quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Ao jantar, no restaurante “Gentleman”, com o Presidente da Junta de S. Cipriano, Orlando Sequeira*


Esta citação de Rebeca West, escrita na parede à direita, logo à entrada do restaurante, define e caracteriza o ambiente acolhedor, a arte de bem receber, o bom gosto e a qualidade da comida. Este novo Gentleman, capitaneado por Manuel Pedro Gomes, de decoração sóbria e de muito bom gosto, corporiza o conceito abrangente de restauração: pratos regionais, refeições para dias especiais, almoços muito económicos de preço fixo, pizas, massas e menus infantis, de entre outros destaques. Com bom tempo, poder-se-á desfrutar do espaço convidativo da esplanada.
Orlando Sequeira escolheu polvo à lagareiro; eu escolhi o mesmo prato. Ambas as doses estavam uma delícia, tendo contribuído para uma ótima refeição e uma agradável conversa.

Quem é o Presidente da Junta de S. Cipriano
Orlando Aires Sequeira nasceu a 11 de dezembro de 1954, em Nogueira, S. Cipriano, sendo filho de Vitorino Sequeira e de Ernestina da Conceição. Tem três irmãos (dois rapazes e uma rapariga), que residem no concelho, à exceção da irmã, que vive em Gaia.
Teve uma infância difícil em que o dinheiro não abundava. Começou a ajudar nos campos e a tomar conta do gado desde tenra idade, pois os pais (felizmente ainda vivos) eram caseiros. Continuou com estas tarefas durante os quatro anos em que frequentou a escola primária, trabalhando antes de ir para as aulas e após o regresso das mesmas. Quanto à alimentação, era muito frugal, baseada fundamentalmente no que a terra dava. Como era o mais velho, muitas vezes teve de dividir com a irmã uma única sardinha. Tendo em conta as dificuldades por que passou, é com orgulho que avalia o seu percurso de vida.
Com treze anos começou a trabalhar na construção civil, cujo patrão era um familiar. Quando perfez dezoito anos, achou que já tinha adquirido conhecimentos suficientes e abalançou-se a trabalhar por conta própria, tornando-se um pequeno empreiteiro. Aos vinte e dois anos, foi para França, onde trabalhou como operário da construção civil durante um ano, na situação de “clandestino”. Algum tempo após o regresso, foi para Gaia, onde ingressou na empresa “Agripan”, na qual esteve cerca de dois anos. Depois, foi para motorista de uma empresa que fazia o transporte de frutas do Algarve para o Porto, tendo nela permanecido um ano. Com vinte e seis anos, mudou-se para a firma distribuidora de bebidas “Costa Pina & Vilaverde”, ficando com a responsabilidade da área de Gaia e Porto.
Entretanto, durante ano e meio, perspetivando o casamento, foi aproveitando os fins de semana que vinha passar a S. Cipriano para aqui fazer uma habitação. Veio a casar em julho de 1982, tinha então vinte e oito anos. Em março desse mesmo ano, tinha conseguido entrar na empresa de transporte de passageiros “Soares & Oliveira”, integrada atualmente na holding “Joalto Transdev”, onde ainda continua como motorista. A mulher ficou à frente do café, que montou no rés do chão da casa, situação que se mantém.
Na senda do pai, que foi músico d’ “A Velha” durante mais de cinquenta anos, entrou para esta banda aos onze anos, que teve de abandonar definitivamente quando ingressou na empresa “Soares & Oliveira”, por incompatibilidade de horários.
Cumpre o segundo mandato como presidente da junta. Anteriormente tinha integrado a assembleia de freguesia durante três mandatos, sempre em listas do PS. Tem dois filhos (uma rapariga e um rapaz).

O que tem feito e espera fazer na Junta de S. Cipriano
Para além do atendimento à população, que é efetuado às quartas-feiras, das 14h00 às 16h00, e do acompanhamento diário ao expediente, tem procurado manter a limpeza dos caminhos públicos, alguns dos quais foram arranjados e alargados, e dado cumprimento a outras competências inerentes às juntas de freguesia, como a conservação e gestão do cemitério.
Relativamente ao edifício da junta, procedeu à pintura dos espaços interiores e dotou-a dos seguintes equipamentos: três computadores, uma fotocopiadora, duas impressoras, disponibilizando serviço Net a quem o desejar.
Foi um dos grandes dinamizadores do conceito e do projeto relativo ao centro cultural, que veio a ser concretizado pela Câmara Municipal, tendo a inauguração tido lugar em 11 de dezembro de 2011.
Contribuiu para a concretização do projeto do centro escolar, pois os terrenos para a respetiva implementação pertenciam à junta de freguesia.
Colaborou na construção da sede da banda de música “A Nova” através da oferta de materiais.
Tem subsidiado as duas bandas de música e os dois grupos de cantares e de folclore da freguesia.
Adquiriu terrenos do monte do Senhor dos Aflitos, com um programa de pagamentos faseado, cuja escritura está prevista para breve, onde com o apoio da Câmara Municipal projeta construir um espaço de estacionamento e um outro de lazer, incluindo um parque de merendas.
Pretende instituir um fim de semana (em princípio, o primeiro fim de semana de dezembro) dedicado à herança cultural das duas bandas de música, ao seu percurso e à memória dos seus antigos músicos, maestros e colaboradores, com a participação ativa de jovens músicos e professores de música, através de um programa que integrará concertos e a exposição de fotografias e de objetos ligados às bandas.

Respostas breves

1. Onde passou as últimas férias?
Nunca tive férias.

2. Compra preferencialmente português?
Sim. E se puder comprar em Resende, não compro em Lamego.

3. Quais os seus passatempos?
São passados a ajudar no café.

4. Qual o momento mais feliz da vida?
O casamento e o nascimento dos filhos.

5. E o mais triste?
Felizmente é-me difícil referir um acontecimento particularmente triste.

6. Que faz para ultrapassar as “neuras”?
Resguardo-me.

7. Qual o seu prato preferido?
De bacalhau (seja qual for a receita).

8. Qual a obra mais necessária para o futuro do concelho de Resende que falta fazer?
A estrada 222-2, ligando Resende a Bigorne.

9. O que mais admira nos outros?
A honestidade e a sinceridade.

10. O que mais detesta nos outros?
A falsidade e a hipocrisia.

11. Qual é a festa que lhe dá mais gozo comemorar?
O Natal, por ser a festa da família.

12. Quais os locais do concelho para onde costuma ir passear?
Não tenho muito tempo para passear.

13. Tem algum objeto que guarda com particular predileção?
Não.

14. De que mais se orgulha?
Dos filhos.

15. Quais as três obras mais importantes para o concelho feitas após o 25 de Abril?
A ponte da Ermida, o centro de saúde, os centros comunitários e os centros escolares.

16. Acredita que a construção da estrada Resende/Bigorne irá arrancar brevemente?
Não, mas tenho fé que um dia seja concretizada.

17. O que é que acha que o Eng. António Borges irá fazer após a saída da Câmara Municipal?
O que lhe posso dizer é que continuará a ter um papel importante no desenvolvimento do nosso concelho, lutando pelo bem da nossa terra.

