terça-feira, 30 de junho de 2009

Casa do Povo de Resende*

História das Casas do Povo - Antes do 25 de Abril
A Casa do Povo de Resende é herdeira do sistema corporativo do chamado Estado Novo que, em 1933, pelo Decreto-Lei n.º 23 051, instituiu as Casas do Povo com objectivos de cooperação social, visando associar os proprietários e trabalhadores rurais, fortalecendo os laços de afinidade entre todos fosse qual fosse o título jurídico ou a razão do interesse que à terra os unia e preservando “os traços particularistas e as reservas nacionais e espirituais do mundo rural”. A partir de 1940, passaram também a funcionar como instituições de previdência social, englobando a acção médico-social, assistência materno-infantil e protecção na invalidez, tornando obrigatória a quotização dos proprietários para os fundos de assistência. Contudo, os resultados mostraram-se escassos nesta área em contraste com as acções de cariz predominantemente político, sendo quase inexistentes no norte do país. Como o título de proprietário dizia respeito a parcelas de dimensões reduzidas e a aplicação do imperativo estatutário que os tornava contribuintes não correspondia a qualquer estatuto de privilégio económico, esta situação resultou na exclusão da quase totalidade dos potenciais beneficiários. Em 1969, com a Lei n.º 2144 de 29 de Maio, já no consulado de Marcelo Caetano, as Casas do Povo passam a assegurar de forma mais efectiva a previdência social e a dar continuidade à representação profissional dos trabalhadores agrícolas. É criado um fundo de previdência destinado a assegurar a assistência médica e medicamentosa na doença e na maternidade (para sócios efectivos e seus familiares), subsídio de doença, de casamento, de nascimento de filhos e de invalidez e doença (para sócios efectivos) e subsídio por morte do “chefe de família” (para familiares dos sócios efectivos), prevendo também que todos os trabalhadores que não reunissem condições para serem classificados como sócios efectivos viessem a beneficiar destas medidas, o que passou a acontecer no ano seguinte, com a publicação do Decreto n.º 445/70. É também instituída a prestação do abono de família. É devido ao cariz inovadoramente universalista destas medidas, para cuja satisfação o Estado assume a responsabilidade pelas transferências das verbas necessárias, que justifica a boa recordação que os idosos rurais ainda hoje conservam do último dirigente do corporativismo português.

Após o 25 de Abril
Com o novo ordenamento político, o regime jurídico a que se achavam submetidas as Casas do Povo veio a ser profundamente alterado através de normas de vários diplomas legais, tendo o Decreto-Lei n.º 4/82 redefinido um novo estatuto para estas instituições, que passaram a revestir a natureza de pessoas colectivas de utilidade pública de base associativa, com o objectivo de promover o desenvolvimento e o bem estar das comunidades, especialmente no meio rural. Entretanto, o Decreto-Lei n.º 185/85 extinguiu a Junta Central das Casas do Povo, transferindo as suas competências no que respeita ao apoio, fiscalização, exercício de tutela e gestão das Casas do Povo para os Centros Regionais de Segurança Social. Como estas relações de dependência e subordinação tutelar eram incompatíveis com o estatuto das Casas do Povo como pessoas colectivas autónomas, o legislador promoveu em 1990 uma alteração desta filosofia, passando as mesmas, através do Decreto-Lei n.º 246/90, a reger-se pelos preceitos do Código Civil aplicáveis às associações. Por último, o Decreto-Lei n.º 171/98, de 25 de Junho, veio a permitir que as Casas do Povo, desde que prossigam os objectivos previstos no Estatuto das Instituições Particulares de Solidariedade Social, sejam equiparadas às mesmas, aplicando-se-lhes o mesmo estatuto, deveres e benefícios, designadamente fiscais.

Resenha histórica da Casa do Povo de Resende
A Casa do Povo de Resende foi criada em 1942, sendo os serviços prestados no edifício do então Grémio da Lavoura e assegurados pelo Sr. Albino Diogo, que trabalhava para as duas instituições. O actual edifício data de 1956. Foi por essa altura que a Casa do Povo adquiriu uma máquina de projecção de filmes, possibilitando que houvesse em Resende uma sessão de cinema quinzenal. Em 1972, começou a funcionar aqui o Posto Médico da Caixa de Previdência, tendo o mesmo sido transferido, após o 25 de Abril, para o Centro de Saúde, ficando a Casa do Povo, a partir dessa altura, apenas com a gestão dos serviços do regime especial de previdência dos trabalhadores rurais. Em 1992, foi aqui criada uma Delegação do Centro Regional de Segurança Social de Viseu, o que esvaziou a Casa do Povo de todas as actividades ligadas a esta área (Cf. Resende e sua história, vol. 1, de Joaquim Correia Duarte). A direcção de então reorientou a sua acção para o desenvolvimento de actividades de carácter social e cultural. Na sequência do pedido formulado, a Casa do Povo goza desde 13 de Fevereiro de 2001 do estatuto de IPSS.
O edifício sofreu grandes obras de recuperação em 2001, graças a donativos da população. No hall do 1.º piso encontra-se uma placa alusiva com os nomes de empresas e pessoas do concelho que contribuíram com 50 contos.
Refira-se que no rés-do-chão, em instalações alugadas, funciona o serviço local da Segurança Social, prestando serviços a beneficiários e contribuintes e acompanhando as situações de carência sócio-económica.
A Casa do Povo tem cerca de 200 sócios, que pagam uma quota anual de 5 euros.

