sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Padre José António parte em missão para o Brasil*

No próximo dia 29 de Setembro vou partir para o Brasil até Julho de 2011. Como foi possível?
Depois de 20 anos de pároco, por terras de Penedono, onde sempre fui bem acolhido e me sentia bem, partir para um ano sabático é uma loucura, porque sem ordenado, sem certezas do futuro, mandaria a sábia prudência que colhesse os frutos da sementeira realizada, da bela comunidade construída, e da casa, onde comodamente vivia.
A idade vai avançando e vamos perdendo forças e entusiasmo… Este novo desafio chegou na altura certa. Agradeço aos padres do arciprestado de Penedono e ao padre Samuel a amabilidade com que aceitaram outras paróquias e assim possibilitaram a minha partida. Não podemos viver sem esperança, alegria e entusiasmo. Um ano de estudo, descanso e distanciamento da realidade pode ajudar a crescer e a abrir novos horizontes.
Não seria altura da Assembleia do Clero e dos arciprestados aprofundarem estas realidades? Na obediência e fidelidade a nós próprios, saibamos lutar por aquilo que e a consciência nos dita.
Este ano sabático surge da experiência em Moçambique, onde desenvolvemos nove micro-projectos (como já pude partilhar neste jornal) e também após uma incursão na Amazónia – Brasil onde pude apoiar um padre holandês no seu trabalho com uma comunidade de trinta e cinco mil pessoas. Nesse tempo vivi na Mariápolis Glória, uma das 18 cidadelas (pequenas “cidades” espalhadas pelo mundo onde se procura viver o Evangelho, cuja lei é a do mandamento novo que o movimento dos Focolares criou pela mão da sua fundadora Chiara Lubich.
Esta experiência concreta de amar e ser amado na simplicidade de todos os dias fascinou-me. As grandes dificuldades dos padres, em viver o celibato num tempo em que o individualismo, relativismo e hedonismo reinam, perde sentido porque sem comunidades autênticas somos generais sem exército a lutar contra moinhos de vento, fazendo o papel de “palhaços”, como alerta o Papa Bento XVI num dos seus livros. Esta experiência deu-me esperança e tornou possível alargar os horizontes culturais e religiosos. E porque nem só de receber se fazem estas experiências, foi possível desenvolver alguns pequenos projectos apoiados pelo Centro Social Paroquial de Penedono (ajudar a construir duas igrejas, uma casa, duas instituições de toxicodependentes que vivem em casas muito pobres e duas bicicletas para possibilitar a deslocação de pessoas para o seu trabalho). Numa perspectiva de continuação do projecto estabeleceu-se um protocolo entre o Centro e a escola Fiore que acolhe crianças de um bairro pobre da cidade. Tantas vezes ouvi “primeiro nós depois os outros”, quando o Evangelho afirma precisamente o contrário.
Depois de tudo o que foi feito em Moçambique e no Brasil, a Segurança Social aumentou o protocolo do Centro Social em 33 por cento, depois de tantas dificuldades que pareciam inultrapassáveis. Podemos assim contratar uma nova funcionária e abrir o apoio a duas paróquias vizinhas. Para quem acredita, a revolução do Evangelho vai -se realizando e o “Dai e dar se-vos- à” torna-se concreto nas nossas comunidades fortalecendo a nossa vontade de ir contra a corrente, da mentalidade pouco cristã, que encontramos em alguns dos nossos colaboradores. Pequenas gotas, é certo, mas que ajudavam a reparar um oceano de injustiças que os nossos antepassados cometeram.
No último encontro de despedida, num jantar na Mêda, fiz o apelo aos sacerdotes para se encontrarem, como fazíamos semanalmente em Penedono, pois só assim nos sentiremos mais fortalecidos.
“Quem diz o que sente não peca nem mente”, mas pode estar errado. Espero não magoar ninguém com esta partilha. Quero partir em paz, continuar em comunhão com todos e regressar feliz e com mais entusiasmo.
Um abraço fraterno.
P. José António Rodrigues
*Testemunho transcrito do blogue da Diocese de Lamego (link)
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