sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Casa e Capela do Espírito Santo: um tesouro da época das Descobertas/Capela feita à romana*

Coordenadas GPS
N 41º 5’34.61´´
W 08º 0’32.53´´

A Casa do Espírito Santo é um dos solares mais interessantes e originais do concelho de Resende, com a sua capela (semi)circular, de óculo, a meio da frontaria, ladeado por inscrição (“Esta capela / mandou fazer / António Pereira / Pinto capitão que / foi de Amboíno. / Ano de 1676”) e brasão (armas dos Pachecos, Pereiras, Padilhas (?) e Pintos). A sua construção deve-se a António Pereira Pinto, natural de Vigião, em Freigil, capitão e governador da ilha de Amboíno, no Extremo Oriente, que defendeu, com bravura e sucesso, dos ataques e cercos regulares dos nativos islamizados, e consolidou a sua fortaleza, sob invocação de Nossa Senhora da Anunciada (1592/93).
Diz a tradição oral que ao regressar a Portugal, famoso e rico, mandou construir a Casa e a Capela do Espírito Santo, em Miomães, em cumprimento de uma promessa ou voto feito ao Divino Espírito Santo, quando se viu perdido numa tempestade no alto mar. À capela vinculou, em morgado, várias terras com a obrigação da celebração de duas missas semanais.
Várias tradições religiosas e culturais estão-lhe associadas. Antigos clamores e procissões de ladainhas por aqui passavam e, na ala virada ao rio Douro, da década de 30 à década de 70, do século passado, aí funcionou a escola primária feminina. Pelo seu valor cultural, este bem móvel privado, tal como outros de igual valor concelhio, deveria ser objeto de classificação como “Imóvel de Interesse Municipal”, de forma a salvaguardar o seu interesse histórico e arquitectónico.
Na rubrica “Olhares”, do Jornal de Notícias (edição de 2 de Setembro, pág. 42 e 43), uma iniciativa patrocinada pelo Casino da Figueira com o objetivo de alertar e inventariar o património português de elevado valor arquitectónico, em degradação, a Casa e a Capela do Espírito Santo foi objeto de uma extensa reportagem. O Jornal de Resende reproduz o ensaio efetuado pelo Arquiteto Luís Aguiar Branco, denominado “Capela feita à romana”, com a colaboração de Pedro Cardoso.

“O tempo dos Descobrimentos constitui uma revolução no Mundo, mas também no Homem, contribuindo para uma nova consciência sobre a diversidade paisagística e cultural dos territórios, que coexistem na forma circular do planeta e propiciam infindos caminhos do saber experimentado nas trocas e na miscigenação. O ciclo milionário das especiarias disponibiliza o usufruto de sucessivas gerações de portugueses aos grandes centros do Renascimento cultural europeu, com particular destaque e fascínio por uma Itália que redescobria os valores clássicos da arquitetura romana. A impressão dos tratados de arquitetura clássica difunde os ideais da razão, harmonia, proporção, composição e beleza, aproveitando a música, a matemática, a geometria e o desenho para sistematizar modelos de equilíbrio e perfeição, configurados em gravuras de fachadas, plantas, perspectivas e pormenores construtivos “ao romano”.
Uma descrição existente num dos volumes do “Nobiliário de Famílias de Portugal” de Felgueiras Gayo informa que “António Pereira Pinto, Capitão da Fortaleza de Amboíno no Estado da Índia, Instituidor do Morgado do Espírito Santo com capela feita à romana, que se vê junto do lugar de Miomães, concelho de Aregos, em que se veêm as Armas dos Pintos”, situação comprovada na inscrição exterior da capela existente na mesma freguesia, mas no concelho de Resende por motivo de ter sido extinto o concelho de Arêgos no séc. XIX. O ideal clássico “ao romano” irá ser transposto com uma adaptação vernacular neste solar, eliminando o ornato e procurando a pureza geométrica do retângulo (duplo-quadrado) que recebe, ao centro, a perfeição do volume saliente da capela circular e cobertura em meia-esfera, de evidente simbolismo celeste. Excetuando algumas alterações posteriores, tudo o resto está subordinado a uma ideia geral de regularidade e simetria, nas fiadas graníticas, na composição das fenestrações das fachadas, incluindo no espaço das pedras que ladeiam o óculo central (enquadrando o brasão familiar e parte da inscrição acima descrita), para além da cornija pouco saliente e de uma consciente eliminação da cruz na capela, substituída pela sineira e pela escultura de S. João Baptista que se encontrava, originalmente, no topo da cúpula. Esta simplicidade, quase humanista, é característica de uma época desornamentada do séc. XVI que se prolonga nos séculos seguintes, pelo que me parece plausível que a data (pouco visível) na inscrição corresponda ao ano de 1616. Colabora com esta datação temporal o facto de António Teixeira Pinto ser cunhado de Rui Teixeira de Macedo (fidalgo da Casa Real em 1579), e também por a ilha de Amboíno ter sido definitivamente perdida para os holandeses em 1615.
A geometria desornamentada deste valioso objeto arquitetónico deverá, certamente, ter contribuído para o desinteresse geral que o seu abandono ruinoso inspira, por manifesta incompreensão estética.”