Actividades de promoção sócio-cultural
De acordo com os seus estatutos, a Casa do Povo tem por finalidade desenvolver actividades de carácter social, cultural, desportivo, recreativo, solidariedade social e outras. Assim, durante muitos anos, esta instituição foi praticamente a única entidade do concelho de Resende a disponibilizar espectáculos de cinema e teatro, organizando também múltiplas exposições de pintura, conferências, colóquios, sessões de convívio e outras actividades de cariz cultural. Actualmente, estas ofertas de natureza cultural são menores, pois têm de ser conjugadas com o programa e a agenda dos novos equipamentos da Câmara Municipal (Auditório, Celeiro das Caldas de Aregos e Museu Municipal). Na sequência de uma longa tradição, a Casa do Povo continua a organizar os bailes de fim de ano e de carnaval, uma sardinhada pelo S. João e o magusto de S. Martinho. Todas estas iniciativas estão abertas a sócios e não sócios.
Tem ainda protocolos de cedência de espaços para a realização dos ensaios do grupo de danças e cantares “Resende em Marcha” e do “Grupo Coral de Resende”. E sempre que é solicitada a disponibilizar o anfiteatro para a realização de iniciativas por parte de entidades e instituições do concelho, o pedido é satisfeito, desde que não haja sobreposição de datas.

Gestão de projectos e de equipamentos sociais
A Casa do Povo de Resende é a entidade gestora dos seguintes projectos na área da educação: i) uma turma do programa PETI (programa para a prevenção e eliminação da exploração do trabalho infantil), destinado a jovens a partir de 15 anos em abandono escolar, tendo como objectivo o cumprimento da escolaridade obrigatória dos mesmos e a sua certificação escolar e profissional, em que são parceiros a Escola Secundária/3.º Ciclo, a Câmara Municipal e a CPCJ (Comissão de Protecção de Crianças e Jovens); ii) projecto Educar e Qualificar, que tem como objectivo intervir junto de crianças e jovens com dificuldades económicas, não tendo por isso acesso a serviços e recursos indispensáveis ao seu desenvolvimento, em que são parceiros a Câmara Municipal, a Escola Profissional e a CPCJ; e iii) programa EPIS (empresários pela inclusão social), cujo objectivo é a promoção do sucesso escolar junto de alunos do 3.º ciclo, em que são parceiros a Associação EPIS, a Câmara Municipal e a Escola Secundária/3.º Ciclo.
Na sequência de protocolos assinados com a Câmara Municipal, a Casa do Povo de Resende assumiu há um ano a gestão da Creche e Jardim de Infância “O Miminho” e, mais recentemente, dos Centros Comunitários de S. Romão e de Felgueiras, tendo já celebrado para o efeito acordos com a Segurança Social. Relativamente aos Centros Comunitários, já foram assinados acordos prevendo apoio domiciliário a 12 utentes para cada um dos equipamentos, esperando-se para breve o acordo para 15 utentes da valência lar, ficando para resolução posterior o acordo para a valência centro de dia. Refira-se que o apoio domiciliário em S. Romão já se encontra a ser implementado, esperando-se que em Felgueiras tenha início em Abril.

Perguntas e respostas

Quem é o presidente da direcção da Casa do Povo?
É Albano António Alves Santos, que integra os órgãos sociais desde 1999, sendo presidente da direcção desde 2002. Actualmente tem bastante disponibilidade para o efeito, já que se encontra na situação de pré-reforma. Nascido em Angola, donde regressou em 1976, veio a integrar os quadros da EDP na qualidade de técnico de instalações eléctricas.

Quais os símbolos desta instituição?
Os símbolos heráldicos (brasão, bandeira e selo), devidamente aprovados pela Academia Lusíada de Heráldica em 2004, contêm um livro, que pretende realçar a defesa e promoção da cultura, um ramo de cerejeira, como sinal da sua ligação ao concelho através deste fruto emblemático, e a lira, que significa o cultivo da música e actividades de lazer. Estes símbolos consubstanciam o seu bilhete de identidade e os grandes objectivos que a norteiam.

Tem sala de convívio?
Desde há muitos anos que a Casa do Povo de Resende é o local preferido por várias pessoas (sobretudo reformadas) para aí passarem a tarde, jogando e conversando numa sala a isso destinada, estando disponível um pequeno bar.

Há no concelho alguma instituição que ajude a preencher impressos de IRS e outros documentos?
Sim. A Casa do Povo de Resende continua a prestar este serviço a quem não saiba ler ou tenha dificuldades no seu preenchimento.

Onde poderão dirigir-se as pessoas para fazer prova quinzenal da sua situação para efeitos de continuação do subsídio de desemprego?
Na sequência de uma parceria com o Centro de Emprego de Lamego, as pessoas desempregadas do concelho poderão dirigir-se à Casa do Povo de Resende e aí fazer prova da continuação da respectiva situação para efeitos de recebimento do subsídio de desemprego.