18. Associa a palavra Resende a...?
Cerejas, cavacas.

19. Chegou a levar reguadas na escola?
Levei algumas, mas não guardo qualquer rancor aos professores.

20. Já foi multado por infração ao código da estrada?
Sim.

21. Já alguma vez deu uma prenda que lhe tinha sido previamente oferecida?
Não.

22. Concorda que o Estado limpe as matas de quem não o fizer e mande a conta?
Concordo, mas o Estado devia primeiro dar o exemplo, zelando melhor pelo que é seu, ou seja, de todos nós.

23. Que áreas deverão ser privilegiadas para criar emprego em Resende?
O ideal seria apostar na indústria, mas é complicado. No entanto, acho que as potencialidades das Caldas de Aregos ainda não se encontram devidamente exploradas.

24. Refira dois nomes que mais contribuíram para o desenvolvimento de Resende?
Eng. António Borges.

25. É favorável à redução de autarquias, designadamente de freguesias?
Sou contra, sobretudo nos meios rurais, pois a sua concretização compromete seriamente a ligação às populações e conduz à diluição das identidades territoriais e das especificidades culturais.

26. Tem argumentos para fixar os mais novos na freguesia de S. Cipriano?
Mesmo assim admira-me como ainda há tanta gente na freguesia. Os mais novos bem querem cá ficar, mas reconheço que as coisas estão complicadas.

27. De que mais gostou deste “novo” Gentleman?
Da simpatia, do atendimento, da qualidade da comida e da decoração.

*Apontamento de Marinho Borges, publicado no Jornal de Resende, número de Novembro de 2012

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Ao jantar, no restaurante “Gentleman”, com o Presidente da Junta de Barrô, Francisco Tuna*

 Esta citação de Rebeca West, escrita na parede à direita, logo à entrada do restaurante, define e caracteriza o ambiente acolhedor, a arte de bem receber, o bom gosto e a qualidade da comida. Este novo Gentleman, capitaneado por Manuel Pedro Gomes, de decoração sóbria e de muito bom gosto, corporiza o conceito abrangente de restauração: pratos regionais, refeições para dias especiais, almoços muito económicos de preço fixo, pizas, massas e menus infantis, de entre outros destaques. Com bom tempo, poder-se-á desfrutar do espaço convidativo da esplanada.
Francisco Tuna escolheu polvo à lagareiro; eu escolhi o mesmo prato. Ambas as doses estavam uma delícia, tendo contribuído para uma ótima refeição e uma agradável conversa.

Quem é o Presidente da Junta de Barrô
Francisco da Silva Pereira Tuna nasceu a 19 de junho de 1954, em Valonguinho, Barrô, sendo filho de António Pereira Tuna e de Berta da Silva Almeida. Tem cinco irmãos (dois rapazes e três raparigas), dos quais quatro residem no concelho.
Frequentou a escola de Vilar, numa sala com poucas condições por cima de uma adega, onde completou a 4.ª classe. Após o respetivo exame de admissão, deu entrada no Seminário de Godim/Régua, da Congregação dos Missionários Espiritanos, onde fez o antigo 2.º ano. Transitou seguidamente para o Seminário de Fraião/Braga, que abandonou no fim do ano letivo, por não ter vocação para o sacerdócio. A fim de poder continuar os estudos, rumou para casa de uma tia a residir no Porto, o que lhe permitiu frequentar o Colégio de Gaia, onde fez os antigos 5.º e 7.º anos, correspondentes aos atuais 9.º e 12.º anos.
Com o diploma do ensino secundário, mas sem perspetivas de trabalho, retornou a Barrô, para casa dos pais, onde permaneceu três anos. Refira-se que, devido ao fim das guerras coloniais, não cumpriu serviço militar.
Após este período, encontrou trabalho no Porto, tendo entrado para os escritórios da empresa “JJ Gonçalves”, concessionária da Austin, onde permaneceu quatro anos.
Seguidamente, e com vinte e sete anos, ingressou nos quadros da dependência de Resende do Banco Fonsecas & Burnay, onde trabalhou dezasseis anos. A sua saída deveu-se à diminuição dos recursos humanos, motivada pela informatização da banca. Foi então convidado para prestar serviço noutras dependências, bastante distantes de Resende, o que não lhe agradou. Pediu por isso a passagem à reforma, o que foi aceite pelo banco.
Desde então, ou seja desde 1997, dedica-se à agricultura em terras que herdou e em outras que comprou. Nunca se arrependeu de ter tomado esta opção, pela liberdade e independência que o campo dá, cuja vivência experimentou desde pequeno, já que os seus pais foram caseiros e pequenos proprietários agrícolas.
Desde há muitos anos que mantém uma atividade cívica, acompanhando iniciativas de cariz comunitário, designadamente as corporizadas pela Associação Recreativa e Cultural de Barrô, cujos corpos sociais integrou durante cerca de trinta anos, e pelo Rancho Folclórico de Santa Maria de Barrô, de cuja direção fez parte durante três mandatos.
Integrou a Assembleia de Freguesia durante vários anos. Como Presidente da Junta cumpre atualmente o terceiro mandato.
É casado, tem dois filhos e vive na freguesia de Barrô.

O que tem feito na Junta de Barrô
Do que mais se orgulha é da cobertura da rede de abastecimento de água e de saneamento, que beneficia mais de 80% da população residente em Barrô, o que só foi possível com o grande empenhamento do atual Presidente da Câmara.
Arranjou diversos caminhos públicos e vicinais, alguns dos quais alcatroou ou revestiu com betonilha. Tem procedido à limpeza dos mesmos. À exceção de Coroinha, todas as aldeias têm acesso a viaturas.
Fez obras na zona envolvente da sede da Junta. Procedeu à pintura do interior do edifício e adquiriu diverso mobiliário, um computador, um aparelho de fax e uma fotocopiadora.
Colocou água no cemitério, ampliou a rede elétrica do mesmo e arranjou o acesso às campas.
Apoiou várias obras da responsabilidade da paróquia, designadamente levadas a efeito na igreja, capelas e salão. Tem promovido uma semana cultural por altura das festas de Santa Maria de Barrô, constituindo uma oportunidade para dar a conhecer a cultura local e valorizar a criatividade das suas gentes. Em parceria com a paróquia, tem apoiado a ceia de Natal e o passeio anual dos idosos.
À exceção do ano passado, tem organizado um magusto para a população.
O atendimento é feito às segundas-feiras, quintas-feiras e sábados Para quem o deseje, a junta disponibiliza serviço de internet.

Respostas breves

1. Onde passou as últimas férias?
No ano passado não tirei férias.

2. Compra preferencialmente português?
Sim; faço questão nisso.

3. Quais os seus passatempos?
Passear, ler e pescar.

4. Qual o momento mais feliz da vida?
O casamento e o nascimento dos filhos.

5. E o mais triste?
A morte dos pais.

6. Que faz para ultrapassar as “neuras”?
Tento esquecer, indo até ao campo ou à pesca.

7. Qual o seu prato preferido?
Embora seja um bom garfo e goste de muitos pratos, elejo o cozido à portuguesa e a feijoada.