Ornamento e arquitetura

O conjunto da casa e capela do Espírito Santo é um excelente exemplo de arquitetura desornamentada com valor patrimonial a preservar
Na introdução de um livro sobre Arquitetura, já não me lembro bem qual, li a anedota, ou história, como preferirem, de um fabricante de estruturas metálicas que vendia marquises em diversos estilos: colonial, gótico, clássico, moderno, etc. Após um temporal, o representante da fábrica deu-se ao trabalho de telefonar para alguns dos seus clientes, para saber se as marquises tinham resistido. Um deles, cuja marquise tinha sido levada pelo vento, respondeu-lhe: “O edifício resistiu bem, mas a arquitetura voou”.
O ornamento é uma parte essencial da arquitetura, ele surge, desde a Antiguidade, associado a uma ordem e a um cosmos primordial. Os gregos deram-se ao trabalho de o disciplinar e classificar, atribuindo-lhe, exatamente, a designação de “Ordem”. Em certas épocas e diferentes civilizações, contudo, por razões complexas, que incluem fatores históricos, culturais ou simbólicos, ele foi mais utilizado que noutras. O que não transforma a arquitetura desornamentada numa arquitetura de segunda, como o provam, por exemplo as formas geométricas puras das pirâmides do Egito ou o Museu de Serralves do arquiteto Siza Vieira.
Na história da arquitetura portuguesa também surgem, obviamente, períodos em que foi dada maior importância ao ornamento. No início do século XVI, por exemplo, o Manuelino deixou a marca de uma decoração pesada, tardo-gótica e, por vezes, já renascentista. A partir dos meados do século, contudo, surgem – e refiro-me apenas ao Norte do país – construções com uma grande sobrecarga ornamental, a par de outras em que a abstração geométrica “desornamentada” tem tendência a dominar. Seriam os artistas e encomendadores que estiveram associados a esse tipo de arquitetura, mais ignorantes do que os que mostraram a sua preferência por um tipo de construção mais decorado? Obviamente que não, até porque, frequentemente, os mesmos personagens estiveram associados aos dois casos.
O conjunto de casa e capela de que trata o artigo é um excelente exemplo de arquitetura desornamentada. Sei que ele, pelo seu carácter aparentemente menos espetacular, poderá, eventualmente, ser menos apreciado. Por essa razão é urgente chamar a atenção para construções como esta; é necessário ensinar as pessoas a apreciá-las, a estimá-las, a estudá-las e a conservá-las. No fundo, a sua aparente descrição até poderá ser uma qualidade; os maiores tesouros são, como todos sabemos, aqueles que não se deixam perceber à primeira...
João Ferrão Afonso, Escola das Artes, Universidade Católica do Porto / CRP
*Apontamento da autoria de Paulo Sequeira, publicado no Jornal de Resende, número de Setembro de 2011

domingo, 25 de setembro de 2011

Conferência do Dr. Adão Sequeira no cinquentenário do Seminário de Lamego

Excelência Reverendíssima Snr. D. Jacinto, bispo de Lamego

Rvmo Snr. Pe. Dr. Paulo Alves, Reitor do Seminário de Lamego.

Revmo. Snr.Pe. José Augusto, pároco de Resende

Senhores Convidados

Estimados Seminaristas

À casa da memória, eu venho, sem história, render a minha homenagem aos 50 anos do nosso seminário neste espaço físico da quinta da Rina ou quinta de S. Lázaro.

Aqui está, nesta casa, a cúpula nobre da nobre evolução do que foi o decreto do Concílio de Trento -(1545-1563)- ao criar um espaço de recolhimento onde o saber e a santidade evoluíssem em força uníssona e convergente para formar homens da palavra, da ação, da virtude, da solidariedade e especialmente verdadeiros pastores de almas.

Longe vai porém o séc XVI, o tempo inicial e difícil da capela e colégio de S. Nicolau, berço inicial dos seminários de Lamego e sua habitação durante muitos anos, até 1800.