Endereço
Av. D. Afonso Henriques, 180
4660-211 Resende
Telefone e fax 254 877 400 E-mail: casa_povo_resende@clix.pt
*Apontamento da autoria de Marinho Borges, escrito para o Jornal de Resende (n.º de Fevereiro de 2009)

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Sessão de apresentação d' "A Viúva de Goujoim" em Resende*

Sessão de apresentação
Muita gente (entre familiares, amigos, párocos, docentes, presidentes de Junta de Freguesia, presidentes/directores de instituições concelhias, vereadores e presidente da Câmara Municipal), acorreu ao Auditório Municipal para a sessão de apresentação do último romance de J. Correia Duarte, A Viúva de Goujoim, que teve lugar no passado dia 25 de Abril, pelas 21h30.
Foi uma sessão com momentos variados e criativos, que incluiu interpretações musicais por um dueto (viola e violino) da banda de S. Cipriano "A Velha", leitura de pequenos excertos retirados do romance, a apresentação pelo Cónego João António Pinheiro Teixeira, a saudação do autor, Dr. Joaquim Correia Duarte, e a intervenção do presidente da Câmara Municipal, Eng. António Borges.
A vereadora da cultura, Prof. Dulce Pereira, deu vida a três pequenos textos do livro, imitando nos respectivos diálogos o linguajar e a pronúncia característica das gentes das nossas aldeias e o linguajar e o sotaque brasileiro. Foi uma forma diferente de apresentar o livro, que encantou os presentes, motivando-os para a sua leitura.
O Doutor João António Teixeira, Reitor do Seminário de Lamego, introduziu magnificamente a obra, realçando-lhe a policromia e versatilidade, e apresentou o autor, sublinhando que é um homem de muitos recursos e que nunca se esquece do pé que pisa. "Respira Resende e sabe de Resende, cujos textos têm ressonâncias telúricas", afirmou. Definiu ainda o autor do romance como um homem de escola e de escol.
O Dr. Joaquim Correia Duarte abriu um pouco o véu sobre a origem/inspiração do romance, cujo ponto de partida foi uma história contada recentemente por um colega sacerdote de Armamar. Situou a narração no contexto da época da emigração para o Brasil, agradecendo, de forma emotiva, o apoio da família (e de um modo particular das irmãs), o interesse dos leitores, a colaboração de amigos e o contributo da Câmara Municipal.
O Eng. António Borges encerrou a sessão, referindo que a afirmação de Resende na sua marca identitária muito deve ao Sr. P. Joaquim Correia Duarte. Enalteceu a importância da postura humana e da dimensão cultural do autor e respectivo contributo para o enriquecimento da comunidade em que nos inserimos. Citou, a propósito, Fernando Pessoa, que escreveu: "há duas espécies de poetas/(escritores)-os que pensam o que sentem e o que sentem o que pensam", dizendo a terminar que o Sr. P. Joaquim faz parte desta estirpe de escritores.

Amor e saga dos “brasileiros”
Como se pode ler na contra-capa, o livro relata os tempos em que os portugueses sonhavam com o Brasil como se do Éden se tratasse e, em verdadeiras multidões, entravam nos grandes vapores que cruzavam o Atlântico, lançando-se no desconhecido à procura da fortuna. Alguns, bafejados pela sorte, voltaram emproados e ricos, tendo erguido palacetes e chalés nas terras de origem. Outros, a maioria, menos afortunados, por lá ficaram sem darem mais notícias. Os dramas e a solidão de quem foi obrigado a emigrar e a viver longe da pátria e da família encontram-se bem retratados neste livro. O maior diz respeito a um jovem que deixou o rincão natal para esquecer uma paixão que só muito mais tarde foi correspondida e que, por um infortúnio trágico, não logrou alcançar e concretizar.
Mas o melhor é ler o romance para seguir a trama e o desenrolar das várias histórias por Sangens, Aregos, Moumiz, Felgueiras e outras localidades do nosso concelho, de Armamar e do Brasil.
Refira-se que o autor teve a preocupação de verter para os diálogos o linguajar das gentes das nossas aldeias e do Brasil, dando assim mais realismo e vivacidade às várias histórias e personagens, “de ficção, sem dúvida, mas que configuram pessoas reais e ocorrências documentadas”, como refere o Doutor João António Pinheiro Teixeira no prólogo do livro. Uma outra característica desta obra é o rigor posto na geografia física e humana das localidades onde se desenvolve a acção, na denominação fiel das ruas, bairros e outros agregados populacionais do Brasil de então, na descrição do contexto social da época e em outros pormenores, o que revela uma grande investigação prévia,

Aquisição do romance
O romance encontra-se à venda nos Postos de Turismo de Resende e das Caldas de Aregos, no Museu Municipal, na Papelaria Lina e Couto (Resende), Livraria Gráfica (Lamego), Livraria Latina e Livraria Educação Nacional (Porto), Livraria 115 (Coimbra) e Livraria Ferin (Rua Nova de Almada/Lisboa). Pode ainda ser pedido directamente ao autor através do telef. 254 877 687, tlm. 912 886 413 e 966 415 180 e e-mail: correia-duarte@sapo.
*Apontamento escrito por Marinho Borges para o Jornal de Resende, número de Maio de 2009