8. Qual a obra mais necessária para o futuro do concelho de Resende que falta fazer?
A ligação à variante de acesso à A4 e a estrada de Resende a Bigorne.

9. O que mais admira nos outros?
A honestidade e a sinceridade.

10. O que mais detesta nos outros?
A falsidade.

11. Qual é a festa que lhe dá mais gozo comemorar?
O Natal.

12. Quais os locais do concelho para onde costuma ir passear?
Não me canso de passear por terras de Barrô.

13. Tem algum objeto que guarda com particular predileção?
Um relógio do meu pai.

14. De que mais se orgulha?
Dos filhos e da forma como procurei educá-los.

15. Quais as três obras mais importantes para o concelho feitas após o 25 de Abril?
A ponte da Ermida, os Centros Escolares e a realização da festa da cereja, que deu a conhecer o nome de Resende. Esta foi uma aposta do atual Presidente da Câmara que merece aplausos.

16. Acredita que a construção da estrada Resende/Bigorne irá arrancar brevemente?
Não será seguramente para breve.

17. O que é que acha que o Eng. António Borges irá fazer após a saída da Câmara Municipal?
Provavelmente irá dedicar-se ao exercício profissional como engenheiro.

18. Associa a palavra Resende a...?
Cerejas e cavacas.

19. Chegou a levar reguadas na escola?
Sim. Levei algumas. Na altura, ficava um pouco revoltado. Hoje até reconheço que algumas eram merecidas.

20. Já foi multado por infração ao código da estrada?
Sim; fui multado duas ou três vezes.

21. Já alguma vez deu uma prenda que lhe tinha sido previamente oferecida?
Não.

22. Concorda que o Estado limpe as matas de quem não o fizer e mande a conta?
Custa-me a concordar, pois o Estado é o primeiro a prevaricar.

23. Que áreas deverão ser privilegiadas para criar emprego em Resende?
Acho que se devem explorar as potencialidades de Caldas de Aregos. Também me parece que, com planeamento e organização, há setores da agricultura que podem ser rentabilizados.

24. Refira dois nomes que mais contribuíram para o desenvolvimento de Resende?
Eng. António Borges.

25. É favorável à redução de autarquias, designadamente de freguesias?
Não. As freguesias comportam uma identidade que tem de ser preservada. A poupança com o encerramento não compensa, pois é uma gota no oceano.

26. Tem argumentos para fixar os mais novos na freguesia de Barrô?
Como já disse, as possibilidades relacionadas com o campo e a agricultura não se encontram esgotadas.

27. De que mais gostou deste “novo” Gentleman?
Do ambiente, da comida e da decoração.

*Apontamento da autoria de Marinho Borges, publicado no Jornal de Resende, número de Outubro de 2012

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Dois investidores estrangeiros dão novo fôlego à histórica Quinta de Covela/Baião


 VINHOS QUE DEIXARAM SAUDADES ENTRE OS ENÓFILOS RENASCEM ESTE ANO

O sonho e a paixão voltaram à Quinta de Covela. Acreditando na qualidade e potencial dos vinhos portugueses, dois investidores estrangeiros deixaram-se render pela beleza da propriedade - e pela qualidade dos vinhos Covela.
A Quinta de Covela, debruçada sobre o rio Douro nas terras graníticas do Entre-Douro-e-Minho, está a viver um novo fôlego, alimentado pela paixão de dois investidores estrangeiros: o brasileiro Marcelo Lima e o inglês Tony Smith. Em Julho de 2011, os dois amigos compraram a quinta por cerca de 3 milhões de euros. Agora, um ano mais tarde, e depois de uma série de investimentos, os novos proprietários já fizeram a primeira vindima. E a expectativa em relação à qualidade dos vinhos é elevada.
É o renascimento de uma das mais bonitas quintas de Entre-Douro-e-Minho. Voltada para o rio Douro, Covela situa-se na transição entre o granito minhoto e o xisto do território duriense. Localizada num anfiteatro exposto a sul, na margem direita do rio, a propriedade estende-se ao longo de 34 hectares, povoados de vinhas (14 hectares), bosques mediterrânicos, hortas e pomares murados. Dispõe também de três modernas moradias, adega, duas casas de quinta e diversas ruínas, nas quais se incluem a fachada da antiga casa solarenga da propriedade, do século XVI, e uma capela dedicada a Santa Quitéria. Os novos proprietários pretendem estudar o legado histórico existente e transformar as velhas ruínas num centro de receção e visitas.
A atual Quinta de Covela resultou da junção de duas propriedades: a original, que pertenceu à família da mulher do cineasta Manoel de Oliveira, e a Quinta dos Casaínhos, adquirida pelo realizador no final dos anos 30 para juntar ao dote da futura esposa, Maria Isabel Brandão Carvalhais. A casa onde o casal Oliveira passava temporadas tem uma das mais formidáveis vistas sobre toda a quinta. Com um jardim romântico contíguo, todo o sítio vai agora ser objeto de uma intervenção que lhe devolverá o caráter e beleza originais. Nos anos 50 do século passado, Manoel de Oliveira redesenhou e mandou reabilitar o edifício onde hoje funciona a adega e também as duas casas da propriedade que lhe são contíguas.
No final dos anos 80, a quinta foi vendida ao empresário Nuno Araújo. Em 2006, após uma aposta inicial na vinha e nos vinhos - que foram ganhando uma crescente notoriedade nacional e internacional -, o empresário avançou com um grande investimento imobiliário na quinta, aproveitando a sua fantástica localização. O projeto previa a construção de 12 moradias de luxo destinadas ao mercado britânico. Nuno Araújo ainda conseguiu construir três moradias, mas o eclodir da crise financeira ditou o fim do projeto.
Em 2010, quando passava um fim de semana no hotel Fasano, no Rio de Janeiro, Marcelo Lima conheceu por acaso dois empresários portugueses que o informaram que a Covela iria a leilão. Esse encontro acabou por mudar o rumo desta quinta e juntar Lima e Smith numa grande aventura.
Lima é economista e acionista do grupo brasileiro Artesia, com interesses em várias áreas, desde a refrigeração comercial (possui a Metalfrio, a segunda maior empresa do mundo no ramo), ao vestuário (marcas Le Lis Blanc, Bo-Bô e Johnjohn) e à banca (C1 Bank na Florida, EUA), faturando anualmente cerca de 2,2 mil milhões de reais. Lima é também fazendeiro, com propriedades no Estado de Minas Gerais. Smith é jornalista, com ligações a Portugal desde 1988. Trabalhou vários anos em Portugal como correspondente e editor e depois seguiu para o Brasil. Conheceu Lima em 2000, quando era correspondente do New York Times, em São Paulo.
Os dois eram enófilos e gostavam muito de Portugal. “Quando bebíamos um copo juntos, na brincadeira sempre dizíamos: um dia havemos de fazer vinho juntos”, recorda Tony Smith. Entre 2006 e 2010, os dois amigos visitaram várias propriedades à venda em Portugal, desde o Alentejo ao Douro, em busca de uma onde pudessem concretizar esse sonho. Até que surgiu a hipótese da Covela. Smith, representante da editora Condé Nast no Brasil, regressou a Portugal e gere in loco a quinta.

