domingo, 23 de outubro de 2011

Aventura da entrada no Seminário de Tomar (Convento de Cristo) há 50 anos*

Tenho imenso prazer em fazer um relato da entrada no Seminário de Tomar, pela alegria que isso me trouxe. Eram tempos inimagináveis.

A vinda para o Seminário, com tudo o que isso representou, constituiu a maior aventura da minha vida. Foi algo que desejei e que até aos sete anos ocupou muito do meu imaginário. Os horizontes das maiores distâncias percorridas ficavam-se por Lamego, onde ia frequentemente, a pé, acompanhando o meu pai nas visitas a familiares, nas deslocações às feiras e nas idas à festa da Senhora dos Remédios, e por Sernancelhe, onde fui uma vez numa excursão do grupo da catequese em romaria à Senhora da Lapa, nunca tendo, pois, excedido os setenta quilómetros para além de Paus, a freguesia de Resende, onde nasci. O mundo para além desta distância era criado pela imaginação. E o que me cativava era a África e o mar desconhecidos. O mar era uma imensidão de água sem fim; a África era uma floresta contínua, habitada por animais selvagens, de grande porte, semeada de pequenas aldeias, de casas de colmo, junto a lagos e grandes rios. Foi por isso com emoção que, num dia de Julho de 1961, subi com o meu pai a serra das Meadas para ir ter com o então Padre Carlos, o chamado tio missionário, a Magueija, próximo de Lamego, onde me esperava para fazer o exame de admissão, o qual foi feito com um outro candidato. Efectuei a prova dando o meu melhor, pois era a chave da mudança de rumo da minha vida. Tive dúvidas acerca de um problema. Por isso, saí da prova adensado em dúvidas e interrogações sobre o meu futuro. Enquanto o meu pai falava com o Sr. Padre Carlos, dizia para comigo: “Será que vou passar? Terei hipóteses de entrar? E eu que podia ir para o Seminário de Resende, que o pároco da freguesia até tratava de ajudar a pagar as despesas...”. E depois culpava-me: “Quiseste ir para longe, para os Seminários onde já andam o Tomás, o Anselmo e o Vítor e às tantas não entras”. Estes pensamentos também me atormentavam, pelos efeitos devastadores na minha auto-imagem. Os meus irmãos eram considerados por toda a gente da freguesia alunos brilhantes “Os filhos do Alfredo Borges é que são espertos”, dizia-se. Se eu chumbasse, era o mundo que desabava. Mas num dia de Agosto, chegou a tão desejada e temida carta a Vinha Velha de Paus, que foi entregue pelo carteiro, o Sr. Miranda. Foi a medo que a abri. Mas era portadora de boas novas. Anunciava que tinha sido aprovada a minha entrada no Seminário de Tomar, indicando o dia em que nele deveria dar entrada.

Ficou combinado que iria com um soldado de Paus, que cumpria o serviço militar em Tomar. No dia aprazado, ou seja no dia 1 de Outubro, lá fui com alguns apetrechos enfiados numa bolsa de pano para a estação de Porto de Rei, na linha do Douro, acompanhado da minha mãe, do dito soldado e de uma senhora, que transportava uma mala (mais propriamente, uma caixa tosca de madeira) à cabeça, contendo a roupa, lençóis, cobertores e toalhas, que deveria ser despachada. A despedida não me custou. Afinal estava a realizar um sonho. Já não me recordo das emoções da viagem. Do que senti na mudança de comboio em Campanhã, no Entroncamento…., como me desenrasquei nas idas à casa de banho…, que conversas tive com o meu acompanhante militar (as indispensáveis, com certeza , que eu sempre fui de poucas palavras)...Tudo se apagou.

Cheguei a Tomar, era já tarde. O militar indicou-me a direcção do Convento e eu lá fui sozinho por aí acima. Chegado lá, fiquei todo baralhado, pois encontrei todas as portas fechadas. Olhei para todos os lados, mas não aparecia ninguém. E pensei: “é estranho, ao menos na minha terra está sempre gente a passar nos caminhos”. E avancei até encontrar gente. Na primeira casa que me apareceu, chamei a medo por alguém. Apareceu-me um senhor de meia idade que me informou como deveria fazer. Pelo modo como me falou fiquei sempre com a ideia de que não deveria simpatizar muito com padres, pois foi seco nas palavras, parecendo querer ver-se livre de mim. Na porta da entrada do Seminário, seguindo as instruções recebidas, toquei à sineta. Apareceu-me um padre a quem expliquei ao que vinha. Tudo isto aconteceu, porque cheguei um dia antes da data aprazada. Pouco depois, apareceu o meu primo, o Irmão José Ribeiro, que nunca mais me largou e me foi mostrando os cantos do grande casarão. Uma das primeiras coisas que lhe disse foi mais ou menos isto: “nestes corredores era capaz de passar uma “carreira”; e isto é tão grande que dava para todas as pessoas da nossa terra virem para cá morar”. Passado algum tempo, disse-me: “tu deves vir larado de fome”. E foi-me fazer umas sandes de queijo.