segunda-feira, 15 de junho de 2009

CLUBE DESPORTIVO DE S. MARTINHO DE MOUROS APOSTA NO FUTSAL*

Origem do Clube Desportivo, Recreativo e Cultural

As gentes de S. Martinho de Mouros sempre tiveram grande apetência e paixão pelo futebol. Foi nesta vila que nasceu a primeira equipa estruturada do concelho, denominada “Football Club de S. Martinho de Mouros”, cuja apresentação ocorreu em 7 de Janeiro de 1923 em jogo disputado com o “ Lamego Football Club”. Faz parte da memória dos mais velhos o ambiente de grande animação que rodeava as tardes de domingo, durante os jogos de futebol, disputados pelos mais jovens no recinto defronte da escadaria da igreja do Senhor do Calvário e, mais tarde, no largo da Feira Nova. Antigos jogadores relatam com orgulho a forma como conseguiam apresentar o piso com condições mínimas para jogar em dias de chuva, revestindo-o de terra seca ou areia. Nos anos sessenta e setenta do século passado, S. Martinho de Mouros chegou a integrar os torneios organizados pela então FNAT (Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho), afirmando-se como um dos melhores clubes da região. No início da década de oitenta, por falta de um campo de futebol com condições mínimas exigidas, não foi possível prosseguir os torneios nem sequer efectuar jogos com equipas das freguesias vizinhas.

Face a esta carência, o presidente da antiga Casa do Povo, Alípio Pereira de Faria, tomou a iniciativa de mandar fazer um campo de futebol em Vila Verde, cuja construção se iniciou em 1982, tendo ficado com condições mínimas para aí se jogar à bola um ano depois. Os balneários foram feitos a seguir com o contributo dos jogadores e adeptos do futebol local da altura. A fim de preencher os requisitos mínimos para a integração em torneios, outras obras tiveram de ser feitas, as quais só terminaram em 1988. Por isso, só nesse ano se procedeu à respectiva inauguração, tendo sido convidada uma equipa de prestígio, o Boavista Futebol Clube, patrocinada pelo Sr. Manuel Pereira, das Caves Cristal da Suíça, cujo resultado foi favorável à equipa visitante por 5-1. Este acontecimento despertou um enorme entusiasmo e teve grandes repercussões na freguesia, tendo despoletado a necessidade da formação de uma associação desportiva. E assim nasceu o Clube Desportivo, Recreativo e Cultural (CDRC) de S. Martinho de Mouros, cuja escritura foi efectuada em 26 de Outubro de 1989.

Victor Joaquim Cardoso Baptista encarregou-se da concepção e desenho do emblema identificativo do clube, tendo a respectiva bandeira sido paga pelos doze membros fundadores do mesmo. Os primeiros órgãos sociais da recém-formada associação foram constituídos a partir do núcleo fundador, tendo a direcção sido formada pelos seguintes elementos: António Pereira Lopes de Azevedo (presidente), Manuel da Silva (tesoureiro), Mário João Rebelo Osório de Faria (1.º secretário), Manuel Rodrigues Lourenço (2.º secretário) e José Pinto (3.º secretário).

O clube começou por participar no campeonato do Inatel na época desportiva de 1990/91, tendo ficado no 2.º lugar. Em 1991/92, entrou para a 3.ª divisão distrital e, no ano seguinte, ascendeu à 2.ª divisão distrital, onde militaram várias anos, tendo constituído um clube de referência do concelho e onde se formaram e passaram muitos atletas. Nesta década, foram realizados vários melhoramentos no campo de futebol, tendo o mesmo sido alargado e efectuadas obras de requalificação nas bancadas e nos balneários.


Equipa de futsal

Tendo em conta as exigências e os custos associados à manutenção do futebol federado para uma equipa inserida em meio rural, o CDRC de S. Martinho de Mouros desistiu desta modalidade, preferindo apostar na formação de uma equipa de futsal, o que aconteceu em 2004. E foi uma opção acertada, pois os bons resultados obtidos são disso uma demonstração. Na época de 2004/05, disputou o campeonato distrital da 1.º divisão (série única) de Futsal da Associação de Futebol de Viseu, integrando 16 clubes, tendo ficado em 3.º lugar. Na época seguinte 2005/06, obteve o 7.º lugar do mesmo campeonato da Série Norte, que integrou 11 clubes, tendo a Série Sul sido constituída por 12 equipas. Nesse ano, veio a obter o 1.º lugar na Liguilha, disputada por 4 clubes. Em 2006/07, o CDRC ascendeu à divisão de honra de Futsal da AF de Viseu, tendo obtido o 5.º lugar, de entre 12 equipas. Na época transacta (2007/08), ficou na 5.ª posição da mesma divisão, de entre 12 equipas. Na presente época, com 9 jogos disputados por igual número de equipas da época passada, o clube de S. Martinho de Mouros encontra-se a meio da tabela. Em juniores, participou no respectivo campeonato nas épocas de 2005/06 e 2006/07, tendo obtido, respectivamente o 2.º e 3.º lugares.


Dinâmica e festa do jogo

As dimensões do campo (40m de comprimento por 20m de largura), o menor peso e tamanho da bola, o reduzido número de jogadores por equipa (cinco, incluindo o guarda redes), o número livre de substituições e a ausência de foras de jogo, entre outras características, transformam esta modalidade num espectáculo de emoções fortes. Concretizando melhor algumas destas especificidades em relação ao futebol, importa salientar as seguintes: um jogador substituído pode voltar ao campo para substituir qualquer outro jogador; uma substituição pode efectuar-se sempre, esteja ou não a bola em jogo, devendo apenas o atleta que entra ou sai fazê-lo pelo sector especifico; a partida compreende dois períodos de 20 (vinte) minutos cada um, sendo o jogo cronometrado, de forma a contabilizar o tempo da bola em jogo; o intervalo tem a duração de 10 minutos; e cada equipa pode pedir um minuto de “tempo morto” em cada um dos intervalos para descansar ou receber instruções.