Covela reforça aposta na qualidade dos vinhos

No último ano, os novos proprietários readmitiram a antiga equipa de colaboradores e as obras de recuperação têm dinamizado o mercado local de serviços. Entregaram novamente a responsabilidade pelos vinhos ao enólogo Rui Cunha, que estava envolvido no projeto Covela desde o início, renovaram a adega, recuperaram vinhas, muros e armazéns. A recuperação das vinhas está a ser feita de acordo com os princípios da agricultura orgânica. A revolução em curso na Covela não fica por aqui: os novos proprietários plantaram também hortas e mais árvores de fruto, reconstruíram um antigo moinho de água e estão a recuperar represas e aquedutos de pedra concebidos por Manoel de Oliveira.
Nos vinhos, os planos passam por reforçar a presença das castas nacionais como o Avesso e o Arinto. A produção dos tintos e dos rosés que a quinta já comercializava irá manter-se, mas a ideia é ir aumentando a quota de brancos, respeitando o estilo e o caráter que tornaram famosos os vinhos de Covela. Vinhos secos de forte personalidade e cheios de frescura. Em 2008, o jornalista e crítico britânico Jamie Goode, autor do conceituado blogue de vinhos Wineanorak, elegeu o Covela Grande Escolha tinto 2005 como um dos 50 melhores vinhos portugueses. “Para nós, este é um ano piloto, mas toda a equipa esta trabalhando para produzir os vinhos de elevada qualidade de sempre”, conclui Smith. O sonho e paixão voltaram à Quinta de Covela.

Mais informações:

Celeste Pereira – celestepereira@greengrape.pt - Tlm. 939312449

Carina Silva – carinasilva@greengrape.pt - Tlm. 936825649

Greengrape – Rua Fundo do Povo, n.º 6 – 5000-051 Vila Real

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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

ANTÓNIO BORGES EM GRANDE ENTREVISTA AO "JORNAL DE RESENDE"



No terceiro e último mandato à frente dos destinos do município de Resende, e a um ano de novas eleições autárquicas, o Presidente da Câmara Municipal de Resende, o socialista António Borges (AB), numa grande entrevista ao Jornal de Resende (JR), aborda os grandes temas da atualidade concelhia e nacional. Possíveis candidatos e sucessor autárquico, a política concelhia dos últimos anos, novos investimentos, os governos socialistas e a atual coligação de direita, o encerramento (previsível) do Tribunal Judicial e a reorganização autárquica são alguns dos principais tópicos abordados ao longo desta entrevista.

ENTREVISTA CONDUZIDA POR PAULO SEQUEIRA

Jornal de Resende (JR): Daqui por um ano, em outubro de 2013, realizam-se eleições autárquicas. Impossibilitado de se candidatar novamente, por força da lei de limitação de mandatos autárquicos, quem será o candidato do Partido Socialista (PS) às próximas eleições autárquicas?
António Borges (AB): O Partido Socialista está num processo de escolha e debaixo de um calendário definido na última reunião dos órgãos nacionais. A escolha será feita e o resultado anunciado no tempo político adequado. Não vale a pena especular, mas estarei na primeira linha das próximas eleições autárquicas e comprometido com o futuro político do concelho.

JR: … mas será um sucessor natural ou passará por uma grande surpresa?
AB: Deverá ser alguém muito identificado com todo o caminho que temos feito em Resende nos últimos anos. Essa é a minha opinião. Alguém que reforce o grupo forte e coeso que o PS tem sido nos últimos anos.

JR: Quais são, na sua opinião, as características fundamentais para ser um bom Presidente de Câmara?
AB: Tem que estar muito identificado com as pessoas e com o concelho, com os problemas, que não faça da Câmara um emprego, mas antes um exercício de disponibilidade, autónomo do ponto de vista pessoal e financeiro, desligado de interesses e que tenha preocupações sociais e com o desenvolvimento económico do concelho. Tem que ser alguém, como disse, autónomo e capaz de fazer mudança!

JR: Disse-o, publicamente, que nas próximas eleições autárquicas estaria nas listas do PS. Vai ser candidato à Presidência da Assembleia Municipal?
AB: Está tudo em aberto e depende sempre do que o PS decidir. Em cima ou em baixo, na Câmara ou na Assembleia, em qualquer circunstância, a minha obrigação é ajudar os que sempre estiveram com o que conseguimos nestes anos.
Os que muito me ajudaram nos últimos anos, e até alteraram as suas vidas, correram riscos e afetaram as suas comodidades pessoais, vão ter no próximo ano, da minha parte, uma disponibilidade total. Estarei na primeira linha das próximas autárquicas e muito comprometido com o governo do concelho dos próximos anos.

JR: Não há pessoas insubstituíveis, mas háde convir que o seu sucessor terá uma herança rica, mas árdua…
AB: Esse é um ponto de vista. A minha vantagem é que sempre formámos um bloco coeso e espero que assim continue. Resende precisa de continuar o caminho de afirmação dos últimos anos e não cair num vazio, ou voltar ao pior do antigamente.

JR: Após três mandatos e mais de 20 milhões de euros em investimentos, a rede escolar e a reformulação do modelo educativo está praticamente concluída. É desta área que mais se orgulha?
AB: Essa é uma matéria importante. Se o concelho tivesse um nível de qualificação e competências elevado, seria a garantia de sucesso. Quando chegámos, há dez anos atrás, estávamos no penúltimo lugar das maiores taxas de abandono e insucesso escolares. Não iríamos a lado nenhum. As políticas na educação demoram anos a dar resultados. Quando a média de escolaridade por encarregado de educação é de 5,7 anos, como neste momento, percebe-se que essa é a área das grandes prioridades no futuro próximo. Quando o aluno passa a ter maior instrução que o pai, isso é bom, mas reflete-se no rendimento e na ambição dos nossos jovens. Perdemos décadas só nestes domínios. Os resultados dependem dessa mudança fora e dentro da escola.

JR: Quer dizer que teremos de continuar a investir nestes domínios?
AB: Na Secundária, mais de 80% dos alunos tem apoios na ação social escolar. Aí joga-se sobretudo aquilo em que acredito e que uma parte do concelho ainda não absorveu. Todos os resendenses devem ser iguais em oportunidades e isso joga-se na escola. A escola deve ser um fator de igualdade de tratamento, de ensino e de acesso às competências que geram condição igual. Em Resende, há ainda gente que quer para si o que não quer para os outros... ou que quer para os outros o que não quer para si!
Essa é a grande mudança na gestão que o PS tem feito em Resende e é sobretudo essa a responsabilidade e a importância das escolhas que Resende tem sempre que fazer. Veja o que aconteceu com o atual Governo... uma má escolha faz com que tudo volte ao tempo do “arroz de quinze”. Isso não pode acontecer em Resende!

