quarta-feira, 1 de abril de 2009

Associação Amigos de Loureiro organizou desfile de Carnaval*

“Portugal, o País das Maravilhas”

Em tarde solarenga, realizou-se mais um desfile de Carnaval pelas principais artérias de Resende, que atraiu várias centenas de pessoas. Oito carros alegóricos, integrando oitenta figurantes, um grupo de bombos e um outro de sambistas marcaram o ritmo e encheram de colorido o trajecto do percurso.

Durante a manhã, entraram em acção vários animadores de rua, preparando e criando um ambiente de festa. Cerca das 15h00, chegaram junto da sede dos bombeiros os primeiros foliões e carros alegóricos, devidamente decorados. Após percorrerem as ruas principais, os mesmos começaram a avistar-se do largo em frente ao edifício da Câmara Municipal quando eram cerca de 16h00, altura a partir da qual Miguel Ângelo Pinto foi explicando, através da instalação sonora, o enredo do cortejo, subordinado ao tema “Portugal, o País das Maravilhas”.

A primeira viatura pretendia retratar o fenómeno do carjacking, fazendo o contraponto da actualidade com os tempos pré-históricos em que os nossos antepassados (concebidos à maneira dos Flinstones ) usavam a pedra lascada como arma. O segundo carro dizia respeito à prestação de Portugal nos recentes Jogos Olímpicos, em que se destacavam dois atletas medalhados e se ironizava com Marco Fortes, o da afirmação “de manhã é para estar na caminha”. O terceiro dizia respeito ao êxito do “Magalhães” e ao seu grande aficionado e “construtor” Sócrates. A quarta e quinta viaturas faziam humor com a mudança da presidência da Câmara Municipal (Dinossauro e Special One). A sexta retratava as burlas e fraudes no BPN e a prisão do Oliveira e Costa. A sétima homenageava o génio futebolístico de Cristiano Ronaldo. E a última figurava um enterro, procurando transmitir o mal estar que se está a viver entre os docentes nas escolas.

Após desfrutarem deste espectáculo, que já faz parte do programa da terça-feira de Carnaval do nosso concelho e das aldeias de concelhos vizinhos, as pessoas tiveram oportunidade de se dirigir ao Largo da Feira, onde decorreu um baile, abrilhantado pela Banda Raio de Sol, oferecido pela Câmara Municipal de Resende.

Em jeito de fim de festa, a comissão organizadora ofereceu aos participantes no desfile e a todos os foliões um lanche-convívio, onde foi grelhada carne correspondente a dois porcos previamente adquiridos.

A organização agradece a todas as pessoas e instituições que contribuíram para o êxito do desfile, designadamente a Câmara Municipal, a Junta de Freguesia, casas comerciais, Luís Loureiro (pela disponibilização das garagens onde se arranjaram os carros alegóricos), Silvano Moura (filho) e aos vários “artistas” de expressão plástica.

Associação Cultural Amigos de Loureiro e Ermida na origem e organização do desfile

Tudo começou há cerca de dez anos, quando por divertimento e informalmente um grupo de pessoas de Loureiro aproveitou o Carnaval para chamar a atenção dos responsáveis locais para obras a efectuar ou para necessidades a que era necessário fazer face, no quadro da boa disposição e da criatividade subjacentes a esse período. Em 2001 e anos seguintes, o atrevimento de alguns fez com que os foliões desfilassem pela vila, mostrando as máscaras, decorações e deixas reivindicativas. A experiência acumulada e a evolução na maturidade do grupo permitiram que se fosse consolidando o projecto de organização de um desfile de Carnaval na vila, através da criação de carros alegóricos com sátiras e humor inspirados em temas e motivações de ordem local e nacional. Em 2005, teve lugar o primeiro desfile devidamente organizado, anunciado através de cartazes pelo concelho, tendo esta iniciativa sido repetida nos anos seguintes. A fim de permitir solicitar apoios da Câmara Municipal, estabelecer protocolos, receber donativos e garantir a continuidade do projecto, houve necessidade de formar uma associação, que foi registada em 14-09-2007 e designada por Associação Cultural Amigos de Loureiro e Ermida.

Esta é a sua principal iniciativa, cuja organização é levada muito a peito. A título de exemplo, basta dizer que a escolha do tema e o “enredo” do desfile deste ano foram efectuados logo em 10 de Janeiro e os ensaios e trabalhos de preparação começaram no dia 17 do mesmo mês. A partir desse dia, um grupo variável de entre 5 a 7 pessoas trabalhou sempre de segunda a sexta-feira, das 21h às 24h, e aos sábados, da parte da tarde, concebendo e fazendo caricaturas ou contribuindo com trabalho de carpintaria, design, pintura e outras artes para o “puzzle” do desfile. Este grupo multidisciplinar, que integra os órgãos sociais, é formado, entre outros profissionais, por professores (com apetência para as expressões plásticas), pintores, carpinteiros, mecânicos e bate-chapas.

Outras actividades desenvolvidas pela Associação

Sobretudo a partir do início do ano passado, tem desenvolvido um programa variado de actividades. Pelo dia de Reis, cantou as Janeiras em Loureiro e junto das casas comerciais da vila, onde teve óptima recepção. Organizou uma sardinhada pelos santos populares, o tradicional magusto pelo S. Martinho e a festa de reveillon. Levou a efeito torneios de jogos da malha e da sueca, uma prova de carros de rolamentos e um concurso de pesca. Estas actividades ou a maioria delas são para ter continuidade no futuro, podendo ser consultadas no seu blogue (http://acale.blogspot.com).

