segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Percurso pessoal e profissional do barbeiro Sílvio Alípio Pinto*


Da escola para o ofício de barbeiro
Sílvio Alípio Pinto, filho de Américo Pinto e de Angelina Jesus, nasceu em Mirão a 30 de setembro de 1937. É o mais velho de cinco irmãos (quatro rapazes e uma rapariga). Frequentou a antiga escola primária de Resende, cujo edifício já foi sede da Câmara Municipal, da Associação dos Bombeiros Voluntários e da GNR. Terminada a 4.ª classe, deu entrada no Seminário de Resende, do qual teve de desistir no final do 1.º ano, a meio dos exames, por dificuldades económicas. O seu pai não tinha condições de pagar a mensalidade de cem escudos. 
Como bom aluno que foi, se continuasse a estudar, Sílvio Pinto poderia ser hoje um brilhante homem das letras ou das ciências, mas o destino encaminhou-o para outro rumo, para um percurso profissional nas artes de bem escanhoar e bem cortar e pentear cabelos, onde atingiu um patamar que prestigia a classe. Como era costume na altura, como filho mais velho, seguiu as pisadas do pai. Sílvio Pinto tornou-se assim aprendiz de barbeiro, com apenas 11 anos, no Salão Avenida, tendo como mestre o pai. 
Combinando as qualidades de flexibilidade, coordenação, segurança e equilíbrio no manuseio das tesoura e das navalhas com a noção do bom gosto e do sentido da estética e também com a sua proverbial simpatia, Sílvio Alípio Pinto tornou-se um dos mais conceituados barbeiros/cabeleireiros do concelho. Não admira por isso que haja muitos clientes que, forçados a trabalhar e a residir fora, sempre que vão a Resende não deixam de ainda hoje o visitar e pedir os seus préstimos para cortar e pentear o cabelo. Nas suas deslocações às redondezas e ao Porto, é abordado e cumprimentado com carinho por muitas pessoas, que foram seus clientes ou antigos aprendizes da arte.
Vive na vila de Resende. É casado. Tem um filho e duas netas.

Percurso profissional
Sílvio Alípio Pinto é herdeiro de uma nobre linhagem de barbeiros/cabeleireiros, com cerca de 150 anos, que se iniciou com o Sr. Ribeiro. A continuidade foi dada pelo Sr. António Pimenta com quem Arménio Pinto, pai de Sílvio Pinto, aprendeu e trabalhou. A barbearia começou por estar sedeada na garagem da Farmácia Avenida, tendo-se mudado depois para as instalações onde agora funciona a papelaria Lina & Couto e, por fim, para o local atual. Embora seja conhecida por barbearia do Sr. Sílvio, denomina-se “Salão Avenida”, que foi adquirida por trespasse ao Sr. Pimenta por Arménio Pinto, pai do atual proprietário, Sílvio Pinto.
A aprendizagem era feita por observação, sendo a prática efetuada com “a matéria prima” dos profissionais ou aprendizes da casa. Isto é, os futuros barbeiros e cabeleireiros praticavam a arte fazendo a barba e cortando o cabelo aos mestres e colegas de ofício. Foi assim a aprendizagem de Sílvio Pinto, cujo mestre foi o pai, como já foi acima referido.
Ainda muito jovem, com menos de 15 anos, já bastante seguro profissionalmente, começou a atender os primeiros clientes de forma autónoma. O grande tirocínio foi-lhe dado nas andanças pelas muitas localidades do concelho, onde prestava serviço ao domicílio. Sobretudo, no fim de semana, de maleta na mão, deslocava-se à residência dos clientes, onde, num terraço, alpendre, junto à soleira ou no interior das casas, conforme o tempo, fazia as barbas e cortava os cabelos, que poderia abranger, neste caso, toda a família, incluindo os elementos do sexo feminino. Ainda se recorda dos preços então praticados: 15 tostões por barba e cabelo; 7,5 tostões por um corte de barba ou 7,5 tostões por um corte de cabelo. Muitas vezes, o ajuste era feito ao mês, cujo preço variava de acordo com o número de cortes de barba semanais e cortes de cabelo mensais. Os caseiros e pequenos lavradores preferiam pagar normalmente em espécie, designadamente em alqueires de milho.
Um dos maiores clientes era o Seminário de Resende, ao qual destinava todas as quintas-feiras para o corte de cabelo dos seminaristas. Pelo manejo das suas navalhas e tesouras passaram quase todos os padres do concelho, médicos, autoridades concelhias, advogados, grandes e pequenos lavradores, ou seja gente de todas classes, do mais rico e culto ao mais pobre e analfabeto. Uns mais assiduamente; outros só em dias de feira.
Por morte do pai em 1960, por afogamento no rio Douro, quando o mesmo tinha apenas 48 anos, Sílvio Pinto, então com 22 anos, teve de tomar conta da barbearia. Refira-se, a propósito, que este acidente abalou então o concelho, tendo envolvido a morte de mais quatro pessoas. Tudo aconteceu num fim de tarde fatídico em que várias pessoas que regressavam da festa de Santa Eufémia, após a saída no apeadeiro de Mirão, vindas da Régua, apanharam um barco de pesca para a passagem para a outra margem, e que a certa altura começou a meter água. Como o pai do Sr. Sílvio, Américo Pinto, sabia nadar bem, num gesto de grande coragem, deitou-se à água para diminuir o peso. Impensadamente, quatro pessoas seguiram-lhe o exemplo, mas como não sabiam nadar agarraram-se a Américo Pinto, que embora tudo fazendo para os salvar, foi vítima do descontrole então gerado, vindo todos a morrer nesta tragédia. Sílvio Pinto, também regressado de Santa Eufémia, tinha apanhado a barca do serviço de travessia regular, não lhe tendo acontecido nada.
Da sua longa carreira profissional orgulha-se de ter ensinado a arte a cerca de 250 jovens. Como nota curiosa, nas provas do curso para diretor técnico de cabeleireiro, tirado no Porto, em que é diplomado, alguns dos avaliadores tinham sido seus alunos.
Sílvio Pinto, além de fazer barbas e cortar cabelos, juntamente com os seus dois colegas, continua a desempenhar um papel social inestimável. O Salão Avenida é um local onde muitos aproveitam para se encontrar e trocar notícias locais (doenças, acidentes, furtos, regresso de emigrantes, andamento de obras…). É o paradeiro obrigatório para integrar e atualizar resendenses de visita ao concelho. O autor destas linhas é disso testemunha. Após cortar o cabelo, sente-se como se aqui sempre tivesse vivido.
 