JR: Há, também, outras áreas que foram prioritárias nas políticas concelhias…
AB: Há dez anos atrás era tudo prioritário. Nessa altura, por exemplo, os grandes problemas eram a água e o saneamento.
Ficávamos aqui o tempo todo a rever o que fizemos nos mais diversos domínios. Na atividade municipal, acrescentámos muito. Agora há intervenções emblemáticas. Construir o Parque Eólico da Alagoa de D. João e garantir ali ativos que nos possibilitaram, sem sair um tostão da Câmara, passar a deter as Termas de Caldas de Aregos, todo o seu património e direitos de concessão é uma marca muito importante. Muita adrenalina, muita paciência… muita teimosia! Um marco na vida do Município, como se verá nos próximos anos!

JR: A oposição concelhia costuma criticar a falta de criação de emprego e a saída dos nossos jovens de Resende por falta de oportunidades…
AB: A oposição a que está a referir-se deve ser a que apoia o atual Governo e o Primeiro Ministro Passos Coelho, que, pelos vistos, resolve os problemas a mandar emigrar os portugueses e os jovens, com o maior desemprego de sempre em Portugal, e o que mais aí virá. Isso, de facto, dá uma grande autoridade para falar sobre essas matérias e fazer críticas. Mas estamos a fazer o nosso caminho!

JR: E esse caminho tem passado por…?
AB: Criámos emprego na economia social. Em Arêgos, a Câmara garantiu, diretamente, mais postos de trabalho permanentes. Criámos uma marca como a cereja, com todas as consequências económicas que isso tem. Estamos a atribuir lotes a preços simbólicos para que as empresas se instalem. Apostámos na qualificação dos resendenses e temos muito melhores infraestruturas. Consecutivamente, ano após ano, garantimos a vinda de significativos investimentos, a maioria com fundos comunitários, que animaram o comércio local, os prestadores de serviços, a contratação e a subcontratação gerando animação permanente da atividade económica local.
O índice de poder de compra concelhio, quando chegámos à Câmara, era pouco mais de 1/3 da média nacional. Em 2009, passámos para cerca de 50% e acredito que agora estejamos melhor. Bastam estes números para explicar donde partimos e o caminho que fizemos e temos de continuar a fazer!
Os que falam o que referiu são os mesmos que, por exemplo, sempre se resignaram à paralisia de aproveitamento do recurso termal de Caldas de Aregos ou nunca foram capazes de projetar a cereja como o grande recurso agrícola do concelho e a sua grande marca.

JR: Numa altura em que se fala tanto em desempregos, como estamos nessa área?
AB: É óbvio que o clima económico atual nos está a atrasar nessa ambição de rapidamente recuperarmos tecido económico e animação empresarial, mas, mesmo assim, estamos com taxas de desemprego quase 4% abaixo da média nacional.

JR: O que se pode esperar da Câmara e do seu Presidente num momento como este?
AB: Vamos continuar a investir de forma comedida, mas vamos! Estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance para atenuar os malefícios das políticas do Governo. Plano de ajustamento na Câmara, lotes para as empresas, apoio para os livros escolares, baixa do IRS, do IMI e da Derrama, investimento de proximidade, ainda que o que mais me preocupa são certas mentalidades e estados de espírito.
Consumo e investimento são pão para a boca do emprego e do crescimento e num concelho como o nosso é preciso não deixar ninguém para trás.

JR: Tem sentido que há falta de respostas?
AB: Temos muita gente em Resende, várias gerações que foram sacrificadas pela ausência de políticas de qualificação e instrução, que foram abandonadas à sua sorte. Ataca-se o rendimento social de inserção, que mesmo com alguns abusos ajuda muitos daqueles a quem a sociedade não deu, como devia, instrução, competências, oportunidades, emprego e lógicas sociais consistentes. Depois, os que fazem esses ataques são de uma enorme brandura para os BPN’s e BPP’s. Branqueiam essas situações, que davam para 10 anos de RSI.
Com a Direita está a regressar a chamada caridadezinha, o tempo da sopa dos pobres, o estender da mão e o abandono de políticas sociais de apoio e inserção.

JR: Há pouco tempo, falou-se em grandes investimentos públicos e privados em Caldas de Aregos. Qual é o ponto da situação?
AB: É óbvio que a situação atual do país também nos contamina. Esta coisa de parar tudo e de estancar investimentos e incentivos, ou os fortes constrangimentos na obtenção de crédito bancário, afetam o percurso que estávamos e estamos a fazer.
Há vários interessados que continuam a falar connosco sobre o relançamento do recurso termal. É uma questão de tempo. Quem tanto teve de esperar, depois de décadas de completa paralisia, certamente que percebe que demos a volta e agora é uma questão de mais ano menos ano. A estratégia está definida, pode ter que ser afinada em função das circunstâncias! É um recurso importantíssimo, que agora é nosso, dos resendenses, e um instrumento que será usado no interesse de todos e no desenvolvimento económico de Resende.

JR: A nível dos transportes e comunicações, uma antiga aspiração dos resendenses, a EN 222-2, vai continuar a não passar disso mesmo, um velho sonho por concretizar?
AB: É um assunto em que somos todos interessados, mas está na esfera do Governo e das Estradas de Portugal. Tivemos que pagar o projeto do novo traçado e elaborar esse mesmo projeto para resolvermos um impasse que encontrava sempre obstáculos nas questões ambientais.
A importância de ter em Lisboa gente que não diaboliza o investimento e as obras, como fazem aqueles que agora nos governam, vai ser muito importante no futuro. A EN 321-2, Ponte da Ermida – Baião, está pronta para ser adjudicada e não é menos importante a ligação ao Porto. Logo que hajam mudanças, voltaremos à carga com o trabalho de casa feito.

JR: Os últimos tempos não têm sido fáceis. Muitas manifestações da sociedade civil muito por culpa da “Troika” e das recentes medidas governamentais de combate ao deficit. Como avalia a atuação do governo de coligação entre PSD e CDS-PP?
AB: Os resendenses que no futuro apoiem, por qualquer forma, este Governo e os Partidos que o apoiam – sendo este o Governo que mais prejudicou o concelho em toda a história recente da democracia – não amam verdadeiramente a sua terra. Estarão a pensar mais em si e menos nos prejuízos e no atentado a esta ambição de seguirmos em frente. E não estão a aprender a lição. O que se está a passar com este Governo é um enorme recuo e um enorme revés para o concelho. É o Tribunal, são as freguesias, são menos professores nas escolas, são 40% dos utentes sem médico de família, o RSI, o corte no Externato, o corte nos investimentos, são os cortes brutais nas prestações sociais, é uma enorme carga fiscal,… É tirar, tirar, tirar à economia do concelho, aos comerciantes, aos funcionários públicos, aos empresários, aos reformados, a quem trabalha... para nada!
Não poderia ser pior sobretudo para Resende este enorme retrocesso a que estamos a assistir. Estamos, hoje, perante uma autêntica sabotagem ao desenvolvimento do interior e de Resende.