A elevada velocidade e agilidade de movimentos, a rápida aceleração e mudança de direcção em espaço reduzido, compartilhado por adversários e colegas de equipa, a capacidade de concentração, a rapidez de percepção das movimentações em campo e o talento de previsão para a adequada decisão constituem factores mais que suficientes para levar as pessoas ao Pavilhão de S. Martinho de Mouros, sábados à tarde.

Logo que o actual treinador, Prof. José Fernando de Almeida, me informou que o lema do futsal era “ataque e contra-ataque” resolvi fazer-me sócio do clube, prometendo reservar muitos sábados para assistir a este espectáculo recheado de imprevisibilidade, dinamismo e alegria, desenvolvido por uma equipa jovem e empenhada.


Intendência do clube

A “mística” da equipa, baseada no desportivismo, amizade e combatividade, é o combustível que a todos move. Ninguém ganha dinheiro nem há quaisquer gratificações. O clube apenas paga as refeições e lanches aquando dos jogos, ajuda os atletas na aquisição das sapatilhas e concede um subsídio para as deslocações para os treinos e jogos em S. Martinho de Mouros. Em jogos fora de casa, o transporte é efectuado numa carrinha do clube, cuja aquisição foi possível graças à comparticipação da Câmara Municipal de Resende e da Junta de Freguesia de S. Martinho de Mouros.

A gestão tem de ser rigorosa, pois, apesar de tudo, as despesas são muitas (filiação do clube e inscrição dos jogadores na AF de Viseu, exames médicos, policiamento, taxas de jogo…).

A Câmara Municipal tem concedido anualmente um subsídio de 6.000 euros e a Junta de Freguesia um outro no valor de 1.000 euros. O resto das receitas advém das quotas dos sócios (10 euros anuais), da exploração do bar da sede no pavilhão municipal, das angariações no cantar dos Reis/Janeiras, da venda de galhardetes, bonés e cachecóis, de fundos obtidos com um stand de comes e bebes montado na festa do Senhor do Calvário e de patrocínios de algumas empresas locais, designadamente a de Emídio Horácio que fornece gratuitamente os kispos, fatos de treino e equipamentos dos jogos.


Perguntas e respostas


Por quem é constituída a direcção do CDRC?

A direcção é constituída pelos seguintes elementos: José Manuel Xavier (presidente), Jorge Manuel Almeida Fonseca (vice-presidente), Manuel Fernando Rodrigues Xavier (secretário), José Manuel Castro António (tesoureiro) e Pedro Miguel Rodrigues Carvalho (vogal), que é o capitão da equipa.

O grande objectivo desta direcção é lutar pela classificação da equipa em lugar acima do meio da tabela e conseguir que a associação atinja cem sócios com as quotas em dia.


Quantos elementos integram o plantel e a equipa técnica?

O plantel é actualmente constituído por quinze jogadores, dos quais quatro vieram dos juniores, integrando a equipa principal pela primeira vez na presente época.

São provenientes de diferentes freguesias do concelho, com predominância de S. Martinho de Mouros e de Resende, havendo dois que vivem no concelho de Baião e um no concelho de Mesão Frio.

Treinam duas vezes por semana (às terças e quintas feiras) das 20 às 22 horas, sob o comando do Prof. José Fernando Rodrigues de Almeida, coadjuvado pelos treinadores adjuntos Nelson Almeida e Vitorino Ferro (antigo jogador).

O Enf. Ricardo Quintino dá o apoio possível, garantindo a boa forma física dos jogadores.


Tem havido transferências?

A equipa tem vivido sempre com a prata da casa, investindo na formação dos mais novos. Devido ao seu valor, tem havido jogadores aliciados por outros clubes O caso mais conhecido foi a transferência do guarda redes Ronaldo para a equipa de Futsal do Boavista. Desde o final da época passada, são quatro os jogadores da equipa de futsal de S. Martinho de Mouros que se encontram actualmente noutros clubes. Assim, o Marcos, o Samuel e o Prof. Rui Rebelo (ex-treinador e jogador) foram para o Grupo Desportivo de Resende. Por sua vez, o Serginho integra actualmente a equipa de Futsal de Balsa-Nova, que disputa a 3.º divisão nacional.


O que fazer para assistir aos jogos?

Os jogos em casa (Pavilhão Municipal de S. Martinho de Mouros) do campeonato e da taça disputam-se aos sábados com início às 16h. Os interessados apenas têm de desembolsar a módica quantia de um euro, o que constitui um valor simbólico. Costumam assistir à volta de oitenta pessoas. O clube tem uma página na internet sempre actualizada, com a história e dados relevantes, onde os interessados poderão consultar o calendário e os resultados dos jogos (http://smmfutsal.com.sapo.pt)

*Texto de autoria de Marinho Borges, publicado no Jornal de Resende, no número de Janeiro de 2009

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Homenagem ao Sr.Miranda, um carteiro de excepção*

De seu nome completo, Luís Soares Borges de Miranda, conhecido por Sr. Miranda, nasceu em 10 de Janeiro de 1925, em Vilar de Barrô. De família modesta, teve mais quatro irmãos, tendo tirado a antiga quarta classe, o que não era muito comum na época. Ainda trabalhou em tarefas relacionadas com a verificação de marcos do rio Douro antes de iniciar, aos dezoito anos, a carreira de carteiro que exerceu ao longo de quarenta anos.