A sede da instituição funciona na ex-escola do 1.º ciclo de Loureiro, apetrechada com um bar, que normalmente está aberto aos sábados e domingos à tarde. Por estrear encontra-se uma cozinha, devidamente equipada, que poderá fornecer refeições para eventos internos e para festas e comemorações, como despedida de solteiros.

É de referir que a associação tem cerca de 200 sócios, que pagam uma quota anual de 5 euros.

*Texto de minha autoria, publicado no Jornal de Resende (número de Março de 2009)

Recriação do Carnaval tradicional em Paus*

Tradições de Carnaval

Até à década de sessenta do século passado, várias aldeias de Paus, com especial destaque para Córdova, levavam a preceito o despique entre raparigas e rapazes na manufactura da comadre e do compadre, cujos bonecos deveriam estar prontos, respectivamente, na “quinta-feira das comadres” e na “quinta-feira dos compadres”. Nestes dias ocorriam as primeiras escaramuças entre os dois sexos, cabendo às raparigas acirrar, na respectiva quinta-feira, os rapazes com o “compadre”, por vezes exposto em cima de burros, sendo permitido utilizar todos os estratagemas na defesa do valioso estandarte. Quando este recolhia a lugar seguro, um dos modos de dissuadir os mais corajosos de o tentar raptar era atirar penicos de urina sobre os adversários. Passados quinze dias, ocorria a inversão de papéis, cabendo agora aos rapazes incitar os elementos do sexo oposto e defender a todo o custo a sua dama, neste caso, “a comadre”. A repetição destas contendas ocorria com mais animação no chamado sábado e domingo gordo, na segunda-feira imediata e no dia de Carnaval, sempre seguidas de bailaricos, em que as pessoas, pintadas de carvão, se apresentavam mascaradas, usando lençóis e roupas antigas. A respectiva captura transformava-a(o) num troféu valioso, pois aos elementos do grupo do sexo vencido era-lhes retirada autoridade para lerem o respectivo testamento, inibindo-os de rebaixarem com dichotes os elementos do sexo oposto. Estas leituras e deixas, versando ocorrências merecedoras de crítica, comportamentos e anúncios de namoros e casamentos, eram feitas normalmente de noite nos cimos das povoações, utilizando funis. Contudo, as mesmas podiam ocorrer em pleno dia. Aliás, um dos últimos e mais célebres testamentos foi feito em cima de um carro de vacas, que percorreu várias povoações da freguesia.

Um outro ritual da época dizia respeito aos chamados “cus novos”. Durante o fim de semana anterior ao Carnaval e no dia de Carnaval, as raparigas tinham de tomar muitas precauções nas suas deslocações ou ficar em casa para não “apanhar um cu novo”. Se surgisse alguma nos caminhos, era agarrada por rapazes pelos ombros e pelos pés, sendo depois sucessivamente balanceada, ao mesmo tempo que diziam “um, dois, três...um p’ró pai, outro p’rá mãe e outro p’ra quem o fez” ou também “um, dois, três…abanadinho, abanadinha, deixa o cu para outra vez”, sendo depois solta para que o “cu” batesse no chão. Ainda hoje, muitas mulheres se recordam dos rituais desses dias, em que os pais as proibiam de sair de casa ou se deslocavam exclusivamente pelos campos, evitando os caminhos.

Nota: Este levantamento foi feito com base na memória das pessoas que ainda viveram antigos carnavais. Cf. também a monografia “Resende e a sua história”, de Joaquim Correia Duarte.

Grupo de jovens recria Carnaval de antigamente

Em boa hora, um grupo de jovens, na sua quase totalidade pertencentes ao rancho de Paus, organizou e recriou algumas facetas de Carnaval do tempo de seus pais e avós. Para angariação de fundos percorreram a freguesia cantando as Janeiras.

Os festejos começaram com um desfile a partir do cimo da povoação dos Carvalhos até à sede do rancho, por volta das 14h30 da terça-feira de Carnaval. Muitas pessoas responderam ao convite, tendo-se apresentado mascaradas tal como o combinado. Antes dessa hora, uma carrinha de caixa aberta com a comadre e o compadre e cerca de 20 jovens percorreu várias povoações da freguesia, recriando uma atmosfera de festa e boa disposição, com roupas multicolores, apitos e “bocas” apimentadas. Após o desfile, as pessoas tiveram ocasião de conviver no salão do rancho com a animação de um grupo musical, enquanto iam chegando mais pessoas. Pelas 17h00, teve início o acontecimento mais esperado do programa, ou seja, a leitura dos testamentos da comadre (por um rapaz) e do compadre (por uma rapariga), atentamente seguidos pela assistência, tendo provocado muitas gargalhadas. Os “meninos e meninos” das diversas povoações foram mimoseados com quadras maliciosas, entre os quais, o actual Presidente da Junta, que se irá casar proximamente: “Para o nosso Presidente/Eu deixo com lamento/Umas cuecas de alforge/P’ró dia do casamento”. E a respectiva noiva também não foi esquecida: “Para a nossa Primeira Dama/Eu deixo com muito lamento/O meu fio dental/P’rá noite de casamento”.

Após a leitura dos testamentos, seguiu-se a queima da comadre e do compadre, que tiveram um fim rápido, já que eram feitos de palha de centeio, revestidos dos respectivos fatos, fitas e adereços, como antigamente. Depois, cerca das 18h00, foi oferecido um lanche aos presentes, seguindo-se um convívio no salão da sede do rancho. Durante o mesmo, foram dados muitos “cus novos”, só que agora, devido à igualdade do género, as vítimas foram sobretudo os elementos do sexo masculino.

*Texto de minha autoria, publicado no Jornal de Resende (número de Março de 2009)

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