JR: O facto de termos chegado a esse ponto também não é o resultado das políticas dos governos socialistas dos últimos anos?
AB: Este Governo ainda não pregou um prego e aumentou o défice, aumentou a dívida pública e o país está mais pobre. O pior de sempre... mas o melhor nas desculpas!
Todos os políticos têm a sua quota de responsabilidade, qualquer que seja o nível de decisão. Agora não confundamos a origem da crise e os verdadeiros responsáveis de tudo o que se está a passar. Para que o sistema financeiro não entrasse em absoluto colapso, com a crise do subprime que veio dos EUA, os países tiveram que aumentar brutalmente os seus défices... todos! Depois, foram capturados pela usura dos mercados e por erros graves da condução das políticas na Europa, respostas que tardaram e tardam. O BCE financia o sistema financeiro a 1%, mas o Estado Português, que salvou com os outros países esses mesmos bancos, tem de pagar taxas cinco vezes mais altas, no mínimo.

JR: …e o último governo socialista?
AB: Relativamente ao último Governo Socialista, vamos deixar assentar a poeira e depois veremos com mais clareza onde está o grosso do problema. Em 2008, o Governo do PS conseguiu o mais baixo défice de 2,8% nas últimas 4 décadas. Depois apareceram os chamados PEC´s, resultado de uma estratégia europeia e que deu no que deu! Daqui a mais algum tempo falamos. Acho mesmo que a generalidade das pessoas já começa a perceber melhor a verdadeira dimensão dos problemas e as suas origens. Isto sem desculpar erros próprios!

JR: Não acha que o descontentamento social generalizado e crescente para com a classe política pode pôr em causa os fundamentos da nossa democracia? Como se sente, perante esta situação, sendo o Eng. António Borges um político?
AB: O descontentamento social generalizado só vai trazer mais gente às questões políticas. Pode ser uma enorme vantagem. Há um conjunto de gerações mais novas que, perante tantas e tantas facilidades dos últimos anos, não absorveu o que é essencial na construção das sociedades e da própria afirmação dos indivíduos e da sua individualidade. Foi tudo fácil demais numa sociedade de consumo levada ao limite, com crédito fácil e barato e os outros a fazerem por nós! As pessoas vão perceber rapidamente que tudo isto é com elas e vão obrigatoriamente ter de encontrar as soluções que as respostas políticas tradicionais e os políticos tradicionais já não lhes garantem. Vamos ter que ir a jogo e isso é bom!
A participação está a alterar-se, basta estar nas redes sociais e perceber como se forma o movimento de opinião ou para o que as pessoas se mobilizam. Não é o melhor momento para estar na responsabilidade política, mas não sinto nenhum desconforto, até porque prefiro sempre funcionar nos limites a não ter objetivos, causas e dificuldades para superar. Sem isso a política não tem sabor e corremos o risco de nos transformarmos em funcionários ou rotinas!

JR: Algumas das medidas mais polémicas do atual governo afetam o concelho de Resende. A nível judicial está previsto o encerramento do Tribunal Judicial. Se tal acontecer, que impacto terá na área social e económica do concelho?
AB: É a medida mais grave que algum dia os resendenses como comunidade tiveram de enfrentar. Antes de mais porque é resultado de um conjunto de mentiras. Não é verdade que tenhamos menos de 250 processos por ano, não é verdade que o Palácio da Justiça seja da Câmara, não é verdade que tenhamos Julgado de Paz, não é verdade que tenhamos bons acessos. Isto é inacreditável e o mais grave é que a Senhora Ministra nem sequer se dispõe a discutir e avaliar connosco, comigo e com todos os outros presidentes esta situação. Um prejuízo gravíssimo!
A justiça fora do concelho representa mais impostos para os resendenses, porque vão pagar mais para ter acesso à justiça. Todos perdem. É o comércio local que perde com o movimento diário de magistrados, funcionários judiciais, advogados, testemunhas, e todo o resto, que passarão a consumir fora. É a própria qualidade da aplicação da justiça. Uma coisa é julgar dentro da envolvente social e económica em que os atos são cometidos, outra é fazê-lo fora. O conhecimento de quem julga da dimensão e consequências de determinados comportamentos no contexto em que os factos acontecem faz parte dos fatores de qualidade da aplicação da Justiça. O fim do nosso Tribunal é inaceitável. Pode ser o princípio do fim duma comunidade como a nossa. Estaremos muito atentos!

JR: O que será necessário fazer para inverter essa situação? Esperar a queda do atual Governo? Esperar uma restruturação governamental e a substituição da Ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz?
AB: Faremos tudo no espaço institucional. Mas, se tivermos que levar as populações para a rua, se tivermos que ir para a rua, lá estarei. A Ministra da Justiça, por aquilo que sei de outros concelhos, arrisca o maior movimento sobre Lisboa e o Terreiro do Paço que alguma vez alguém viu neste país. Contestaremos nos Tribunais portugueses, com providências cautelares, iremos às estâncias comunitárias e até ao fim do mundo! Se fecharem o Tribunal, não pararemos até ter de volta os julgamentos e os magistrados em Resende.
Um dos compromissos do PS, que já foi enunciado pelo António José Seguro, é precisamente esse. Manter os Tribunais nas Comarcas e, se for caso disso, fazer a circulação de juízes, como já acontece agora em muitos casos. Em última análise, a reposição do Tribunal de Resende passa por mudar o Governo.

JR: Quanto à reorganização administrativa autárquica, uma vez que não houve uma manifestação de interesse dos órgãos autárquicos concelhios, a agregação de freguesias será feita compulsivamente pela entidade que fiscaliza os projetos de agregação (Unidade Técnica para a Reorganização Administrativa do Território). O que nos espera?
AB: Nada de bom. Esta reforma é feita por quem não sabe bem o que quer, e esta última versão é cortar uma percentagem nas freguesias. Aceito que possa haver ganhos em certos territórios na agregação de freguesias. Quando têm boas acessibilidades, as coisas estão perto umas das outras e o acesso aos serviços é quase imediato.
Em Resende, ou melhor nas zonas rurais, nem se poupa dinheiro, nem as pessoas ficam melhor servidas, nem há mais competências e meios para administrar melhor o território. Já tive oportunidade de explicar estas matérias aos resendenses e continuo a fazê-lo freguesia a freguesia. Esta reforma é, aliás, uma marca e um exemplo do que é governar mal e fazer por fazer, sem ganhos de custos e piorando a lógica de proximidade. As freguesias são em Resende as “paróquias civis”, as lógicas identitárias, o sítio, a vizinhança, a entreajuda, lógicas consolidadas através de séculos. Destruir isso é gravíssimo e irreparável.

JR: Face às crescentes dificuldades financeiras que o país atravessa, como está a saúde financeira da autarquia?
AB: No final deste mandato, depois de fazermos o que fizemos, o nível de endividamento, mais coisa menos coisa, será idêntico àquele que tínhamos em 2002, quando cheguei à Câmara.
Com a Lei dos Compromissos tivemos que nos ajustar, ainda mais, aos cortes que desde 2011 somam cerca de três milhões de euros. Tivemos que reformular objetivos, mas não tivemos que recorrer a nenhum plano extraordinário de regularização de dívidas, como muitas autarquias tiveram que fazer, e temos fundos disponíveis para continuar as obras que estão à vista e as que vamos lançar.
Depois do Parque Urbano e do Fórum em Resende, ou do Centro Escolar de S Cipriano, para não falar na nova Escola Secundária, vem aí o Centro da Cereja em S. Martinho de Mouros, o Centro de Cerâmica em S. João de Fontoura, o Centro Interpretativo de Montemuro, em Feirão, a Casa de Colmo na Panchorra, o arranjo da zona envolvente da Capela e do Ribeiro de Cesta em Aregos e o Parque Fluvial do Bernardo, em Barrô. Nunca entraremos em aventuras!