Outras facetas e artes de Sílvio Pinto
As freiras que então prestavam serviço de enfermagem no hospital da Santa Casa da Misericórdia de Resende não podiam de lá sair. Tornava-se necessário encontrar alguém com apetência e que se dispusesse a dar injeções, deslocando-se às respetivas residências. Face à vivência familiar onde se cultivava o espírito de entreajuda e às suas características pessoais de responder a desafios, Sílvio Pinto mostrou-se disponível para fazer face a esta necessidade, que se fazia sentir na vila e nas aldeias vizinhas. A aprendizagem foi feita com o Dr. Eurico Esteves, médico no hospital da Misericórdia e delegado de saúde. Desde a juventude até há relativamente poucos anos, Sílvio Pinto foi o cuidador que respondeu às necessidades de centenas de pessoas em situações de doença e fragilidade, deslocando-se às suas casas para dar injeções e distribuir palavras de conforto e incentivo.
Esta competência na aplicação de injeções estendeu-se ao gado, quando estava com a “malina”. Meio brincar, Sílvio Pinto refere que foi o primeiro enfermeiro ambulante e o primeiro veterinário do concelho.
É um homem multifacetado. Também revelou ter “poderes especiais” na deteção de água. Deveria ter à volta de 20 anos quando, após ver o Sr. Padre Esteves, atual pároco de S. João de Fontoura, a caminhar com uma vara dobrada em forma de V, a qual repentinamente se começou a torcer perante aquilo que dizia ser um veio de água, também quis experimentar. A experiência foi um sucesso. A força na vara, agarrada nas extremidades por cada uma das mãos, foi tanta, que parecia ir desmaiar, segundo as suas palavras. O Padre Alfeu, que lá se encontrava, também experimentou, mas para sua deceção nada aconteceu. Muitas minas se romperam e alguns furos se concretizaram, graças aos seus dotes de vedor. E nunca se enganou. Indicou sempre com precisão a localização e a quantidade da água. Dizia, por exemplo, “há água aqui a 5 metros de profundidade, mas o veio principal passa a 10”.
Convém referir que sempre respondeu a estas solicitações pelo prazer de ajudar e ser útil, nunca tendo havido qualquer contrapartida. O mesmo aconteceu com a sua esposa, a quem inúmeras pessoas também recorreram para aplicação de injeções.
O seu percurso de vida integra ainda o exercício de atividades no âmbito associativo, desportivo e político. Fez parte dos corpos sociais da Casa do Povo, da Associação dos Bombeiros Voluntários e do Grupo Desportivo de Resende. Foi membro, durante cinco mandatos, da Assembleia Municipal de Resende. Foi jogador e treinador de futebol.

Nota: Como é do conhecimento público, foi atribuída recentemente ao Sr. Sílvio Alípio Pinto a Medalha de Ouro de Mérito do Município de Resende, “pelas qualidades humanas, profissionais e intelectuais, e pelo seu contributo para a dignificação de uma das mais tradicionais profissões dos resendenses, por ser dos mais antigos profissionais de barbearia em funções”. A fundamentação desta atribuição realça também o seu papel na formação de jovens barbeiros/cabeleireiros ao longo de décadas e ainda o seu contributo para a divulgação do nosso concelho.
*Apontamento da autoria de Marinho Borges, publicado no Jornal de Resende, edição de Julho de 2013

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Perfil do Prof. Aquilino Rocha Pinto*

Ele é integralmente um gentleman
 Esta citação de Rebeca West, escrita na parede à direita, logo à entrada do restaurante, define e caracteriza o ambiente acolhedor, a arte de bem receber, o bom gosto e a qualidade da comida. Este novo Gentleman, capitaneado por Manuel Pedro Gomes, de decoração sóbria e de muito bom gosto, corporiza o conceito abrangente de restauração: pratos regionais, refeições para dias especiais, almoços muito económicos de preço fixo, pizas, massas e menus infantis, de entre outros destaques. Com bom tempo, poder-se-á desfrutar do espaço convidativo da esplanada.
É um ótimo espaço para quem quiser fazer da refeição um agradável encontro de conversa, como aconteceu com o Dr. Aquilino Pinto. A escolha recaiu no “polvo à Gentleman”. Uma delícia.