Começou pela distribuição na freguesia de Barrô. Após a Sra. Leopoldina chegar de Barqueiros com a mala da correspondência, transportada até lá pelo comboio correio, e posterior abertura em casa do Sr. Francisco da Fonseca Sebes, no Rossio/Vilar, começava a caminhada do jovem carteiro pelas aldeias da freguesia. Foi uma espécie de estágio, pois só aqui esteve dois anos, tendo sido depois transferido para Resende, onde permaneceu um ano.

Aos 21 anos, entrou para a estação dos correios de S. Martinho de Mouros, onde permaneceu praticamente até se reformar, em 1985, tendo granjeado por aquelas bandas grande simpatia. As suas virtuosidades como carteiro permanecem ainda bem vivas. Depois de comer o almoço, que trazia numa marmita, em casa do “Ar Limpo”, começava o giro para entrega do correio, que entretanto o “Chico das malas” tinha trazido de Porto de Rei. O percurso era longo: Cavalhão, Peneda, Testamento, Santa Eulália, Silva, Póvoa, Cardoso, Moita, Vale de Paus, Carvalhos, Quintãs, Vinha Velha, Eira Velha, Formigal, Lugar, Cantim de Baixo e Moinhos. Dia após dia, pelas veredas lamacentas de Inverno ou pelos caminhos poeirentos de Verão, sempre a pé, devidamente fardado, era uma rotina que se traduziu em muitos milhares de quilómetros. A distribuição era feita porta a porta, com entrega personalizada. Só excepcionalmente, quando ocorriam atrasos ou em dias mais curtos, puxava da corneta e gritava “correio”, esperando que aparecesse alguém que seria o portador da correspondência para a respectiva povoação.

Desta herança ficou um rasto de grande humanidade. A sua simpatia era inexcedível. Como conversador nato, estava sempre disponível para aceitar um copo, condimentado por um bocado de chouriço ou salpicão, como pretexto e ritual para discorrer sobre as últimas notícias do mundo, do país e da vida local. Nunca tinha pressa. Além de distribuir o correio, vendia selos e postais, nunca dizendo que não a quem lhe pedia para ler uma carta ou postal. Encarregava-se de aviar receitas médicas e embalagens de medicamentos para as pequenas maleitas na Farmácia de S. Martinho de Mouros, facilitando a vida de quem precisava. À pergunta: “Sr. Miranda, há correio?”, respondia sempre que não havia correspondência: “Vem amanhã”.

Era também um homem determinado. Ainda hoje, é lendária a forma como evitou a morte de mais pessoas em Santa Eulália numa grave escaramuça, ocorrida numa tarde fatídica nos finais dos anos sessenta, de que resultou um morto. Com grande sangue frio, correu para o homicida, tendo-o imobilizado e arrancado os botões das calças para o impedir de fugir, o que permitiu que fosse preso passado pouco tempo pela GNR. Embora o mesmo tivesse sido condenado a doze anos de prisão, viria a manifestar compreensão e até apreço pelo gesto do Sr. Miranda, pois, durante todos os anos em que esteve na cadeia, fez questão de lhe oferecer um par de botas feitas por si. Este acontecimento teve grande repercussão na época, tendo merecido a atenção dos CTT, que o homenagearam através da atribuição de um louvor escrito e de uma medalha da empresa.

A simpatia e dedicação deste homem singular e profissional de excelência não tinham preço. Por alturas de S. Martinho, num gesto de retribuição, as pessoas das Quintãs, Eira Velha e Formigal faziam questão de lhe oferecer um saco ou dois de castanhas. Durante vários anos, foi o seu filho Luís Miranda, actual co-proprietário do café Sangens de Resende, quem as transportou até Barrô.

Em 1979, foi tempo de deixar o giro de distribuição e dar lugar aos mais novos, para trabalhar em tarefas de balcão na estação dos CTT de S. Martinho de Mouros. Pelo Verão, ainda foi fazendo alguns giros em regime de substituição em freguesias do concelho de Resende e de outros concelhos, até à reforma que ocorreu em 1985.

Até à sua morte que aconteceu em Setembro de 2004, viveu tranquilamente os últimos anos na sua aldeia natal de Barrô, tendo-se dedicado ao cultivo das suas pequenas propriedades. Os últimos dias de sofrimento no hospital de Lamego foram amenizados pelas muitas visitas de amigos que foi fazendo ao longo da sua exemplar vida carteiro.


*Texto de autoria de Marinho Borges, publicado no Jornal de Resende em Dezembro de 2008.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Trabalho no Douro: das rogas aos angariadores*

Ano após ano, homens mulheres e algumas crianças, integrados em rogas, rumavam a pé até às estações da Ermida e Porto de Rei, onde apanhavam o comboio para as vindimas, regressando a casa após o seu término . A dureza do trabalho era amenizada por duas a três semanas de convívio, onde não faltava música e dança, noite dentro. Agora, são viagens diárias esgotantes, de madrugada e à tarde, onde falta o conforto e sobra o cansaço. É o ritmo imposto por novas relações de trabalho mediadas por angariadores.