JR: Não é demais face às atuais circunstâncias?
AB: Na Câmara, nunca adjudicámos obras de porte significativo que não tivessem comparticipações, ou de Fundos Comunitários ou de apoios do Governo. Por exemplo no caso do Parque Urbano e do Fórum apenas pagámos 15% do valor das obras, sendo que o resto foi comparticipado. Ou fazíamos agora ou outros levariam o dinheiro. Como aconteceu no passado! A minha obrigação é remar pelo concelho, é trazer para Resende, é conseguir primeiro que os outros.
Se é demais?... Se não fizéssemos o que fizemos nos últimos anos, hoje iam comparar-nos a muitas freguesias deste país e dizer que, se calhar, não tínhamos razões e motivos para existir. Agora o que muitos dizem é que muitas cidades não têm o que nós temos... e é verdade! Só temos que continuar a crescer.

JR: O Eng. José Sócrates esteve recentemente no concelho de Resende, mais propriamente nas Caldas de Aregos, num almoço entre “amigos”. Para além de comungarem da mesma ideologia política, mantêm uma relação de grande amizade…
AB: É verdade. Tenho amizade e admiração por José Sócrates. O tempo vai encarregar-se de demonstrar a importância do tempo dos seus Governos para Resende. Nada mudou numa relação de muitos anos, a não ser um apreço ainda maior!

JR: O que falhou na governação do Eng. José Sócrates?
AB: O primeiro Governo, entre 2005 e 2009, deixou grandes marcas em muitos domínios. Na educação, na saúde, no social e até na governação económica. Teve, como já disse, o défice mais baixo dos governos do pós 25 de Abril e, sem os disparates a que vamos assistindo todos os dias, os serviços melhoraram, o Estado e o seu funcionamento melhorou e naqueles seis anos diminuíram em quase setenta mil os efetivos da função pública... sem perda de qualidade. As reformas estavam a acontecer.
O erro foi estar demasiado tempo com o Governo minoritário, que provavelmente não tinha condições políticas para enfrentar, nos últimos dois anos, uma crise sem paralelo, que começou por ser internacional e rapidamente contaminou profundamente o país. A estabilidade política é sempre um fator essencial nestes casos e insistir num clima adverso e com oposições ávidas de poder a qualquer preço não deu bom resultado!

JR: Nas últimas eleições para a presidência do Partido Socialista (PS) não apoiou o vencedor e atual líder partidário António José Seguro. Porquê e o que acha da sua liderança…
AB: Só há um PS e um Secretário-geral. António José Seguro esteve em Resende, o que muito me satisfez e tem a minha total disponibilidade e colaboração. Está a fazer o seu caminho e deixou já uma marca, porque, há alguns meses atrás, foi capaz de avisar que estes caminhos que o país e a Europa estão a seguir estão errados. Matar o consumo e o investimento é matar a economia. Seguro tem defendido o que a pouco e pouco a Europa vai também adotando como políticas para enfrentar a crise.

JR: O F.C. Porto anunciou, recentemente, os “Dragões de Ouro” da época 2011/2012. O sócio/adepto do ano dá pelo nome de Eng. António Manuel Leitão Borges. O que representa para si esta distinção?
AB: Não lhe sei explicar bem. É evidente que a relação que Resende tem mantido com o Futebol Clube do Porto, com evidentes benefícios para o concelho, já que usufrui da proximidade a uma grande marca, certamente que pesou. Muitos conhecem as minhas preferências e como nunca escondo essa ideia de que o clube não é só isso de pontapé para a frente. Somos nós com as nossas emoções, com os nossos sentimentos, seguindo o clube e sobretudo o que ele representa em muitos, muitos lados. Vou eu, vai o Tiago e vai o Eduardo. Momentos únicos, como quando tive que explicar ao mais novo que o Porto também perde, no último jogo do campeonato no antigo estádio das Antas, quando já éramos campeões e o Guimarães ganhou por 2-1.

JR: Criou, recentemente, uma página no Facebook, na qual partilha com os seus seguidores e munícipes opiniões, iniciativas, vivências, etc. Como descreve essa experiência?
AB: Às vezes perguntava a mim próprio se afinal as pessoas estavam ali e sabiam o que estávamos a fazer e o sentido de algumas atitudes.
É algo de semi-institucional, deliberadamente com um pouco daquilo que deixa perceber onde estamos e como vamos avançando. Para o que me conheço tenho sido muito comedido também por falta de tempo. Mas confesso que têm sido muito corretos e amigos comigo.

JR: Como acha que, daqui por uns anos, será recordado?
AB: Alguém que é capaz de construir alguma coisa e de mudar, sem dogmas ou preconceitos... e de Resende!

JR: O que se vê a fazer daqui a seis anos?
AB: Daqui a seis anos?... Cá estaremos!
 *Publicada no Jornal de Resende, n.º de Outubro de 2012

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Ao almoço, no restaurante "Gentleman", com Frei Henrique Rema*

Ele é integralmente um gentleman”
Esta citação de Rebeca West, escrita na parede à direita, logo à entrada do restaurante, define e caracteriza o ambiente acolhedor, a arte de bem receber, o bom gosto e a qualidade da comida. Este novo Gentleman, capitaneado por Manuel Pedro Gomes, de decoração sóbria e de muito bom gosto, corporiza o conceito abrangente de restauração: pratos regionais, refeições para dias especiais, almoços muito económicos de preço fixo, pizas, massas e menus infantis, de entre outros destaques. Com bom tempo, poder-se-á desfrutar do espaço convidativo da esplanada. Algumas informações úteis encontram-se no site www.o-gentleman.pt
Frei Henrique Pinto Rema escolheu atum grelhado com batata sauté. Foram pedidas duas doses, que fizeram jus à escolha, e que proporcionaram uma óptima refeição e uma agradável conversa.