Distante está também o 1º seminário, hoje messe de oficiais, na margem do rio Coura, onde durante 111 anos -(1800-1911)- aquele espaço se encheu de generosidade, doação, vida, projetos e saber, e donde também tantos valores humanos saíram para a igreja lamecense e para a sociedade em geral.

Sem recordação digna nos ficam os 10 anos difíceis, de 1911 - 1921, dos bens confiscados em que os jovens candidatos se acolheram a casas particulares e recebiam as aulas na habitação dos professores.

Com saudade de muitos vive-se ainda com memória a história do seminário na Casa do Poço -(1921-1961)-, mesmo frente à Sé, donde em cerca 40 anos tanto saber e santidade brotaram e tanta história se fez e memória por lá ficou. Aí nasceu a «Estrela Polar» em 1951, aí se orou, estudou, brincou e se fez acontecer muito do presente que hoje é passado, e que o Cónego Dr. Mendes de Castro em 2001 imortalizou nas 127 páginas do seu livro «Casa do Poço»

Fica para mim, em testemunho, o seminário atual, o seminário novo, o nosso seminário, o espaço e o tempo da minha entrada de boa memória e a saída por mim recordada como evento ao tempo não desejado.

Não tive em 1961 a honra de vir de Resende inaugurar, como novo aluno, este seminário; isso pertenceu ao curso meu anterior, mas em Setembro de 1962 aqui entrei, alegre, feliz, e esperançado em tornar-me um bom sacerdote para servir a Vinha.

Os planos do Senhor da Vinha eram outros e por isso aqui me preparou devidamente até aos últimos dias de 1968, enviando-me, já em 1969, para outros serviços da mesma Vinha onde Ele superintendia também no espaço destinado aos leigos já devidamente estruturado pelo Decreto do Vaticano II sobre o Apostolado dos Leigos que eu tinha também estudado minuciosamente.

----////----

Ex.mos Senhores

Corria o ano de 1956 e no dia 1 de Abril, domingo da Ressurreição, na igreja de Santiago de Piães, como aliás em todas as igrejas da diocese, é lida a mensagem pastoral de Sua Excelência Reverendíssima D. João da Silva Campos Neves a anunciar a construção do Novo Seminário de Lamego.

A mensagem ia acompanhada de informação e instruções aos párocos para que todo o povo, do abastado ao mais humilde fosse parte dum projeto diocesano que iria depois ser viveiro e jardim donde flores humanas partiriam mais tarde, verdes e robustas, cheias de saber e virtude para levar ao povo a vida espiritual, a esperança divina e um sinal de Deus.

É a partir deste momento e com todo o direito que eu sempre disse e sempre ouvi dizer-« o nosso seminário».

Nosso, porque com esforço de todos nasceu e para o bem de todos exerceu e exerce a sua função.

E é exatamente em 1956 que nasce, de evento simples, a humildade e singeleza deste meu testemunho.

Vocês não imaginam, ninguém faz ideia, o que foi esse grito pastoral : «o nosso seminário».

O que se passou na minha terra, e só dela falo, foi encantador.

O meu pároco, o grande Pe. e Arcipreste Daniel da Costa, contaminou a freguesia e em toda ela, de Vilar a Torneiros ou de Ventuselas a Sanfins, em fins de semana sucessivos, se organizaram cortejos de oferendas, com alma, vida, folclore, e sobretudo bairrismo :- eram carros de lenha, toros de madeira, alqueires de milho, sacos de feijão, notas expostas em bandeiras, alegria, foguetes, cada povo com seu rancho, cada rancho com seu chefe , tudo amador, e a povoação, toda em peso, em manifesta gala de alegria e solidário apoio. E foi neste evento, dizia eu, que eu comecei a ser parte do nosso seminário: - na ornamentação dos carros, no ensaio dos cânticos que animaram o cortejo e na feitura de alguns versos a que se adaptaram músicas que todo o povo cantava e dançava a caminho do leilão no centro da freguesia e que ajudaram a que o lugar de Sanfins não ficasse atrás de nenhum outro.

É pois com direito que eu digo e nós dizemos e a diocese diz «o nosso seminário», seminário, de construção robusta e apresentação imponente, adequado às melhores exigência do seu tempo.

Em 1958, já em plena construção deste edifício eu entro no seminário de Resende com mais 54 jovens para em 5 de Setembro de 1962 e durante 5 dias, por especial deferência nesse ano, frequentarmos, em tempo de férias, um curso de cinema e fotografia dirigido pelo Snr.Dr. Mendes Leal, diretor da revista «Filme».