Dados da vida pessoal
O Prof. Aquilino Rocha Pinto nasceu a 25 de setembro de 1974 no Rio de Janeiro, sendo filho de Aquilino Pinto, já falecido, natural de S. Cipriano/Resende, e de Maria Helena Rocha Pinto, natural do concelho de Vagos/Aveiro. Os pais conheceram-se e casaram no Rio de Janeiro, onde viveram bastantes anos. Devido a problemas de saúde, o pai foi aconselhado a mudar-se para uma região de clima mais temperado. Foi assim que resolveu retornar ao concelho de Resende, onde adquiriu a Quinta do Engenho, em Rendufe, ao Dr. Fernando Sampaio, médico do antigo hospital da Santa Casa da Misericórdia e do seminário de Resende. Tem uma irmã.
Frequentou a antiga escola primária de Rendufe de Cima (escola velha), em Minhães, tendo depois transitado para a então Escola Preparatória de Resende e posteriormente para a Escola Secundária, onde fez o 7.º ano. Terminou o 3.º ciclo no Externato D. Afonso Henriques, tendo aqui prosseguido os estudos, durante o 10.º e 11.º anos. Concluiu o 12.º ano na Escola Secundária.
Desde muito novo manifestou grande apetência pela prática do desporto. Assim, no âmbito do desporto escolar, participou nas modalidades de atletismo (estafeta e salto em comprimento) e foi jogador de futsal e voleibol. No âmbito do desporto federado foi jogador de voleibol no Clube Náutico de Aregos e jogador de futebol de 11 no Juventude de Anreade, no Clube Desportivo de Aregos e no Grupo Desportivo de Cárquere (INATEL).
Foi treinador de futebol de 11, do escalão juvenis, no Clube Desportivo de Aregos. Coordenou, ao serviço do Futebol Clube do Porto na época 2006/2007, um grupo de 14 observadores de jovens talentos na modalidade de futebol.
Tem dado um contributo importante na esfera da intervenção cívica e associativa, sendo de destacar a propósito que é membro do conselho geral da Associação Pró-Ordem dos Professores, foi um dos fundadores do Agrupamento de Escuteiros de Resende e integrou os corpos sociais do Clube Desportivo de S. Martinho de Mouros. É casado e tem um filho. Vive em Rendufe, Resende.

Percurso profissional
A sua apetência pelo desporto fez com que optasse por um curso ligado a esta área. Nessa altura, havia falta de professores de educação física nas escolas, o que também pesou nesta escolha. Tirou o curso no Instituto Piaget de Viseu, sendo licenciado em Motricidade Humana, no ramo de Ciências de Educação Física e do Desporto. Findo o curso, começou a trabalhar no Externato D. Afonso Henrique, iniciando funções docentes no ano letivo de 1999/2000, onde continua a ministrar a disciplina de educação física.
É formador na Escola Profissional de Resende. Ministrou diversos módulos no âmbito de cursos de formação para jovens e adultos, organizados por empresas ligadas a esta área.

Papel no desenvolvimento do ténis de mesa no Distrito de Viseu
O Prof. Aquilino Pinto é, desde os tempos de aluno da Escola Secundária e do Externato D. Afonso Henriques, onde o ténis de mesa era rei, um entusiasta da prática desta modalidade. Ainda como estudante em Viseu, foi convidado por algumas pessoas de Resende a fundar uma Associação Distrital de Ténis de Mesa, pois havia na altura excelentes jogadores na Escola Secundária e no Externato, treinados respetivamente pelo Prof. António Loureiro e pelo Prof. António Correia.
O trabalho não foi fácil, por vários motivos. Na altura, com 24 anos, muitos desconfiavam da concretização do projeto. Criar uma associação distrital parecia um sonho irrealizável. Mobilizar vontades e responder aos obstáculos de natureza administrativa não foram tarefas fáceis. Convicto de que este objetivo não poderia ser concretizado sozinho, rodeou-se de um grupo de trabalho, formado por pessoas de confiança e dispostas a abraçar este desígnio. Assim foi possível conquistar paulatinamente a credibilidade junto dos responsáveis locais e regionais, incluindo autarcas e políticos, já que na altura esta iniciativa não era bem vista em alguns setores, pois havia uma instituição na cidade de Viseu ligada ao ténis de mesa, que “vegetava”, não fomentando a modalidade a nível federado.
A convicção e o trabalho persistente conduzem quase sempre a bom porto. Foi o que aconteceu neste caso. Nasceu assim em 1999, data da respetiva escritura pública, a Associação de Ténis de Mesa do Distrito de Viseu, com sede em S. Martinho de Mouros, onde se mantém.
Graças ao dinamismo do Prof. Aquilino Pinto, que em 2012 foi reeleito presidente da direção para um novo mandato de quatro anos, e das equipas diretivas que tem vindo a liderar, esta associação goza de grande prestígio a nível regional e nacional, o que honra o concelho de Resende. Em 2010, viu coroado este esforço com a obtenção do estatuto de Instituição de Utilidade Pública. Continua a ser a única associação distrital da modalidade, sedeada numa localidade/vila, neste caso, em S. Martinho de Mouros.
Conseguiu ultrapassar pela primeira vez, na presente época desportiva, a barreira dos 120 atletas federados e, consequentemente, o maior número de clubes filiados (13).
A Associação de Ténis de Mesa do Distrito de Viseu (ATDMV), para além dos clubes filiados do Distrito de Viseu, tem um clube federado do Distrito da Guarda e outro do Distrito de Castelo Branco, respetivamente a Associação de Bombeiros Voluntários de Seia e o Clube Desportivo de Alcains. Assim, esta é a única associação distrital da modalidade com clubes filiados de três distritos, afirmando-se desta forma como uma estrutura cada vez mais inter-regional.
Na presente época desportiva, a ATMDV tem um clube (Currelos, em Carregal do Sal) a disputar o Campeonato Nacional da 2.ª divisão em equipas na categoria de seniores masculinos, havendo a possibilidade de mais dois clubes subirem, na próxima época, às competições nacionais.
A título de curiosidade, importa realçar a existência de apenas um clube federado no concelho de Resende, que é a Associação de Pais e Encarregados de Educação do Centro Escolar e Escola Básica do 2.º Ciclo (EB2) de Resende. Está filiado pela primeira vez na presente época e, até ao momento, tem apresentado resultados positivos, que se devem em grande medida à dinâmica dos seus dirigentes, nomeadamente da sua presidente, a Dr.ª Sandra Pinto, e do Prof. Sérgio Sousa, que acumula as funções de Diretor Técnico Distrital da ATM Distrito de Viseu.