Vir de um meio pequeno e ser “despejado” de repente num convento gigantesco é obra. Ainda hoje me admiro da forma rápida como decorreu a minha adaptação. Como dormi sempre serenamente numa grande camarata, como me habituei a estudar numa grande sala, como me esforcei por cumprir regras exigentes e horários… Tudo num ambiente bem estruturado e previsível, mas sob o peso e a dimensão de corredores, claustros, escadas, janelas, abóbadas, naves…pouco consentâneos com o acolhimento e a vida quotidiana de crianças. E assim se passou o ano lectivo de 1961/62.

Já de novo em Tomar, gozadas as férias em Paus, e preparado para iniciar o segundo ano no Convento de Cristo, foi com enorme satisfação que recebi a notícia de que tinha sido um dos seleccionados para fazer esse ano em Valadares, mais propriamente em Vilar do Paraíso, com a missão de ocupar e dar vida às duas quintas, ligadas entre si, recentemente adquiridas pela Sociedade Missionária.

*Retirado do livro "Valadares-Seminário da Boa Nova: 50 anos/Lembranças dos primeiros tempos", coord. de Aires de Nascimento e editado pela ARM (Associação dos Antigos Alunos da Sociedade Missionária da Boa Nova)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Ao café com …o Presidente da Junta de Feirão, José de Oliveira Monteiro*

Quem é o presidente da Junta da Freguesia de Feirão
José de Oliveira Monteiro nasceu em Feirão a 30 de Maio de 1971. Iniciou a aprendizagem das primeiras letras e números em França, onde frequentou a primeira e a segunda classes. De regresso a Feirão, aqui completou a terceira e quarta classes. O quinto e sexto anos foram feitos na antiga telescola de Feirão. De seguida, ingressou na Escola Emídio Navarro, em Viseu, onde terminou o 7.º ano. Desta escola transitou para a Escola Secundária D. Egas Moniz, em Resende, onde frequentou o 8.º ano, vindo a terminar o 9.º ano no Externato D. Afonso Henriques. Terminada a escolaridade, cumpriu o serviço militar em Abrantes e na Amadora, onde foi comando.
Relativamente à sua ida para França, convém referir que isso aconteceu quando tinha cerca de um ano, acompanhando os pais emigrantes, tendo regressado a Feirão com cerca de nove anos. O pai integrou-se razoavelmente bem nesse país, tendo sido motorista de pesados, mas a mãe nunca conseguiu desligar-se das origens e as saudades eram constantes, pelo que a família teve de refazer a vida em Feirão.
É solteiro e, tal como os pais, vive em Feirão.
O irmão vive em Carrazeda de Ansião, onde é engenheiro na respectiva Câmara Municipal. A irmã vive em Feirão, tendo um escritório de mediação de seguros em Castro Daire.
Após o cumprimento do serviço militar, José de Oliveira Monteiro trabalhou numa exploração agropecuária, destinada à produção de leite, pertença da família. Actualmente é angariador/mediador de seguros, tendo vários concelhos sob sua responsabilidade, cujas aldeias percorre diariamente, contactando as respectivas populações. Refere que tem facilidade em falar com as pessoas, sendo normalmente bem acolhido. Tem-se aplicado afincadamente naquilo que faz, achando que os resultados têm sido compensadores. Gostava que lhe fosse atribuído pelo seu responsável o concelho de Resende como uma das áreas de trabalho, esperando que isso aconteça brevemente.
Este é seu segundo mandato como Presidente da Junta, em lista apoiada pelo PSD, tendo vencido o seu opositor, apoiado pelo PS, por vinte e dois votos. No primeiro mandato não teve opositor. Sucedeu a seu pai como Presidente da Junta.
Refira-se que em Feirão, tal como acontece nas freguesias com 150 eleitores, ou menos, a eleição processa-se em plenário de cidadãos, sendo o voto secreto. Isto implica que formalmente as listas, compostas por três elementos que formarão a Junta de Freguesia, sejam apresentadas nesta reunião. Ao longo do ano, as sessões de Assembleia de Freguesia são substituídas pelo plenário de eleitores, não podendo haver deliberações válidas sem que estejam presentes, pelo menos, dez por cento dos cidadãos eleitores recenseados na freguesia.