É logo nesse mês de Setembro, a pedido do Diretor da « Estrela Polar», o atual Pe. Dr. Joaquim Correia Duarte, que eu me sinto envolvido e deveras honrado ao escrever em «Primeiras Impressões» o meu primeiro artigo na Estrela Polar. Rico batismo. Aí falava eu aos alunos de Resende « aqui vos esperamos, ano a ano, na estrada da vida que nos levará aos nossos destinos, aos destinos de Deus ».

Eu recordo o testemunho da minha entrada em Lamego, lembrando a sã amizade existente entre nós, e também o carinho, a estima e o respeito que dedicávamos aos nossos mestres e superiores, homens de bondade, saber, cultura e santidade , sem discriminação de nenhum, embora cada um com o seu nível de capacidades em transmitir essa enorme riqueza de que eram portadores.

O seminário não é necessária e exclusivamente o espaço de formar os jovens que vão ser padres, mas sim a escola de formação de homens, donde saem também e geralmente aqueles que vão exercer o nobre e belo munus sacerdotal, e um bom sacerdote é sempre também parte de um homem humanamente bem formado nas lides do saber, da cultura, do conhecimento do mundo, da filosofia, da teologia, e especialmente das realidades humanas e espirituais.

Era o tempo da teologia, da exegese, da moral, da filosofia tradicional, do latim profundo, do grego suave e do hebraico leve, antecedidos de um conhecimento seguro das letras e das ciências.

Foi a época do ciclo missionário, das conferências Marianas, dos vicentinos e ainda da catequese nas escolas às quintas feiras.

Foram também os anos da nossa banda musical sob regência do Snr. Dr. Rui Botelho, onde surgiram qualificados executantes à custa dos longos ensaios na sala onde hoje funciona o nosso bar.

Foi, evidentemente, o tempo do Vaticano II, estudado, analisado, esmiuçado em profundidade à nossa maneira, na ânsia e busca segura de uma renovação.

O meu livro Vaticano II, em capa amarela, obra completa dos documentos conciliares, é ainda hoje uma fonte abundante de soluções, consulta e inspiração, quando sobre algum tema eu preciso de falar.

Foi nestes corredores e nas reuniões semanais das atividades extra escolares que alguns de nós escalpelizamos esses textos conciliares numa rara consciencialização de igreja e de futuro.

Recordo-me bem ter-se falado numa dessas reuniões, com preocupação e esperança, «a igreja só vai arrancar quando saírem bispos da geração conciliar. Eles aí estão, e a Igreja também, em renovada e constante intervenção e dinamismo, com o selo visível dessa etapa conciliar.

Curioso é ver, a 45 anos de distância, pelas notas apostas à margem nos textos, que os decretos sobre o Apostolado dos Leigos, Sacerdócio e Imprensa são os mais estudados e melhor analisados. Eram os nossos assuntos, o nosso campo direto de ação a muito curto prazo. Ao tempo, as preocupações de análise à vida e evolução política estavam afastadas, rádio só a ocultas, televisão não havia, jornais diários não chegavam cá e fumar um cigarro era muito arriscado.

Neste Seminário e nestes espaços, honra maior da nossa diocese, tudo está repleto de vida, doação, generosidade, e até «dúvidas salutares». Em cada esquina dos corredores, areia dos recreios, salas de aula ou silêncio da capela, há uma vida contada ou esperança desejada, que faz a memória que jamais se esquece e uma história que jamais será contada onde « as saudades» ficaram depois de nós, mas que existem, para louvor dos alunos, honra dos professores, dignidade da instituição e continuidade futura de um passado que não morre.

O presente está acima do passado, mas não pode esquecer os anos e os seus eventos, os séculos e a sua história, a vida e os seus atos, a juventude e os seus feitos.

As estrelas e as núvens do passado, pela voz da memória fazem chegar até hoje e guardarão para o futuro o legado sem tamanho do humanismo e humanidade desta habitação do saber, bom senso e até « jardim de preocupações».

Sempre assim foi e assim será, porque nós, como diz Anselmo Borges, somos titulares de uma vida que não morre com a nossa morte.»

Por isso, eu não vou falar dos campeonatos de futebol entre filosofia e teologia tão vivos e renhidos, das meias vermelhas e festa dos cónegos no domingo de Pentecostes, sob aquela vigilância cerrada e ineficaz dos superiores, das festas de fim de ano e das críticas à gestão e pedagogia dos nossos professores, da falta de meios de abertura ao mundo como a rádio, a televisão, jornais ou revistas, da falta de ligação à cidade e seu povo, até porque tudo se alterou logo em 1969.