Sina do Douro
Joaquim B. tem 58 anos, mas aparenta mais dez. Desde os nove, na senda dos pais e irmãos mais velhos, aprendeu a calcorrear os socalcos do Douro, primeiro nas vindimas e mais tarde na poda. Frequentou a escola durante seis anos, mas não aprendeu a ler nem a escrever. Apenas conhece os números e sabe fazer contas de cabeça. Antes do início das aulas, em Outubro, já tinha vindimado e carregado muitas cestas de uvas na zona da Régua ou do Pinhão, ganhando a vida precocemente numa vida sem infância. Ler, escrever e contar estavam a mais, não vendo na sua aprendizagem qualquer interesse. Canalizava as energias a distrair os colegas nas aulas e a fazer malfeitorias nos recreios e nas deslocações para a escola e para casa. Os fins de tarde, os sábados e domingos estavam reservados para guardar o gado e ajudar os pais no amanho das terras. Terminado “o martírio” da escolaridade obrigatória, continuou a vida dura nos campos, intervalada pela ida às vindimas e mais tarde à poda.
Casou cedo, aos vinte e um anos. A tropa não o levou até à guerra de África. Não engrossou a avalanche da emigração para Lisboa, França, Alemanha ou Suíça. Foi caseiro durante quinze anos de uma pequena quinta, o que lhe permitiu ir sempre ao Douro. Depois adquiriu uma casa com uma pequena propriedade, trabalhando desde há cerca de vinte anos quase em permanência em quintas vinhateiras. Duas das filhas conheceram os maridos no trabalho do Douro. Exceptuando a época das cerejas, desde há cerca de dez anos que sai de casa pelas cinco horas da madrugada, regressando pelas dezoito horas numa carrinha dos angariadores, designados como “empreiteiros” pelos trabalhadores. Alguns dos vizinhos são pessoas da sua idade, que regressaram às origens, com reformas razoáveis. Joaquim B. continua no activo, quase sem nada, desconhecendo o que o espera, pois foi sempre um trabalhador “clandestino”, não tendo efectuado quaisquer descontos para a segurança social.

Rogas
Há cinquenta anos ranchos de homens, mulheres e algumas crianças partiam, por volta da festa de Nossa Senhora dos Remédios, das diversas freguesias do concelho rumo às vindimas do Douro. Iam a pé até Porto de Rei e Ermida, normalmente ao som da concertina e, por vezes, também do bombo, ferrinhos e do cavaquinho, onde apanhavam o comboio rumo à Régua, Pinhão e outras estações mais próximas do destino das quintas. Os homens levavam a trouxa, um pau para segurar o cesto vindimo e um saco com roupa e pão. As mulheres transportavam uma cesta na mão para colocar as uvas e um cesto ou saco à cabeça com roupa e pão. Permaneciam no Douro cerca de vinte dias.
Trabalhava-se de sol a sol. Os homens carregavam os cestos ao longo das encostas íngremes até ao lagar, podendo, conforme as distâncias, haver poisos para descansar. Às mulheres competia-lhes ter os cestos cheios na volta dos homens. Os rapazes tinham a incumbência de transportar as cestas, despejando-as nos cestos vindimos. Se a distância do lagar era considerável, poderia ficar combinado como objectivo do dia o enchimento e o transporte de um certo número de cestos de uvas, por exemplo, dez por cada homem, findos os quais terminava o trabalho.
Mas aos homens estava reservado ainda diariamente, após o jantar, a pisa das uvas. Lado a lado, abraçados e liderados pelo mandador, cortavam o lagar ao mesmo compasso: esquerdo/direito, um, dois, três, como se estivessem numa parada militar. Exigia-se um ritmo vigoroso, marcado pela disciplina para que da pisa nascesse um grande vinho. Depois de cortado o lagar, uma tarefa que durava cerca de quatro horas, cantava-se a liberdade: “Liberdade, liberdade/quem a não tem/já não é sua/quem não tem a liberdade/de sair à noite à rua/são tão bonitas as capoeiras/são mais bonitas as feiticeiras/Oh! que belo rancho da mocidade/Cantam as raparigas/Viva a liberdade!” À saída do lagar, já depois da meia noite, os homens lavavam os pés e as pernas. As mulheres esperavam-nos ansiosamente para o convívio e baile no terreiro, que se poderia prolongar até à uma e meia, duas horas da madrugada.
Seguia-se a dormida em palheiros e lagares, onde cada um (a) se cobria com uma manta, tendo uma tarimba ou um bocado de palha ou roço a sevir de colchão.
As mulheres levantavam-se primeiro, comiam uma côdea de pão como mata-bicho e levavam os cestos. Depois apareciam os homens, aconchegados com aguardente, para carregarem o primeiro cesto já cheio de uvas. Competia a cada um enganar a fome durante a manhã, trazendo ou não consigo um naco de pão. A ementa do almoço para os homens e rapazes era composta de batatas, acompanhadas de sardinhas, frango ou bacalhau e uma caneca de vinho. Às mulheres só estavam reservadas umas sardinhas simples ou azeitonas, sem direito a vinho. A ementa do jantar era quase idêntica, acrescida normalmente de caldo.
O salário diário de um homem há cinquenta anos rondava os vinte escudos (dez escudos pelo carregamento dos cestos, durante o dia, a que se somavam mais dez pelas quatro horas da pisa das uvas, durante a noite). As mulheres e rapazes até aos treze anos ganhavam cerca de oito escudos.
O rogador tinha um prémio suplementar de um escudo, ganhando, por isso, vinte e um escudos. Era o coordenador e responsável pelo cumprimento das directrizes e ordens do feitor ou dono da quinta, não carregando cestos. O tocador também não carregava, fazendo normalmente trabalhos de limpeza na adega e lagares.
A roga para a poda era constituída por homens e alguns rapazes, que ajudavam e faziam recados, aproveitando para aprender a “arte”. Partia por alturas dos santos (início de Novembro), regressando nas vésperas de Natal. Partia de novo em princípios de Janeiro, regressando definitivamente em meados de Março. Esta situação foi evoluindo, de tal forma que, nos últimos tempos, os homens regressavam sexta-feira à tarde e retornavam às segundas-feiras de manhã.