Para além dos jogos previstos no calendário a nível federado, o Prof. Aquilino Pinto tem procurado promover o ténis em todo o distrito com várias atividades e torneios. Convém referir que, até há dois anos, todos os torneios anuais de abertura (de arranque da respetiva época desportiva a nível federado) foram realizados no pavilhão gimnodesportivo de S. Martinho de Mouros, constituindo um evento de relevância de divulgação desta vila e do concelho de Resende.
*Apontamento da autoria de Marinho Borges, publicado no Jornal de Resende, edição de Maio de 2013
Nota: A conversa que lhe deu origem decorreu ao longo de um almoço no restaurante Gentleman

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Projeto Comenius em meeting na Finlândia*



 De 13 a 17 de maio de 2013, um grupo de três professores e três alunos da Escola Secundária Dom Egas Moniz, de Resende, participou no 2.º Encontro do Projeto Comenius Living near the water, aspects of life, realizado na cidade de Lappeenranta, na Finlândia, no âmbito do Programa de Aprendizagem ao Longo da Vida da Agência Nacional PROALV. 

O primeiro dia de meeting iniciou-se com as boas-vindas por parte do diretor anfitrião, com a apresentação do programa para a semana por parte do coordenador local e com visitas às instalações da escola. De seguida, os professores reuniram-se para proceder à avaliação das atividades realizadas com os alunos após o meeting anterior, em Salerno, na Itália, enquanto os alunos faziam uma caminhada pelas redondezas da escola. Ao fim da tarde, foi organizada uma visita guiada, para professores e alunos, ao centro da cidade, seguida de uma atividade de remo. 
No segundo dia, da parte da manhã, ocorreram as apresentações relativas ao ecotour e entrevistas a emigrantes realizados pelos alunos em cada um dos países participantes. A parte de tarde foi dedicada a uma visita guiada à Universidade de Tecnologia de Lappeenranta, onde houve também lugar ao encontro com alguns estudantes universitários de países estrangeiros. Enquanto os alunos retornavam à escola de acolhimento, os professores das diversas delegações tiveram ainda uma reunião para discutir as atividades que deverão ser apresentadas no próximo meeting, em Guadalupe. 
O terceiro dia foi integralmente dedicado a uma excursão ao Castelo de Savonlinna, ao Museu da Floresta – em Lusto – e à maior igreja de madeira do mundo – em Kerimaki. Ao final da tarde, houve ainda oportunidade para os professores experimentarem a sauna finlandesa, seguida de um mergulho num lago, com a água a 8 centigrados. 
No quarto dia, da parte da manhã, ocorreu uma visita à fábrica de papel UPS Kaukas, a que se seguiu nova reunião de professores para acertarem pormenores do 3.º meeting do projeto. Ao mesmo tempo, os alunos realizavam entrevistas a imigrantes. À tarde, as diversas delegações foram brindadas com apresentações musicais de alunos da escola de acolhimento. À noite, os professores puderam assistir a um concerto de jovens solistas do Instituto de Música de Lappeenranta. 
No último dia, durante a manhã, professores e alunos jogaram basebol finlandês. Seguiu-se uma última reunião de professores para avaliação das atividades realizadas durante a semana. Em simultâneo, os alunos preparavam, em trabalho de grupo, as apresentações que lhes haviam sido distribuídas no primeiro dia de meeting, centradas nas atividades realizadas durante a semana. Após o almoço, os professores deslocaram-se ao Media Centre do Departamento de Educação da cidade, onde tiveram algumas horas de formação sobre o uso de tablets a nível escolar. Ao final da tarde, todas as delegações se dirigiram para a ilha Asinsaari, onde os alunos tiveram também oportunidade de experimentar a sauna finlandesa e os mergulhos em água muito fria. Seguiu-se o jantar e momentos de confraternização entre todas a delegações. Ao final do dia, os professores locais convidaram os visitantes a cozerem o seu próprio pão numa fogueira junto à água. Professores e alunos enrolaram então a massa de farinha em estacas e durante dez minutos cozeram cada um o seu alimento. Seguiram-se as despedidas entre as várias delegações, com as habituais lágrimas de saudade entre muitos dos alunos. 
Os próximos meetings irão ser realizados na Alemanha, em Guadalupe e na Suécia.
*Dionísio Ferreira, Coordenador do Projeto Comenius