Mas quero hoje ressaltar, relembrar e reviver:

-o saber dos nossos mestres e a sua dedicação ao ensino todo ele em regime de internato;

-a preocupação da equipa formadora, a sua dedicação aos alunos e atenção aos sinais;

-o rigor dos horários e o seu pontual cumprimento.

-o espaço de oração e a mística aí vivida;

-o tempo de estudo e a preparação rigorosa das matérias de exame;

-as reuniões semanais das equipas em que estávamos inseridos e os resultados obtidos;

-a lenta e segura evolução do jovem batina e chapéu preto para o jovem despojado, espontâneo, interventivo, com roupas de marca ou calças de ganga.

-a riqueza de manter escrita uma mensagem espiritual diária à porta da capela e a preocupação em viver o seu conteúdo;

-o aguentar um jornal mensal, pontualmente editado sob a responsabilidade do alunos, exclusivamente escrito por eles sob a vigilância atenta e controlo rigoroso dos superiores;

-a memória do 7 de Outubro e 7 de Janeiro com a preocupação amiga de ver se todos os amigos voltavam ou não;

-a recordação do 10 de Junho com a festa dos finalistas onde a glória, alegria e saudade saiam da alma, subiam ao rosto e apelavam a futuro;

-os concursos abertos onde se evidenciava a qualidade de quem a tinha e o espírito de aventura de quem a desejava ter.

A propósito de concursos internos, em honra do Snr. Cónego José Cardoso, de feliz memória, grande dinamizador da catequese na diocese, eu quero somente referir o concurso, por ele lançado, de quadras populares relativas à catequese, com distribuição de prémios em 3 Fevereiro de 1965.

Em 1º lugar ficou o nosso exímio poeta, cónego Esteves Alves com a poesia:

«-Catequese é Deus que fala

A dar a a luz que redime

Não há mestre mais seguro

Nem escola mais sublime».

Em 2º lugar um inesperado rabiscador de rimas que agora vos fala, com a poesia:

«-Se Cristo viesse agora

Nascer nesta diocese

Iria com os meninos

Aprender a Catequese.»

Estas poesias correram depois a diocese gravadas em azulejos de tom azul.

Snr. D. Jacinto, estimados amigos,

Recordar o passado é fazer história e fazer história é honrar o passado garantindo o futuro da memória e abrindo alicerces para a memória do futuro. Sobre este assunto e referente ao seminário antigo e novo seminário, a Estrela Polar de Agosto de 1961 escrevia assim : «uma porta que se abre, um passado que permanece pelos séculos e um futuro que se tornará presente dia a dia».

Esta linha de pensamento é uma espécie de sina que me segue e persegue desde sempre, não morreu ainda e certamente não vai morrer jamais, porque a morte leva os homens mas as ideias ficam através da identidade, da memória e da sua história.

E se não há porto seguro para barco sem rumo, também não há futuro certo para instituições que abdicam do passado ou menorizam os seus anteriores.

Nunca festejaríamos hoje os 50 anos do nosso seminário, como não teríamos festejado os 25, se há 50 anos os nossos anteriores não tivessem arquitetado o seu plano e suportado as dificuldades da sua construção.

Por isso sentimos orgulho e glória da glória difícil do passado e ligamos ao futuro a honra devida da sua existência. Nada de grande se faz e deixa sem o suor e risco, e será sempre o futuro a cantar o louvor à memória do passado e honrar os seus feitos.

Se alguém deseja memória e história sem escalar as encostas da dificuldade e o risco da ação e intervenção, está certamente no caminho certo do esquecimento inevitável.

Esta casa é uma casa de causas sempre novas e diferentes e nada do que aqui se vive se perde depois, mas vai como chuva miudinha ou fio de água invisível alimentar espaços de ação e ideias do bem , porque «o seminário é sempre a memória viva e eterna da igreja» «no mercado da alegria e negócio do bem fazer.»

O seminário perpetua-se no espaço e no tempo, nas pessoas e na vida, nos atos e reconhecimento, na ação e gratidão, nos fins que deu e forneceu, nos padres que foram seminaristas e nos seminaristas que ficaram leigos, uns e outros são glória e memória da sua existência.

O seminário, o nosso seminário perpetua-se pelo que foi, pelo que é, e pelo que será e por isso eu não posso esquecer uma das estrelas, talvez a mais alta e brilhante do nosso seminário - a «Estrela Polar», expoente grande de um passado difícil e nobre que ninguém vai poder ocultar, omitir ou menorizar, porque a sua Antologia, editada em 2007, jamais o vai permitir porque, ela está arquivada nas prateleiras de todas as grandes bibliotecas nacionais, exposta nas bibliotecas públicas e municipais de todo o norte do país, guardada em todos as Casas Episcopais, à disposição de todos os seminaristas nas bibliotecas de todos os seminários, visível em todas as escolas secundárias e juntas de freguesia da diocese, e também nas mesas de muitas centenas de Aselistas e cidadãos anónimos.

