terça-feira, 14 de julho de 2009

Cárquere acolheu 1 500 jovens na Jornada Diocesana da Juventude*

XXIV Jornada Diocesana da Juventude
Na esteira das Jornadas Mundiais da Juventude promovidas pelo Papa, é realizado anualmente, a nível da Diocese de Lamego, um evento da mesma natureza. Cárquere teve a honra de acolher, em 16 de Maio, a Jornada deste ano, que reuniu cerca de 1 500 jovens. Muitos participantes, já repetentes neste tipo de eventos, incluíram a deste ano, que já vai na 24.ª edição, entre as melhores até agora realizadas. O Padre Bráulio Carvalho, Director do Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil (SDPJ), agradeceu o suporte dado pela Câmara Municipal de Resende e da Junta de Freguesia de Cárquere à iniciativa.
Este encontro foi devidamente preparado em toda a Diocese, tendo sido inclusivamente editado um livro com catequeses e trabalhos de grupo, em que colaboraram os Padres José Augusto Marques e Marcos Alvim, que são também, respectivamente, os autores da letra e música do hino.
Houve grupos, como o de Ferreirim, que vieram de véspera, tendo participado numa Vigília de Oração com jovens do concelho de Resende e acampado em Cárquere.
Por volta das 10h00 de 16 de Maio, teve início a caminhada até ao Carvalhal ao longo da qual foram dramatizadas algumas cenas bíblicas: i) primeiro milagre de Jesus no casamento/bodas de Caná em que houve a transformação da água em vinho, tendo servido para reflectir sobre a importância do matrimónio; ii) chamamento dos Apóstolos e cura do cego de nascença, cuja encenação foi pretexto para repensar a importância do sacramento da ordem e dos padres nos dias de hoje; e iii) conversão de S. Paulo, em que se reflectiu sobre a mudança e radicalidade de projectos de vida.
Chegados ao Carvalhal, os jovens puderam confessar-se a sacerdotes discretamente posicionados no recinto, rezar e meditar na tenda do Encontro (com o Santíssimo exposto), contactar com a realidade das Missões (em tenda da responsabilidade de um Missionário Comboniano) e saber mais acerca das actividades dos escuteiros (em tenda do Agrupamento dos Escuteiros de Resende e da Associação das Guias e Escuteiros da Europa).
Por volta das 12h30, teve início a missa festiva presidida por D. Jacinto, concelebrada por 28 sacerdotes, que foi entrecortada por muitas canções, preces e a vivacidade de várias encenações, em que Cristo foi apresentado como o “amigo de todas as horas de quem não podeis prescindir”, como referiu o Bispo de Lamego na exortação da homilia.
Após a missa, que terminou por volta das 14h00, seguiu-se o almoço partilhado, seguindo-se uma tarde recreativa com actuações de vários grupos. Os seminaristas foram os primeiros a entrar em palco, tendo apresentado várias canções e testemunhado a convicção das suas opções. Seguiram-se os jovens de Castro Daire, Almacave, Poço do Canto (Mêda), Cinfães, Sernancelhe, Ferreirim, Soutelo do Douro (S. João da Pesqueira), Sé e grupos de animadores e de convivas. Canções, testemunhos, sketchs sobre dependências e outros temas, danças e cenas de humor percorreram o palco e animaram a tarde.
Após a oração do envio, foi anunciado que Penedono organizará a jornada do próximo ano, tendo sido entregue aos sacerdotes e jovens presentes deste arciprestado uma grande cruz de madeira (que a comissão organizadora de Resende mandou fazer), como sinal da passagem de testemunho, que doravante marcará presença nos futuros eventos.