Notas: 1 – O conteúdo desta notícia compromete apenas o seu autor, não sendo Agência Nacional e a Comissão Europeia responsáveis pela utilização que possa ser feita das informações nela contidas. 
2 – Este projeto da União Europeia, de parcerias Multilaterais Comenius foi financiado pela referida Agência Nacional Proalv com o montante de 22.000 euros.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Perfil do Dr. Adriano Pereira, advogado*


Ele é integralmente um gentleman
Esta citação de Rebeca West, escrita na parede à direita, logo à entrada do restaurante, define e caracteriza o ambiente acolhedor, a arte de bem receber, o bom gosto e a qualidade da comida. Este novo Gentleman, capitaneado por  Manuel Pedro Gomes, de  decoração sóbria e de muito bom gosto, corporiza o conceito abrangente de restauração: pratos regionais, refeições para dias especiais, almoços muito económicos de preço fixo, pizas,  massas e menus infantis, de entre outros destaques. Com bom tempo, poder-se-á desfrutar do espaço convidativo da esplanada.
É um óptimo espaço para quem quiser fazer da refeição um agradável encontro de conversa, como aconteceu com o Dr. Adriano Pereira

Dados da vida pessoal e familiar
O Dr. Adriano José Fernandes Pereira nasceu a 17 de Maio de 1964 em Sais de Cima, Resende, onde residiu com os pais até 12 de Dezembro de 1992, data em que casou e passou a residir,  até hoje,  em S. Pedro do Sul. É filho de Bento Pereira, ainda vivo, e de Maria de Lurdes, já falecida.
O pai   granjeou ,  como caseiro, durante mais de 60 anos,  a quinta do Sais de Cima, pertencente ao Eng. Vítor Brandão, já falecido, residente na Foz/Porto. A mãe dedicou-se à educação dos 10 filhos e ao trabalho de casa.
É casado com Maria Laura Casais de Almeida, professora de latim, língua e literatura portuguesa, de quem tem três filhos (dois filhos e uma filha), que frequentam,  respectivamente,  o 3.º ciclo, secundário e a universidade.

Percurso escolar e formação complementar
Frequentou a escola primária da vila de Resende, onde concluiu a então 4.ª classe,  em 1975. Nesse mesmo ano,  matriculou-se no Externato D. Afonso Henriques, nas instalações bastante exíguas existentes no lugar de Massas,  tendo por isso  a turma,  onde estava integrado,  passado a ter aulas no seminário de Resende,  para onde se deslocavam   os respectivos professores.  No ano lectivo de 1976/1977, já a frequentar o 6.º ano, transitou para a então Escola Preparatória, cujo edifício tinha sido recentemente inaugurado, e onde viria a concluir o 9.º ano.
No ano lectivo de 1980/1981 matriculou-se no 10.º ano no Externato D. Afonso Henriques, passando a frequentar as  novas instalações junto à igreja paroquial. Convém referir que as aulas  se iniciaram  em regime de grande incerteza, pois não havia   qualquer autorização de funcionamento do Ministério da Educação, o que só veio a acontecer  vários meses mais tarde. O  10.º ano arrancou com duas turmas (uma da área de ciências,  com 4 ou 5 alunos, e outra da área de humanísticos, com cerca de 15 alunos). Veio a terminar o 12.º ano com 14,60.
Concluído o secundário, em 1983, candidatou-se às Faculdades de Direito das Universidades de Coimbra e Clássica de Lisboa, não tendo entrado  por uma questão de uma décima.
Em Outubro de 1983 candidatou-se a uma vaga num concurso para o quadro de pessoal da Câmara Municipal de Resende,  tendo, após realização de prova escrita e entrevista,   sido classificado em primeiro lugar. Começou por exercer funções administrativas relacionadas com processos (petições, contestações e outros requerimentos) que o então Presidente da Câmara, Dr. Albino Brito de Matos, patrocinava,  em representação da Câmara,  junto das auditorias administrativas, hoje tribunais administrativos.
No ano seguinte, ou seja, em 1984, voltou a candidatar-se à universidade, tendo sido colocado no curso de Direito da Universidade de Coimbra. A conselho de várias pessoas, designadamente de três ilustres advogados, Teixeira Pinto, Aires Borges e Brito de Matos,  que o irão influenciar indelevelmente no seu percurso profissional,  optou por conciliar o trabalho na Câmara, em Resende,  e o estudo de direito, na Universidade de Coimbra. Com a colaboração da Sociedade Filantrópica-Académica (instituição que exerce funções de procuradoria junto dos estudantes), onde se inscreveu, que lhe enviava os sumários das aulas e outras informações, e sobretudo com muita persistência e organização, concluiu a licenciatura. Logo após a sua obtenção, pediu licença sem vencimento de longa duração, abandonando o lugar na Câmara Municipal de Resende.
Para além da licenciatura em direito, convém realçar a formação complementar de que é portador.  Em 1997  veio a obter, após a frequência de dois semestres,  a pós-graduação em “Direito do Ordenamento do Território, Urbanismo e Ambiente” pela Faculdade de Direito da UC. Em 2009, pela mesma Faculdade,  terminou com sucesso o curso de especialização em Contratação Pública.

