempos e o condutor da História.
Tenhamos Fé… E vivamos com Esperança.
Que a Senhora da Assunção nos ampare.
Que S.Sebastião nos encoraje.
E que Deus nos proteja e abençoe.
Tenho dito.

Obrigado por me terem ouvido
E perdoem-me por ter sido demasiado longo, e, mais do que longo, fastidioso.


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
-Almeida, Fortunato de –História da Igreja em Portugal, ed. de Damião Peres, Porto – 1967-71
-Azevedo, D. Joaquim de - História Ecclesiástica da cidade e do bispado de Lamego, Porto – 1877
-Azevedo, Luís Gonçalves de – História de Portugal, Lisboa -1936- 1940
-Barros, Henrique da Gama – História da Administração Pública e Portugal do século XII a XV, Lisboa, Imprensa Nacional - 1885-Brandão, Fr. António – Crónica de D. Afonso Henriques, 1945
-Crónica dos Cinco Reis de Portugal, ed. de Magalhães Basto, Porto-1945
-Constituições Synodais da Diocese de Lamego, Coimbra – 1682
-Constituições Sinodais da Diocese de Lamego, Lisboa – 1954
-Crónica Geral de Espanha de 1344, Ed. de Lindley Cintra, Lisbo -1964
-Costa, Manuel Gonçalves da – História do Bispado e Cidade de Lamego, 6 vols.-1977 a 1992.
-Costa, Manuel G. da – Seminários e Seminaristas de Lamego, Lamego-1990
-Duarte, J. Correia –Resende na Idade Média, Resende-2001
-Fernandes, D. Manuel –Summaria recapitulaçam da antiguidade da Sé de Lamego, ,Lisboa – 1590
-Fernandes, Ruy – Descrição do Terreno em roda da cidade de Lamego duas légoas, 1531, publicado em “Inéditos da História Portuguesa”, vol. V, Lisboa – 1824
-Fonseca, Cón. João Mendes da – Memória Chronologica dos excellentíssimos Prelados que tem existido na Cathedral desta cidade de Lamego, Lisboa – 1789
-Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, -Entrada “Lamego”, vol. XIV
-Guerra, Isolina Augusta Rodrigues – D. João António Binet Píncio, Bispo de Lamego, Lamego - 2008
-História Religiosa de Portugal ( dir. de Carlos Azevedo) –Círculo de Leitores, Vol. III - 2002
-Oliveira, Miguel de - História Eclesiástica de Portugal, Lisb0a - 1958
-Rema, Henrique Pinto – A Família Franciscana em Lamego, Lamego - 2002
Notas
[1] --Herculano, Alexandre –Opúsculos, vol. 4 - p.57
[2] --Azevedo, J. de –Historia Ecclesiastica, Porto-1877, pág. 23
[3] --Pierre David – Etudes Historiques sur la Galice et le Portugal du VI au XII síécle, pág. 1-82
[4]---Fernandes, Manuel –Summaria Recapitulaçam…, 1596, fls. 5 vº
[5] --Chronicon Gottorum, in P.M.H, Scriptores, Vol.I,f.9; e Chronicon Lamecensis, in P.M.H., Scriptores, Fasc. I, f.19; Chronicon Conimbricence, P.M.H. Scriptores, I, Pars. 1, f.2; Crónicas Breves e memórias Avulsas de Santa Cruz de Coimbra, P.M.H., Scriptores, I, 24
[6] ---Viterbo – Elucidário…, II, pág. 419
[7] ---P.M.H. – Livro 12 de Diplomata et Chartae, nº 916, transcrito em J. Correia Duarte, Resende na Idade Média, p. 73
[8] ---Documentos Medievais Portugueses –Doc. Particulares, Tomo IV, nº74, transcrito em J.C. Duarte, Resende na Idade Média, p. 75
[9] ---Costa, Gonçalves da – Historia do Bispado…, vol. I, pag. 84
[10] ---Galvão, Duarte – Chronica de El-Rei D. Afonso Henriques, (século XVI, publicada em Lisboa e 1906. No cap. III, fól.204, diz textualmente o seguinte: …” e fez com grande devação as Sés de Coimbra, e de Braga, e do Porto, e de Viseu e de Lamego e pôs nelas bispos que as houvessem de reger por mandado e licença do santo Padre”.
[11] ---Pimenta, A. – Fontes Medievais da História de Portugal, Sá da Costa, Lisboa -1948, pág. 58
[12]---Azevedo, J. de – História Eclesiástica…, pág. 31
[13]---Fernandes, Manuel – Obra citada, f. 5 vº
[14] ---Dias, Augusto – Lamego no Séc. XVI, Lisboa-1947, pág. XVI
[15] ---Azevedo, J. de –Obra citada, pág. 74
16---Gr. Enciclopédia Port. e Brasil., entrada “ S. Pedro das Águias”; Joel Serrão –Dicionário da História de Portugal, Vol. II, entrada “Cister”.
Nota: S. Pedro das Águias terá entrado na Regra de Cister pela mão dos Monges de S. João de Tarouca. Enquanto S. Pedro das Águas dependia do de S. João de Tarouca, este e o de Salzedas dependiam directamente de Claraval.
17 ---Vasconcelos, L. Leite de –Livro da Fundação do Mosteiro de Salzedas, Lisboa, 1934, pág. 9.
Nota: Os cistercienses terão entrado pela primeira vez em Portugal, em S. João de Tarouca, pouco antes de 1144.