Mudança de ciclo
A reorganização empresarial, a selecção de castas, o aparecimento da vinha ao alto, a mecanização da viticultura, os lagares com robô, as adegas com inox e a aplicação de novos conhecimentos e procedimentos científicos revolucionaram o Douro vinhateiro nos últimos vinte anos, impondo novas necessidades e novos dinamismos na gestão de mão de obra.
Nas vindimas os tractores chegam a todo o lado, evitando carregamentos penosos de cestos para longas distâncias. A pisa tradicional já é rara, o que torna desnecessária a permanência de homens pela noite dentro.
As novas vias de comunicação, ligando todas as aldeias, facilitaram a mobilidade. As pessoas criaram novos hábitos nas interdependências entre a vida pessoal e profissional, não prescindindo do conforto da vida moderna à noite e ao fim de semana. Preferem jantar e dormir em suas casas, mesmo que isso acarrete percorrer grandes distâncias.
Por sua vez, tal como já fazem alguns organismos do Estado e muitas empresas, é mais fácil e barato as quintas do Douro “contratarem serviços”de acordo com as necessidades, não tendo quaisquer responsabilidades contratuais com trabalhadores.

Aparecimento de angariadores/”empreiteiros”
Estas mudanças levaram ao desaparecimento das rogas tradicionais com a permanência de ranchos de homens e mulheres ao longo de todo o ano no Douro, com mais incidência nas vindimas e na poda. Agora as necessidades de mão de obra são resolvidas entre os feitores/responsáveis pelas quintas e os angariadores/”empreiteiros”.
O montante, baseado em salários diários de homens e mulheres ou na quantidade de quilos de uvas apanhadas, é combinado com os angariadores/”empreiteiros”. Não há qualquer relação entre os donos das vinhas e os trabalhadores. São os angariadores/empreiteiros que transportam as pessoas, lhes fornecem a alimentação (se for o caso) e lhes pagam.

Importância do Douro na economia de Resende
No nosso concelho, os antigos rogadores deram origem a cerca de 15 angariadores/empreiteiros de mão de obra para o Douro. Alguns deles adquiriram diversas carrinhas para o transporte de pessoal. Sobretudo em Setembro, por alturas das vindimas é um rodopio pelas várias aldeia na recolha de trabalhadores logo pelas cinco da manhã e na volta pelas cinco/seis da tarde. São três/quatro horas extenuantes de viagem por dia, por vezes, desrespeitando a velocidade estabelecida e a lotação prevista. Não é raro a deslocação ser feita em camionetas de transporte de materiais, de caixa aberta.
O vencimento diário para os vindimadores anda à volta de 25 euros e para os carregadores de cestos ronda os 30 euros, incluindo uma refeição fornecida pelos angariadores/ “empreiteiros”. Na poda e no trabalho ao longo do ano, a diária anda à volta de 25 euros, caso inclua uma refeição, e de 30 euros a “seco”.
Calcula-se que as vindimas mobilizem cerca de 500 pessoas de todo o concelho (dos quais vários estudantes) e a poda 200. Em tarefas ao longo de grande parte do ano, andarão no Douro 130 trabalhadores. Muitos conciliam estes trabalhos com outros biscates e com o cultivo das suas terras. A maioria, ao que parece, não faz quaisquer descontos para o IRS ou para o sistema da segurança social. Deste “exército” fazem parte pessoas do rendimento social de inserção e reformados. Tudo indica que só uma minoria tem contratos de trabalho devidamente firmados.
É difícil quantificar os lucros de intermediação obtidos pelos angariadores/”empreiteiros”. Aí o segredo é a alma do negócio. Todos declaram a adequação à lei da sua actividade e o cumprimento de todos os procedimentos. “Não sou como alguns candongueiros ou mixordeiros que andam por aí”, afirmam mais ou menos assim, quando se lhes pede para aclarar o carácter reservado das linhas com que se cosem.
Devido à escassez de ofertas de emprego e à falta de outras oportunidades, o trabalho no Douro, embora envolvendo grande precariedade, continua a ser fundamental para o concelho.

*Apontamento de minha autoria, publicado no Jornal de Resende em Setembro de 2008
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