Percurso profissional
Estagiou em Coimbra e S. Pedro do Sul, estando inscrito na Ordem dos Advogados desde Outubro de 1993, com  escritório em S. Pedro do Sul a partir dessa data. Como era bastante solicitado por amigos e conhecidos de Resende para os patrocinar, decidiu também abrir escritório nesta vila.
Sentindo-se vocacionado para o ramo de Direito Público, começou por se dedicar ao contencioso administrativo, patrocinando causas em que uma das partes é o Estado e/ou as Autarquias Locais. Rapidamente começou a ser conhecido, sendo procurado por clientes de diversos pontos do país.
A sua relação com Resende voltou a intensificar-se, agora como advogado.  O Professor Pinto (Manuel Figueiredo Pinto Pereira), então a substituir o Dr. Albino Brito de Matos, que sofrera um acidente de viação, sentiu necessidade  de o consultar com frequência, na qualidade   de amigo e ex-funcionário, em várias questões jurídicas. De regresso à presidência da Câmara, o Dr. Brito de Matos,  foi confrontado com a recusa do visto do Tribunal de Contas no contrato de empreitada da construção da Ponte da Ermida, cujo concurso fora objecto de publicidade internacional (e,  nesta sequência,  aberto a construtores de qualquer país da União Europeia), com fundamento no não cumprimento do prazo para apresentação das propostas. Como estava em causa a perda dos fundos comunitários aprovados para a execução da obra, o Dr. Brito de Matos pediu ao amigo e advogado,  Dr. Adriano Pereira,  aconselhamento jurídico sobre como reagir à negação do visto do Tribunal de Contas. Minutou então o recurso para o pleno do Tribunal de Contas, que em novo acórdão revogou a anterior decisão e concedeu o visto. A importância desta intervenção foi realçada pelo Dr. Brito de Matos no seu livro “A Ponte da Ermida”.
Entretanto, como a Câmara não tinha no seu quadro de pessoal  nenhum jurista, o Dr. Brito de Matos propôs-lhe,  por essa altura, um contrato de avença anual para prestar consulta jurídica e o patrocínio judiciário, cuja necessidade era sentida,  designadamente no âmbito de questões relacionadas com a aplicação e interpretação das normas do plano director municipal (PDM) e do novíssimo regime jurídico de licenciamento de obras e loteamentos,  que entrou em vigor em 1992. Estas funções voltaram a ser-lhe confiadas pelo actual Presidente da Câmara, Eng. António Borges.
E é durante os três mandatos deste, como presidente,  que o Município de Resende se confronta com um grande aumento de litígios em tribunal e com uma necessidade de aconselhamento jurídico permanente, fruto da nova forma de exercer o poder, dos resultados da inspecção ordinária aos serviços administrativos e de licenciamento de obras e loteamentos, o que dá origem a muitos processos no tribunal administrativo. A acção do Dr. Adriano Pereira também foi imprescindível  no acompanhamento e aconselhamento do município na celebração do contrato e protocolo com a empresa eólica de S. Cristovão, cujas contrapartidas ultrapassaram mais de 3,5 milhões de euros, desde a rectificação e beneficiação da estrada que liga a vila de Resende à Ponte de Cavalar, limite do concelho, à participação no capital social da sociedade proprietária do parque,  e cujo valor viria a ser, mais tarde, destinado ao pagamento da aquisição dos imóveis e da concessão das  Termas de Caldas de Aregos.    
Mas é o conflito entre o Município e a concessionária das Caldas de Aregos, que dá origem a dezenas de processos judiciais, que mais trabalho vai dar ao advogado da Câmara, Dr. Adriano Pereira, desde o embargo das obras de melhoramento e beneficiação da Capela de Aregos, requerido pela concessionária logo no primeiro mês de mandato do Eng. António Borges, até ao processo crime movido por aquela concessionária ao próprio advogado da Câmara, que há-de ser arquivado, no próprio dia do julgamento e antes deste se iniciar, por Despacho do Juiz, tal era a falta de fundamento da acusação particular, só porque teve a ousadia de deduzir um incidente de suspensão contra os peritos do tribunal por uma avaliação escandalosa feita no âmbito da expropriação dos terrenos necessários à marina de Caldas de Aregos e que o juiz viria a anular.
Como advogado, ao patrocinar o Município de Resende, os seus órgãos e os titulares deste, para além do dever de patrocínio, sempre o acompanhou a obrigação de servir todos os resendenses.
Para além de advogado convém referir que, durante 5 anos lectivos consecutivos, foi professor convidado do Instituto Piaget de Viseu, onde leccionou as cadeiras de “Administração Pública” e de “Economia e Política Ambiental”.

Nota: Como é do conhecimento público, ao Dr. Adriano Pereira foi atribuída recentemente a Medalha de Ouro de Mérito do Município de Resende,  “pelas qualidades humanas, profissionais e intelectuais, bem como o seu contributo para a actividade e afirmação, com assinalável qualidade dos serviços prestados, ao Município de Resende”.
*Apontamento da autoria de Marinho Borges, publicado no Jornal de Resende, edição de Abril de 2013. 
A partir de uma conversa que decorreu ao longo de um almoço no restaurante Gentleman.

terça-feira, 21 de maio de 2013

O Dr. Jaime Bernardino Alves apresentou candidatura à Câmara Municipal de Resende