Igreja e formação da juventude
Até aos anos 70 do século passado, a Acção Católica foi o grande instrumento de formação ao serviço da Igreja Católica Portuguesa, cujas bases orgânicas foram aprovadas pelos bispos em 16 de Novembro de 1933. Este movimento, enquanto organização nacional que cobria todos os sectores da sociedade, combinando um apostolado total, tinha como desígnio a revitalização da presença da Igreja, face ao sentimento de fragilidade e ao processo de secularização até então vivido. Correspondia a uma visão militante do catolicismo e ao ideal de instalação de uma “nova cristandade”. Capaz de responder e integrar todos os sectores da sociedade, o movimento apresentava-se duplamente especializado segundo o sexo e a idade e organizado de acordo com os chamados “meios sociais” (agrário, escolar, independente, operário e universitário). Juventude Agrária e Rural Católica, Juventude Escolar Católica, Juventude Universitária Católica, Juventude Operária Católica e Juventude Independente Católica são as estruturas organizativas da juventude.
Este movimento teve um papel importante, sobretudo entre os anos 50 e 70 do século passado, na formação humana, cívica e religiosa de várias gerações de portugueses, tendo estado na origem de novas elites católicas nos mais diversos sectores da sociedade, em particular universitário, intelectual e cultural, mas também operário. Vários militantes vieram a ter uma influência marcante na chamada “primavera marcelista” e após o 25 de Abril. A partir dos anos 70, deu-se o esgotamento do paradigma de movimento católico que a Acção Católica Portuguesa (ACP) corporizou, tendo a mesma sido desmembrada como corpo orgânico em 1974. A realização do Concílio Vaticano II constituiu um importante ponto de viragem neste processo. Este desmembramento da ACP como corpo orgânico não significou o fim daquela experiência. Nalguns casos, traduziu-se no relançamento de parte dos movimentos, alguns dos quais continuam o seu trabalho nos dias de hoje, embora em contextos e modalidades bem diversos dos iniciais e sem a força e a presença de outrora, dependendo de voluntarismos e contextos específicos locais. No que respeito à intervenção no meio estudantil, a JEC e a JUC fundiram-se em 1980, dando origem ao MCE (Movimento Católico de Estudantes), embora respeitando a existência dos dois sectores de ensino: básico e secundário e superior. A sua cobertura e influência são infelizmente diminutas a nível nacional.
Assente na centralização e hierarquização e numa estruturação organizativa bem definida a nível local, diocesano e nacional, a Igreja Portuguesa perdeu assim um instrumento eficaz de formação de um “escol” (os militantes e dirigentes) e poder de influência na sociedade. A partir dos anos 80, a formação e a intervenção junto das camadas jovens ficaram, em grande medida, dependentes da capacidade e da vontade dos párocos para organizar e acompanhar “Grupos de Jovens” e aproveitar o potencial de organizações juvenis ligadas à Igreja, como o Escutismo Católico.

Pastoral juvenil na diocese de Lamego
Em cada um dos 14 arciprestados da diocese, há (ou pretende-se que haja) um responsável pela pastoral juvenil, que, em Resende, é o Padre José Augusto Marques. Cabe-lhe, no âmbito de uma equipa/conselho local para a juventude, apresentar iniciativas e sugestões aos outros párocos e grupos de jovens e articular com o Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil. Os grupos de jovens de cada paróquia reúnem normalmente uma vez por semana, possuindo cada um a sua dinâmica própria e actividades específicas.
A nível diocesano, há um Secretariado para a Pastoral Juvenil (http://sdpjlamego.no.sapo.pt/), que desenvolve um programa anual de actividades de carácter religioso, formativo, lúdico e musical, e de intercâmbio com outras dioceses ou inseridas em iniciativas nacionais, abertas aos diversos grupos de jovens. Participação em lausperenes, catequeses, peregrinação nacional de jovens a Fátima, torneios de futsal e festivais da canção são algumas das actividades. Particular importância é dada a cursos para animadores e de formação para os responsáveis de grupos de jovens. A Jornada Diocesana da Juventude, como assembleia que convoca anualmente todos os jovens, é o culminar festivo de todo o programa.

*Apontamento de autoria de Marinho Borges, publicado no Jornal de Resende (número de Junho de 2009)
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