Quem é Frei Henrique Rema
Na linha da simplicidade, que o caracteriza e cultiva, como franciscano que é, define-se apenas como um cronista. Contudo, do currículo deste nosso conterrâneo, nascido no lugar do Paço, em S. Romão, a 23 de Setembro de 1926, merece destaque, de entre outros aspectos relevantes, o facto de ser o maior especialista da obra escrita de Santo António de Lisboa, o maior perito da história da missionação da Guiné e ainda uma autoridade do passado das várias ordens que constituem a família franciscana portuguesa. Por isso se justifica muito merecidamente que integre a Academia Portuguesa de História, na categoria de sócio de número, um selectivo grupo limitado a 30 académicos portugueses a que acrescem 10 de nacionalidade brasileira. E convém realçar que esta distinção, que recusou várias vezes e quase foi obrigado a aceitar, não se ficou a dever ao facto de ser detentor de qualquer prestigiada cátedra ou ao brilhantismo em carreira universitária, mas exclusivamente à qualidade do seu trabalho de investigação, fruto de muita persistência, método e rigor, pois possui apenas os diploma de estudos em filosofia e teologia leccionados nos conventos por que passou. “Não tenho qualquer grau académico; sou um cronista ad hoc”, referiu com um sorriso.
O desejo de esclarecer factos do passado ficou patente poucos minutos após as primeiras palavras trocadas com Frei Henrique Rema junto à igreja de S. Romão, local do encontro aprazado para o ir buscar para o almoço. E assim fiquei a saber a razão de se chamar Rema. “Se conhecer alguém de apelido Rema é da minha família. O meu tetravô, natural do lugar de Carrapatelo, da freguesia da Santa Cruz do Douro, chamava-se Alexandre Pinto, sendo conhecido pela alcunha de “O Rema”, por ser barqueiro. Naquela altura, era comum uma alcunha passar a apelido para os respectivos descendentes. Por isso, os filhos deste tetravô tiveram como apelido “Pinto O Rema”, mas os seus netos já foram apelidados de Pinto Rema”.
Foi um dos dez filhos de Albina de Jesus e de José Pinto Rema. Continuam vivas duas irmãs, que residem na Régua, uma das quais passa bastante tempo em S. Romão. Os seus pais, donos de umas pequenas propriedades, foram caseiros do Padre Amadeu Cardoso, que paroquiou Ovadas durante vários anos. O contacto com os campos começou ainda em bebé, onde permanecia ou dormia num cesto enquanto a mãe cavava ou regava. A partir dos quatro/cinco anos começou a ajudar os pais em pequenas tarefas, como descascar feijão, apanhar castanhas e guardar o gado (uma burra e uma cabra).
A iniciação à leitura e escrita foi feita por um primo, cujas aulas de ensino doméstico era frequentadas por cerca de 15 crianças. Já com 10 anos, em 1936, matriculou-se na então escola primária de Anreade, onde frequentou a 3.ª e 4.ª classes, tendo sido seu professor José Maria Almeida. Recorda com alguma saudade as brincadeiras durante os intervalos e as pequenas aventuras das longas viagens diárias para as aulas. Da “pedagogia da reguada”, que persistia na altura, não guarda qualquer espécie de rancor. Broa com azeitonas era o almoço habitual que diariamente trazia de casa.

Percurso como sacerdote franciscano
Os seus pais eram cristãos zelosos, fazendo questão que em casa se rezasse diariamente o terço. Era profunda a ligação à igreja. Frei Henrique Rema ainda conserva na memória a importância do impacto que o então pároco de S. Romão, Padre Manuel, lhe provocava quando aparecia paramentado frente ao altar, desenvolvendo nele o desejo de um dia também vir a ser padre. Toda esta envolvência religiosa explica a vontade de seguir a vida eclesiástica. A opção pela ordem dos frades menores (O.F.M.) ficou a dever-se à vinda de padres franciscanos a S. Cipriano “para pregar uma missão”, que constituía também uma oportunidade para despertar nas famílias e crianças vocações para os respectivos seminários ou conventos. Assim, em 1938, com 12 anos, Henrique Rema rumou ao Colégio dos Franciscanos, em Montariol (Braga), o que implicou um encargo mensal de trinta escudos a que os pais, com grandes dificuldades, tiveram de fazer face. Esta decisão foi acolhida com agrado pela sua madrinha, governanta do Padre Amadeu Cardoso, que tinha escolhido o nome de Henrique a dar ao afilhado em homenagem ao seu director espiritual, um frade franciscano, que se chamava Frei Henrique.
Após terminados os estudos básicos em Braga, fez o noviciado no convento de Varatojo/Torres Vedras (1943-1944), ingressando depois no Convento de Montariol/Braga para efectuar o curso de filosofia (1944-1946) e no Seminário da Luz/Lisboa para fazer o curso de teologia (1946-1950). Tomou o hábito franciscano no Convento de Varatojo a 07.09.1943 e professou a Regra da Ordem dos Frades Menores (O.F.M.) a 08.09.1944 no mesmo convento. A ordenação de padre ocorreu a 23.07. 1950, no Seminário da Luz. A missa nova teve lugar na igreja de S. Romão a 6 de Agosto, celebrada em condições de grande fragilidade, com 38,3 graus de febre. Aliás, convém referir, a propósito, que Frei Henrique Rema teve no passado graves problemas de saúde e, só por isso, não foi estudar para Roma, como era desejo dos seus superiores.
Como sacerdote, foi capelão e professor em diversas instituições, a maioria das quais ligadas à família franciscana. Merece destaque, contudo, o cargo de Secretário da Prefeitura Apostólica da Guiné-Bissau, que exerceu entre 1965 e 1974 e o de Secretário da Província Portuguesa da Ordem Franciscana, que exerceu nos períodos entre 1981-1984 e 1992-1998. Actualmente é capelão num hospital, em Lisboa.
Continua muito ligado ao nosso concelho, onde costuma passar anualmente algumas semanas de férias. Costuma dizer que Portugal nasceu em Resende, sendo prova disso a presença nestas terras de D. Afonso Henriques e do seu aio, Egas Moniz. Não se cansa de andar a pé, como S. Francisco. Passeios de S. Romão ao Penedo de S. João, a S. Cipriano ou à igreja de Cárquere são uma rotina de fazer inveja a qualquer jovem. Continua a ser um conversador exímio, e sempre com um sorriso desarmante.

Actividade intelectual
Sempre gostou de escrever. Aos 17 anos publicou o primeiro artigo na revista do Colégio de Montariol “Alvorada Missionária”. A actividade da escrita em revistas foi sempre uma constante enquanto estudante e depois da ordenação sacerdotal, continuando até hoje. Merece um destaque especial a sua contribuição no “Boletim Cultural da Guiné Portuguesa”, onde publicou uma História das Missões Católicas da Guiné. Tem editados diversos livros, de entre os quais se realça o volume Obras Completas de Santo António de Lisboa, que traduziu do latim, anotou e precedeu de longa introdução. Publicou mais de 16.000 páginas, que deram origem a mais de 600 títulos. Conserva inéditas umas 8.000 páginas, incluindo o 4.º volume da Crónica do Centenário da Congregação das Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, a Crónica da Província dos Açores das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, os cinco volumes da Crónica da Província dos Santos Mártires de Marrocos, dez volumes de Diário, cinco cadernos de homilias e dezenas de conferências e notas.
Tem intervindo como orador em múltiplas iniciativas e congressos nacionais e internacionais, designadamente ligados à história da missionação e da Igreja. É membro de diversas academias de história e geografia ou instituições análogas, sobretudo de países da América Latina. O pedido para integrar júris de provas de mestrado e de doutoramento é uma manifestação do reconhecimento da valia da sua obra.

*Apontamento de minha autoria, publicado no Jornal de Resende, número de Setembro de 2012
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