No passado sábado, dia 18 de maio de 2013, pelas 16 horas, decorreu no auditório municipal de Resende a apresentação da candidatura de Jaime Alves às autárquicas de 2013, numa coligação PSD/CDS. Neste evento estiveram presentes Hélder Amaral, deputado e presidente da comissão política distrital do CDS-PP de Viseu, Mota Faria, presidente da comissão política distrital do PSD de Viseu, e o convidado especial da apresentação, António Almeida Henriques, anterior secretário de estado adjunto da economia e do desenvolvimento regional.
Hélder Amaral iniciou a apresentação referindo Resende como “um concelho tão rico, cuja história de Portugal passa aqui pelas ruas, quer no mosteiro de S. Martinho, quer em Cárquere… onde D. Afonso Henriques brincava por aqui. Uma terra que tem uma história tão rica na história da nação… porque é que Resende não marca no contexto nacional mais ainda a sua pujança e a sua dinâmica? Tudo o que precisam está cá. O essencial é que Resende tem gente magnífica, o seu principal ativo, paisagem, património e história magníficos. O futuro de Resende é um futuro risonho, com esperança e que eventualmente não vai deixar ninguém indiferente. E este futuro precisa da liderança, e Resende tem algo que não se encontra em outros concelhos do país, porque não é muito fácil encontrar jovens com qualidade, com vontade, que procurando fazer tudo que fazem por si próprios e o Jaime é um homem ambicioso, não esquece aquilo que pode fazer pelos outros. E por isso feliz é a terra que tem um jovem com esta dimensão, com esta dinâmica e com esta vontade.”
Mota Faria diz que “Jaime é uma pessoa profundamente humanista, uma pessoa discreta. É uma pessoa que tem uma sensibilidade social muito enraizada e é talvez aquilo que consideramos o novo autarca. Um autarca que de certeza tem um projeto agregador. Ele quer fazer um projeto com as pessoas, ele quer fazer um município que seja um município facilitador, e não um município com sentimos muitas vezes em Resende, como um município que tudo quer controlar. Que tudo quer controlar em termos do movimento associativo, em termos das pessoas, muitas vezes ultrapassando aquilo que é a noção de que todos temos de gestão dos dinheiros.” Quanto ao desenvolvimento, o presidente da comissão política distrital do PSD de Viseu refere que “vê-se muito investimento em Resende. Nós vemos que houve aqui obra, não vamos esconder. Nós sentimos que alguns equipamentos podem ser um ou outro questionáveis, mas o que deu isso às pessoas em termos de desenvolvimento? Há aqui qualquer coisa que falha em Resende, falha na fixação de pessoas, falhas muitas vezes respostas a algumas necessidades. Parece que há tudo, mas falta tudo.”
“Porque é que se investe tanto dinheiro, porque é que ao longo dos últimos ciclos comunitários se investiu tanto dinheiro em obra, designadamente neste concelho onde muitas estruturas foram feitas, e porquê as pessoas continuam a sair? A resposta talvez seja simples, é que não houve capacidade para criar valor, não houve capacidade para criar riqueza, não houve capacidade para fixar as pessoas. A generalidade dos autarcas, o autarca de Resende, não sendo exceção, esqueceu-se de uma coisa, é preciso dedicar-se mais tempo ao desenvolvimento da atividade económica. E esta é uma das maiores valias que a candidatura do Jaime Alves pode trazer ao concelho.” – afirma António Almeida Henriques
Jaime Alves responde a quem surpreendeu a sua candidatura “com uma declaração de amor genuíno à minha terra e à minha gente. E respondo ainda com a formação e experiência de trabalho de mais de 20 anos. Ao contrário do que vejo na candidatura socialista não sou nem um estrangeirado, nem um produto importado, imposto de cima para baixo, por alguém  para perpetuar o sistema do poder. E convenhamos a cópia é pior que a original. Respondo ainda com um compromisso de progresso e um programa de desenvolvimento real para o nosso concelho. Um compromisso alicerçado na riqueza da terra e no valor das pessoas. Comigo Resende terá um líder e nunca um xerife.”
A candidatura de Jaime Alves passa por 7 compromissos:
1.         Um programa de fomento e assistência empresarial a que chamaremos de Resende Empreende – será um programa de desenvolvimento económico apostado na assistência às empresas, no apoio e acesso a financiamento comunitário, na atração de pequenos e médios investimentos e no empreendedorismo local.
2.         A certificação da cereja e uma estratégia de valorização de produtos locais.
3.         Um compromisso político nacional para a concretização das estradas nacionais 222-2 e 321-2, absolutamente indispensável ao fim do isolamento territorial de Resende, a norte e a sul.
4.         Um programa de reabilitação urbana e económica de Caldas de Aregos.
5.         Uma política municipal de inclusão social, de promoção de um enriquecimento ativo e apoio escolar.
6.         Uma aposta na revitalização turística e termal do concelho e no desenvolvimento da sua oferta de turismo náutico, histórico e de natureza.
7.         Uma estratégia de captação de fundos comunitários para financiar este programa de desenvolvimento do concelho entre 2014 e 2017.
*Rafael Barbosa

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Moleiros recuperam tradição do jogo do pião*