18 –Saraiva, José Cunha – Miscelânea, Lisboa – 1934 (transcrito em J. Correia Duarte, in Resende e a sua História, 2º Vol. Apêndice)
[19] ---Azevedo, J. de –Obra citada, pág. 119
Nota: Há autores que defendem a hipótese de a Igreja de Santa Maria de Almacave ter sido catedral durante muitos anos. Trata-se de uma antiga tradição, nunca documentada, mas as tradições têm quase sempre um fundo de verdade. A minha interpretação é a de que, destruída a igreja do Santíssimo Salvador do Castelo (primitiva catedral quando a cidade estava toda dentro de muralhas), enquanto se construía a nova catedral que hoje temos, terá servido a igreja de Almacave provisoriamente para o efeito.
20 ---Azevedo, J. de –Obra citada…pag. 40,55,76,84; Constituições Diocesanas de Lamego, 1953, pág. 708
[21] ---Gonçalves da Costa, História do Bispado…Vol.VI, 182; Azevedo, J. de –Historia Eclesiástica…1877, pág. 55
22 ---Idem. Idem – Vol. I, pág. 183; Azevedo, o.cit. pág. 55 ; Miguel de Oliveira, in História Eclesiástica de Portugal, Lisboa-1958, p. 125
[23] ---Azevedo, J. de – Obra citada, pág. 43 e 71
[24] ---Azevedo, J. de – Obra citada, pág. 38; Constituições Diocesanas, de 1953, 711-717
[25] ---Azevedo, J. de – Obra citada, pág. 56
[26] ---Diário do Governo de 15 -18 de Setº de 1882
[27] ---Azevedo, J. de –Obra citada, pág. 292
[28] ---Costa, M. Gonçalves –Obra Citada, Vol. II, pág. 565-566; REMA, H. Pinto –A Família Franciscana na Diocese de Lamego, pág. 13-15
[29] ---Azevedo, J. de –Obra Citada; Costa, M. Gonçalves da – Obra citada.
[30] ---Azevedo, J. de – Obra citada, pág. 13
[31] ---idem, idem – pág. 13
[32] ---Guerra, Isolina A.R. –D. João António Binet Píncio, Bispo de Lamego, Lamego-2008, pág. 234 e segs.
[33] ---Costa, M. Gonçalves da – Seminários e Seminaristas de Lamego, Lamego, 1990, pág. 234, 235
[34] ---O primeiro Curso de Cristandade realizado em Lamego, aconteceu em 5 de Maio de 1964. Era bispo de Lamego D. João da Silva campos Neves. Foi o sacerdote espanhol , Pe. José Maria Ondategui, que organizou os dois primeiros cursos de homens e o primeiro de senhoras.
[35] ---O movimento resultou de uma iniciativa do Pe. Valente de Matos, da diocese de Aveiro, então a exercer funções de capelão militar, tendo realizado o Convívio nº 1, no Quartel de Castelo Branco, em Maio de 1968. Encontrando-se em Lamego em 1971, como capelão militar dos Comandos e dos Rangers, e com a ajuda dos Pes. Joaquim Silvestre e João André, abriu os Convívios aos jovens não militares em Lamego e daí nasceu o movimento que havia de expandir-se depois por todas as dioceses do país. (cfr. Jornal “Balada da união”, nº 276, Janeiro de 2006)
[36] ---Guia, A. Bento da / Cunha, J. Rodrigues da – Roteiro de Glória, Lamego - 1952
[37] ---Por informação de Mons. Bouça Pires que fez parte da equipa promotora, o Congresso Diocesano de Leigos (que preparou na diocese o Congresso Nacional), com o tema “ Nós, os leigos, também somos Igreja”, reuniu em Lamego, nos referidos dias, mais de 400 participantes, o que levou D. António Xavier Monteiro a dizer que se tratou da maior mobilização do laicado de que havia então memória.
[38] .---Almeida, Fortunato de – História da Igreja em Portugal ,vol. I, pág. 98,99- Porto-1967
[39] ---Oliveira, Miguel de – História Eclesiástica de Portugal, Lisboa -1958, pág. 208
[40] ---Almeida, Fortunato de – Obra citada, Vol. I, pág. 104 e 313
[41] ---Idem, idem – Obra citada, vol. I, pág. 481
[42] ---Idem, idem – Obra citada, vol. I, pág. 234
[43] ---Oliveira, Miguel de –Obra citada, pág. 294
[44] ---Azevedo, J. de –Obra citada, pág. 86-88
[45] ---Costa, Manuel G. da – Seminários e Seminaristas de Lamego, 1990, pág. 318, 319
[46] ---Costa, M. Gonçalves da – Seminários e Seminaristas de Lamego, 1990, pág. 52
[47] ---Azevedo, J. de – Obra citada, pág. 107. A reabertura do seminário só aconteceu em 7 de Novembro de 1859, depois de concluídas essas obras.
[48] ---Costa, M. Gonçalves da – Seminários e Seminaristas …, pág. 376
[49] ---Nota: A igreja das Chagas, que já fora entregue à Câmara pelo governo em 2 de Setembro de 1910, viria a ser cedida pelo Município à Santa Casa da Misericórdia, a quem actualmente pertence, em Junho de 1913.
[50] ---Oliveira, Miguel de – Obra citada, pág. 357
[51] ---Costa, M. Gonçalves da – Seminários e Seminaristas…, pág. 373-398; Segundo informações do Cónego Joaquim Rebelo, ilustre Vigário Geral da Diocese, D. Maria Joana faleceu em 15 de Agosto de 1941 e D. Maria Cândida, em 4 de Agosto de 1945. Foi após a morte desta última senhora que os bispos da diocese se instalaram na sua actual residência.
[52] ---Informação retirada de um trabalho de investigação sobre o assunto, feito e gentilmente cedido pelo senhor Pe. Fernando Mergulhão, Assistente Diocesano.
[53] ---Vasconcelos, A. G. Ribeiro de ---O Catholicismo durante o século XIX, Coimbra, 1901, pág.33
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