Esta obra, filha do seminário e dinamizada pela ASEL, é ainda caso único nos seminários de Portugal e também o expoente máximo e afirmação maior que «a melhor escola é aquela que educa para a gratidão» e reconhecimento.

Se o tempo vai já longo eu abro ainda espaço para dizer ao presente e ao futuro que o passado, em honra e glória da memória, se imortalizou também na nossa ASEL, vigorosamente nascida em 1984 que ainda hoje vive e viverá, e se honra de ao comemorarmos em Resende os nossos 25 anos com a presença e estímulo do Mons Luciano Guerra, ser a génese do 1º Congresso Nacional de Antigos Alunos dos Seminários de Portugal sob o título « Seminários - da Memória à Profecia» realizado em Fátima nos dias 24-25-26-de Abril de 2009 .

Estimados amigos, em todos estes passos humildemente eu estive metido e envolvido, ora entre palmas, hora entre grandes sarilhos.

Seminarista amigos, alguém disse um dia que «os povos morrem quando os senhores do templo nXXX-Assembleia-Aveiroão conseguirem alimentar a esperança», assim sendo recai sobre vós a guarda futura deste passado nobre e ficamos certos que, quando a memória faz história, a história ficará facilmente na nossa memória.

Seminário de Lamego, 17 de Setembro 2011

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Impressões de José Saramago sobre S. Martinho de Mouros na sua “Viagem a Portugal"*

O viajante procura a igreja matriz da terra. Fica a um lado, virada para o vale, e, assim implantada, dando a face aos ventos, percebe-se que mais a tenham feito fortaleza do que templo. Com uma porta sólida, trancas robustas, mouros que viessem teriam sido vencidos como os venceu aqui Fernando Magno, rei de Leão, no ano de 1507, ainda faltavam quase cem anos para Portugal nascer. A prova de que esta igreja foi concebida para fortim, tanto, vá lá, como casa de oração, está nas paredes grossas e lisas, contrafortadas, de poucas frestas. E o torreão, recolhido em relação vertical da fachada, seria posto de vigia, aberto aos quatro ventos cardeais. Para poder vê-lo, e ainda assim incompletamente, teve o viajante de recuar muito, ir colocar-se no extremo do terreiro. Não estava ali para brincadeiras o torreão.
Nunca viu igreja assim. Afinal, a proclamada rigidez das propostas românicas ainda deixava bastante campo à invenção. Colocar lá em cima aquela torre, resolver os problemas de estrutura que a opção implicava, conciliar as soluções particulares com o plano geral, unificar esteticamente o conjunto (para que hoje se possa achar tudo isto magnífico), significa que este mestre-de-obra tinha muitos mais trunfos na manga que o comum dos traçadores de risco da época. E quando o viajante estiver lá dentro verá, com espantados olhos, como foi encontrada a maneira de sustentar a torre: assenta ela em pilares que se erguem logo depois da entrada, formando uma espécie de galilé voltada para dentro, de efeito plástico único.
A igreja não abunda em qualificadas obras de arte. Duas tábuas com passos da vida de S. Martinho, um Cristo enorme, e pouco mais, se não contarmos as imagens sacras populares que, sobre uma alta parede interior, se vão cobrindo de pó e teias de aranha. O viajante indigna-se diante de tal abandono. Se em S. Martinho de Mouros não sabem estimar tão belas peças da imaginária rústica, entreguem-nas a um museu, que as saberá agradecer. Quando o viajante sair, dirá a uma mulher, que por acaso vai passando naqueles desertos, estas e outras suas indignações, envolvendo-as em conselhos de cautela, porque, ali desamparadas, estão as imagens muito a jeito de mãos cobiçosas. Só o viajante sabe quanto lhe custou resistir ao demónio que outra vez o veio tentar, na igreja erma. Tal susto meteu à perplexa mulher que hoje em redor da igreja deve haver um campo fortificado onde só se entra com prévio exame de consciência e donde apenas se sai depois de mostrar o que vai nos alforges.
Mas há outras tentações em S. Martinho de Mouros. Não couberam todas em Ermida de Paiva, vieram instalar-se aqui, empurradas pelas orações dos frades de além, materialização dos sonhos terrenos dos agostinhos que lá pregaram, nas margens do rio formoso, a privação da carne. Nas talhas dos retábulos o corpo feminino é apresentado com opulência atlética, quase rubensiana. Aqui não se ocultam ou espalmam os seios da mulher: são claramente lançados para a frente, moldados, contornados, coloridos, para que não fiquem dúvidas sobre as moralidades do céu: enfim se vê que há anjos dos dois sexos, terminou a velha e absurda questão. Gloriosamente o corpo neste lugar se mostra. Meio corpo é, mas tentação inteira.
Contadas estas coisas, tem o viajante muita razão para ir digerindo melancolia enquanto se aproxima de Lamego.
*Transcrição do livro Viagem a Portugal, de José Saramago, Círculo de Leitores, 2010, pp. 186-187