O Grupo de Danças e Cantares “Os Moleiros” de Cárquere realizou um “Convívio”, pelo terceiro ano consecutivo, no passado dia 17 de março, com o objetivo de recuperar e reativar os jogos tradicionais da cavilha e, sobretudo, do pião.
Compareceram à iniciativa, que decorreu na antiga escola primária de Passos, sede da Associação, cerca de duas centenas de pessoas, provenientes da região, que não quiseram perder a oportunidade de recordar memórias e tradições de um tempo não muito distante. Uma oportunidade, também, de convívio social, numa época em que os brinquedos tecnológicos substituíram os jogos tradicionais. “Muita da gente que saiu da escola a jogar o pião só agora, com estas iniciativas, o volta a fazer, regressando às suas origens”, refere Alberto Pinto, Presidente da Direção dos Moleiros.
Se a maioria das pessoas veio para assistir à iniciativa, outros prepararam-se para uma competição saudável, que estimula o desenvolvimento de habilidades variadas, como a capacidade de concentração, a coordenação motora, a agilidade dos reflexos e a criatividade.
O torneio oficial, à volta da escola, com prémios simbólicos, começou. Compreende-se, desde logo, porque este é um jogo de rapazes. Para além da habilidade e perícia, é necessário muita pontaria e, sobretudo, força… “– É à malhão!”, ouve-se repetidamente, em contraponto com o “saca baraça”, de quem prefere lançar o pião de uma forma mais lúdica.
Os participantes envolvem o pião a partir do ferrão com uma baraça apertada, metida no dedo médio, seguram-no na mão, com o bico voltado para cima, e lançam-no ao chão com um forte impulso, tentando acertar e fazer mossa nos que já lá estão. Depois é pegar o pião de “funil”, de “tesoura” ou à “machado”, pondo-o a girar na palma da mão, recordando um gesto simples que animou e entreteve gerações.
Os grandes vencedores deste ano foram Arnaldo José Pinto Portela e José Pinto Lourenço, que conseguiram uma volta à escola sem irem à forca, acertando consecutivamente nos piões adversários, sem que os seus deixassem de girar.
O jogo terminou, depois de uma tarde de convívio são e da partilha de muitas histórias divertidas. Os piões são religiosamente guardados para novas contendas, fazendo jus à letra da música tradicional: “Eu tenho um pião, um pião que dança / Eu tenho um pião, bem na minha mão / Gira que gira o meu pião / Mas não to dou, nem por um tostão”.
Para combater o cansaço que começa a invadir participantes e espetadores, a organização ofereceu uma refastelada feijoada, ficando no ar a promessa de um novo convívio, para o próximo ano.

O artista dos piões
Jorge Costa, de 50 anos, residente no lugar de Tulhas, é o artista dos piões. Das suas mãos surgem todo o tipo de miniaturas em madeira, como moinhos, canastros e, claro, os famosos piões, feitos nos tempos livres, uma vez que é funcionário na Câmara Municipal de Resende.
Desde a infância que dar vida aos piões não tem segredos para Jorge Costa. “Na escola, já fazia piões. No monte da P’reira, aqui perto, desprendia as trepas dos pinheiros, de preferência com nós, para que o pião fosse mais resistente às canicadas. Depois, em casa, com a ajuda de uma foicinha, pois as facas eram escassas, modelava-os. Metia-se um prego e já estava”, descreve.
Hoje, as condições de “fabrico” são outras. Construído num torno, o pião é de madeira rija, de lodo ou cerejeira, redondo na parte superior, afunilado para baixo, terminando no “ferrão”, de ferro, preparado antecipadamente. “O segredo está na forma como se mete o ferrão, o mais direito possível, para o pião andar bianço, direitinho… Os piões escravinhotos e chincharos, que saltam muito, são mal feitos…”, relata à medida que gira a madeira, no torno, dando-lhe vida e forma. Para fazer girar o pião é indispensável o seu acessório, a baraça de lã, de várias cores, que se enrola à sua volta.
A construção de um pião, com o material já devidamente preparado, pode durar cerca de uma hora. No final, surgem pequenos objetos a rondar os 10 cm por 6,5 cm de diâmetro.
“Ainda há pouco tempo, vendi 25 para França”, conclui o artesão.

Memórias perdidas no tempo
Manuel Lourenço, de 77 anos, residente na Arrifana, é o decano da companhia e um dos mais ativo e participativos no jogo e nas memórias de um passado que lhe deixou saudades.
“Cada jogo tinha a sua época: o do pião era na Quaresma”, recorda. Os rapazes reuniam-se nos intervalos das aulas ou aos domingos à tarde para jogar ao canico, à forca ou ao sovelo”, recorda. Um dos jogos mais conhecidos consistia em traçar no chão um círculo, para dentro do qual os jogadores lançavam os piões. Quando um não saísse do traçado, ficava prisioneiro, suportando os efeitos dos golpes desferidos pelos piões dos outros jogadores até que, obrigado pelas pancadas, acabava por sair do círculo.
Quando se conseguia, de um golpe, rachar ao meio o pião do adversário era uma “algazarra” que, não raras vezes, era seguida de uma “cena de pancadaria” entre os intervenientes.
Outras vezes, dada a violência do arremesso, aconteciam os acidentes: uma “cabeça partida, um sobrolho aberto”… Algumas das maleitas eram feitas pelos piões mais pequenos, as piascas ou bilrinhas, pequenos em dimensão mas muito “perigosos e certeiros”, diz Manuel Loureiro. Qualquer um deles eram muito estimados, porque “quem ficasse sem pião teria muita dificuldade em arranjar outro…”, lembra.
Outros tempos em que se desmanchavam as velhas camisolas para fazer as baraças. “Uma vez, por volta dos 10 anos de idade, roubei um casaco à minha mãe para fazer uma. O pior foi quando ela descobriu que já não tinha casaco…”, conta.
*Texto da autoria de Paulo Sequeira, publicado no Jornal de Resende, edição de Abril de 2013. Foto da Foto Ideal 
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