O que fez e o que espera fazer por Feirão
Como Presidente da Junta procedeu à requalificação de todas as ruas da freguesia, empedrando-as com cubos, à excepção de duas ou três vielas. Nalgumas situações, as obras implicaram alguns cortes e realinhamentos. Requalificou a zona envolvente do cemitério novo.
Tem dado cumprimento a todas as competências da Junta, designadamente procedendo à limpeza dos caminhos vicinais.
Sente orgulho em ter recuperado a festa de Santa Luzia, que tem lugar no primeiro fim de semana de Agosto, sendo custeada pela Junta em vinte por cento. A mesma integra seis mordomos, divididos por Feirão, Lisboa e Marinha Grande, onde há uma grande comunidade de naturais e familiares da freguesia.
Organiza uma ceia de Natal, um magusto e um passeio anual, iniciativas abertas à comunidade local.
Quanto ao futuro, tem em mente um grande projecto para a freguesia, achando que ainda não chegou o momento adequado para a sua divulgação.

Respostas breves
1.Onde passou as últimas férias?
Gozei as últimas férias há dez anos na praia da Nazaré
2. Compra preferencialmente português?
Sim
3. Quais os seus passatempos?
Ver filmes
4. Qual o momento mais feliz da vida?
Nascimento dos meus sobrinhos
5. E o mais triste?
Falecimento de uma familiar
6. Que faz para ultrapassar as “neuras”?
Dificilmente tenho neuras
7. Qual o seu prato preferido?
Cozido à portuguesa; também gosto muito de uma boa feijoada
8. Qual a obra mais necessária para o futuro do concelho de Resende que falta fazer?
A ligação da vila de Resende a Bigorne
9. O que mais admira nos outros?
Gosto de me relacionar com pessoas sérias
10. O que mais detesta nos outros?
Inveja
11.Qual é a festa que lhe dá mais gozo comemorar?
A festa de Santa Luzia, a nossa padroeira
12. Quais os locais do concelho para onde costuma ir passear?
Gosto muito de ir até Caldas de Aregos, até ao cais junto ao rio; considero um local muito bonito
13. Tem algum objecto que guarda com particular predilecção?
Não
14. De que mais se orgulha?
Actualmente orgulho-me daquilo que faço na vida profissional; sinto-me realizado na angariação de clientes na área de seguros
15. Quais as três obras mais importantes para o concelho feitas após o 25 de Abril?
Ligação por estrada a todas as aldeias do concelho, a construção da escola secundária e a ponte da Ermida
16. Acredita que a construção da estrada Resende/Bigorne irá arrancar brevemente?
Gostava de acreditar, mas na actual conjuntura económica acho difícil
17. Que é que acha que o Eng. António Borges irá fazer após a saída da CM?
Irá ocupar um cargo político
18. Associa a palavra Resende a..?
Cerejas e cavacas
19. Já foi multado por infracção ao código da estrada?
Já, por ter sido apanhado a conduzir sem cinto
20. Concorda que o Estado limpe as matas de quem não o fizer e mande a conta?
Concordo
21. Que áreas deverão ser privilegiadas para criar emprego em Resende?
É difícil arranjar trabalho em Resende, mas acho que a área com mais hipóteses e futuro tem a ver com o turismo
22. Refira dois nomes que mais contribuíram para o desenvolvimento de Resende?
Dr. Brito de Matos
23. É favorável à redução do número de autarquias, designadamente de freguesias?
Sou favorável ao reordenamento das freguesias urbanas, rentabilizando os respectivos recursos. Já tenho muita dificuldade em defender a extinção das freguesias do interior, porque são garantia de proximidade e de defesa dos interesses das suas populações
24. Tem argumentos para convencer os mais novos a fixarem-se em Feirão?
Infelizmente não

*Apontamento da autoria de Marinho Borges, publicado no Jornal de Resende, número de Setembro de 2011
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