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Ao café com …o Presidente da Junta de Felgueiras, Marco Jacinto de Almeida Matos*

Quem é o presidente da Junta da Freguesia de Felgueiras
Chama-se Marco Jacinto de Almeida Matos, nasceu a 23 de Junho de 1978 e é filho de Henrique Manuel de Almeida Matos e de Berta da Conceição Almeida Bernardino. Tem quatro irmãos, três rapazes e uma rapariga, dois dos quais vivem em Felgueiras, um em Resende e um outro em Mira. O pai faleceu em Fevereiro deste ano.
Frequentou a Escola Primária de Felgueiras, onde fez a quarta classe. Posteriormente, frequentou o 5.º e 6.º anos na Escola Básica do 2.º Ciclo de Resende, então chamada Escola Preparatória. Terminado o segundo ciclo, ingressou no Externato D. Afonso Henriques, que frequentou até ao 11.º ano. Veio a terminar o 12.º na Escola Secundária Dom Egas Moniz.
Trabalhou durante doze anos na Escola Básica do 2.º Ciclo, tendo transitado para o Centro Escolar de Resende em Setembro do ano passado, onde é assistente técnico, sendo responsável pela coordenação do pessoal não docente e das instalações.
É solteiro e reside em Felgueiras.
Integra o grupo de jovens de Felgueiras “Luz no Horizonte”, ligado à paróquia, tendo como animador e assistente o Padre José Augusto. Actualmente é constituído por 18 jovens, os quais se reúnem aos sábados para reflectir sobre os acontecimentos da semana à luz do Evangelho e dos ensinamentos da Igreja e para preparar a missa de domingo, pois constituem também o grupo coral. O grupo é responsável pela organização da procissão em honra de Santa Bárbara, que se realiza anualmente no dia 5 de Dezembro. Organiza ainda a via sacra dramatizada na Quaresma e a procissão das velas em Maio. Refira-se que este grupo integra uma forte vertente convivial, com saídas para eventos, jantares e até passagem de férias em conjunto.
Marco Almeida Matos é presidente da Junta de Freguesia de Felgueiras desde Outubro de 2009, tendo sido Secretário do elenco da Junta anterior, presidida pelo Enf. Álvaro Matos Almeida. Refira-se que este é o quinto mandato consecutivo em que a Junta de Freguesia é afecta ao PS. Nas últimas eleições, depois de alguns esforços de bastidores, só se apresentou uma lista a sufrágio.

O que fez e o que espera fazer por Felgueiras
Dotou as ruas e caminhos das diversas povoações de placas toponímicas. Procedeu ao arranjo de lavadouros públicos nas povoações de Ferros, Pimeirol e Beirós. Interveio no cemitério com a colocação de gradeamentos e de candeeiros de iluminação. Na continuação do trabalho efectuado anteriormente, foram arranjados e pavimentados vários caminhos com calçada à portuguesa, tornando mais seguros e agradáveis os acessos e as deslocações pelas ruas das aldeias de Felgueiras. Um outro objectivo tem sido manter todos os caminhos da freguesia limpos, o que tem sido cumprido. Também tem disponibilizado todo o apoio possível às associações. Alem disso, tem promovido anualmente, em Dezembro, o “Almoço de Natal do Idoso”, no Centro Comunitário de Felgueiras.
A Junta de Freguesia presta um conjunto de serviços à comunidade. Para o efeito, foi constituído um Gabinete de Apoio ao Cidadão, onde os interessados podem, por exemplo, pedir para tirar fotocópias, enviar e receber telecópias e correio electrónico, carregar telemóveis e efectuar pagamentos (luz, telefone e impostos). A prestação destes serviços evita que as pessoas, sem internet ou menos familiarizadas com esta ferramenta, sobretudo as mais idosas, tenham de se deslocar a Resende. Há ainda um serviço de Internet e Biblioteca. O espaço tem cinco computadores e a biblioteca tem um acervo razoável de livros e alguns jogos, que podem ser lidos presencialmente ou requisitados para casa. Este conjunto de equipamentos e serviços estão muito voltados para a população escolar e, por isso, estão abertos de segunda-feira a sábado, das 16h00 às 19h00, sendo o atendimento prestado por uma funcionária, paga pela Junta de Freguesia. Os estudantes podem também aproveitar para aí fazer os trabalhos de casa. Acresce referir que Felgueiras está dotado de um serviço WI-FI, graças à iniciativa da Junta. Desde Janeiro de 2008, possui acesso à Internet sem fios (ligação "wireless"), sendo a primeira freguesia do concelho de Resende a disponibilizar esta tecnologia. A autarquia procedeu à instalação de antenas em locais estratégicos de modo a garantir a cobertura total da localidade, disponibilizando a todos os Felgueirenses uma cobertura gratuita do serviço de Internet (em rede aberta).
O atendimento para prestar informações, passar atestados e disponibilizar serviços no âmbito das competências das Juntas de Freguesia é feito às quintas-feiras das 18h30 às 19h30, aos sábados das 14h00 às 15h00 e aos domingos da 11h00 às 12h00.
A actual Junta de freguesia tem como projecto requalificar os balneários, actualmente bastante degradados, junto do campo de futebol. Pretende ainda construir um parque de merendas, contíguo ao mesmo campo de futebol. Irá também diligenciar junto da Câmara Municipal para que as povoações de Pimeirol e Beirós sejam servidas por água ao domicílio e saneamento básico.

Questionário de respostas breves

1. Onde passou as últimas férias?
Na praia da Vagueira com o grupo de jovens de Felgueiras “Luz no Horizonte”

2. Compra preferencialmente português?
Sim. Tenho a preocupação de comprar produtos portugueses

3. Quais os seus passatempos?
Conversar com os amigos e ver filmes

4. Qual o momento mais feliz da vida?
Uma viagem que fiz à Bósnia em 2007

5. E o mais triste?
O falecimento do meu pai

6. Que faz para ultrapassar as “neuras”?

Saio para um local tranquilo, de forma a poder relativizar os acontecimentos

7. Qual o seu prato preferido?
Cozido à portuguesa

8. Qual a obra mais necessária para o futuro do concelho de Resende que falta fazer?
É a construção da estrada Ermida/Bigorne

9. O que mais admira nos outros?
A sinceridade

10. O que mais detesta nos outros?
O fingimento e a vaidade

11. Qual é a festa que lhe dá mais gozo comemorar?
A festa de S. João, padroeiro de Felgueiras, e também a Feira Anual de S. Cristóvão

12. Quais os locais do concelho para onde costuma ir passear?
Aregos e o monte de S. Cristóvão

13. Tem algum objecto que guarda com particular predilecção?
Um livro da autoria do meu tio, o Padre Albino Matos

14. De que mais se orgulha?
Conseguir agregar as gentes de Felgueiras no apoio a uma única lista nas últimas eleições para a Junta/Assembleia de Freguesia

15. Quais as três obras mais importantes para o concelho feitas após o 25 de Abril?
A construção da Ponte da Ermida, dos Centros Comunitários e do Centro de Saúde. Se pudesse referir uma quarta, incluiria também a construção dos Centros Escolares

16. Acredita que a construção da estrada Resende/Bigorne irá arrancar brevemente?
Em tudo o que depender do presidente da Câmara, não tenho dúvidas que arrancaria. O problema são outros constrangimentos que o ultrapassam

17. Que é que acha que o Eng. António Borges irá fazer após a saída da CM?
Irá continuar a trabalhar por Resende

18. Associa a palavra Resende a..?

Cerejas

19. Já foi multado por infracção ao código da estrada?
Uma única vez por estacionamento indevido

20. Concorda que o Estado limpe as matas de quem não o fizer e mande a conta?
Concordo

21. Que áreas deverão ser privilegiadas para criar emprego em Resende?
A que tem mais potencialidades é a área do turismo e lazer, ligada às termas de Caldas de Aregos

22. Refira dois nomes que mais contribuíram para o desenvolvimento de Resende?
Eng. António Borges e Eng. José Sócrates

23. É favorável à redução do número de autarquias, designadamente de freguesias?
Sou favorável a que se proceda a uma reestruturação do mapa autárquico, mas sem pôr em causa a identidade das freguesias, mantendo-as como estruturas insubstituíveis de referenciação da política local.

*Apontamento de autoria de Marinho Borges, publicado no Jornal de Resende, número de Agosto de 2011
Site Meter