quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

História do Externato D. Afonso Henriques*

O EXTERNATO EM BODAS DE OURO

O Externato D. Afonso Henriques está a celebrar 50 anos de existência e de trabalho.
Bonita idade para uma pessoa e para uma escola.
Vamos evocar os seus primeiros dias.
No início da década de sessenta do século passado, não havia ainda em Resende uma escola de nível secundário, aberta aos jovens adolescentes que pretendessem continuar os seus estudos, depois de concluído o exame da quarta classe do Ensino Primário.
Apenas existia o Seminário de Resende, desde 1928. Sendo porém um seminário, só podia acolher os moços da diocese que pretendessem ascender ao sacerdócio. Para os demais (rapazes ou raparigas), nada existia até então. Apenas podiam continuar os seus estudos os jovens cujos pais possuíssem rendimentos que lhe permitissem frequentar como internos um dos dois colégios que havia então em Lamego (o da Imaculada Conceição para meninas e o Colégio da Ortigosa para rapazes) ou o Liceu Latino Coelho, hospedando-se em alguma casa particular. E eram poucos, esses privilegiados. Muito poucos.
O bispo de Lamego, D. João da Silva Campos Neves, grande pastor e excepcional administrador, preocupado com a formação humana e cristã da juventude da diocese, começou a sugerir aos sacerdotes de cada concelho ou arciprestado que se implicassem na criação de escolas concelhias que facilitassem os estudos também aos jovens mais pobres a quem estava vedada a frequência de colégios e liceus.
Em Resende, agarrando a sugestão do ilustre prelado, um grupo de sacerdotes e de leigos entusiasmaram-se com a ideia, constituíram uma Sociedade de Ensino – “Sociedade de Ensino D. Afonso Henriques” -  e fizeram nascer o Externato.
Arrendado o fidalgo mas degradado edifício da Casa de Massas, então propriedade da senhora D. Maria Joana de Castro da Câmara Leme, aí começaram as aulas em Outubro de 1963.
A primeira acta da sociedade tem a data de 15 de Outubro de 1963. Dessa acta, constam como presidente da Assembleia-Geral o Pe. Manuel Cardoso, pároco de S. Romão, e membros efectivos da gerência, os padres Manuel da Fonseca e Armando Meneses, professores do seminário e o Pe. Artur Figueiredo, pároco de Anreade.
A referida sociedade foi legalmente constituída em 3 de Dezembro desse mesmo ano, por escritura lavrada no cartório notarial de Resende, a folhas 42 a 49 v. do livro nº 38 – B para Escrituras Diversas. Tratou-se de uma sociedade por cotas, e dela constavam como sócios fundadores: com seis cotas, no valor de trinta contos de réis, a Diocese de Lamego representada no acto pelo Pe. Manuel Mota de Sá; com uma, no valor de 5 mil escudos, as seguintes personalidades: Dr. Amadeu da Fonseca Sargaço (advogado); Dr. Albino Brito de Matos (advogado); António Loureiro Emídio (proprietário); Amílcar Teixeira Dias (funcionário público e ex-seminarista); Pe. António Cardoso Júnior (pároco de Barrô); Pe. Manuel Vieira Pinto (pároco de Paus); Pe. Adelino Teixeira, Capelão do Hospital da Misericórdia; Pe. Artur Figueiredo (pároco de Anreade); Pe. Fernando Teixeira Dias (pároco de Freigil); Pe. Manuel Cardoso (pároco de S. Romão); Pe. Manuel da Fonseca, Pe. Armando Meneses e Pe. António Santos Silva (professores do seminário); Pe. Alberto Ferreira, de Forjães (pároco de Queimada); Pe. Joaquim Andrade Ferreira (pároco de S. Martinho); Pe. Abel de Sousa (pároco de Cárquere); Dr. António Correia e Vale (advogado em Lisboa e casado em Cárquere); Pe. Antonino Duarte (pároco de Fontoura); e Manuel Ribeiro Choça, (bancário em Lamego e casado em Fonseca).
A escritura foi publicada no Diário do Governo – III Série, de 16 de Janeiro de 1964. O registo da sociedade na Conservatória do Registo Comercial de Resende tem a data de 5 de Novembro de 1966.
Ao longo dos anos, os sócios foram desistindo das suas cotas (doando-as, cedendo-as ou vendendo-as). Todas essas decisões foram legalizadas por uma escritura de 17 de Dezembro de 1986, data em que a “Fábrica da Igreja de Resende” passou a ser detentora de toda as cotas, mantendo-se desde então sua única proprietária.
Segundo reza a escritura de constituição, o objectivo inicial dessa sociedade de ensino era ministrar o ensino primário e secundário, de carácter particular.
O primário nunca funcionou nem era necessário funcionar, dado que em todas as freguesias estava garantido esse nível de ensino. Funcionou sim o ensino preparatório (Telescola) e o ensino secundário até ao antigo 5º Ano (9º actual), apenas com a interrupção de um ano (1977/1978), em que foi substituído pela Escola Preparatória (hoje EB2). Em Outubro de 1978, reabriu já nas instalações atuais, junto da igreja, para dar seguimento aos alunos que completavam o 9º ano na Escola Preparatória e não tinham então ainda em Resende outra escola para poderem continuar os estudos. Começou com alunos do 10º ano e continuou com os demais anos do ensino secundário, abrangendo também depois o 3º ciclo do Ensino Básico. 
Dirigiram o estabelecimento de ensino, ao longo  destes cinquenta anos: o Pe. Adelino Teixeira (1963-1966); o Pe. António José dos Santos Silva (1966-1972); o Pe. Manuel Mota de Sá e o Pe. António Martins Teixeira (1972-1977); o Pe. António Martins Teixeira (1979 - 1992); o Pe. Manuel Esteves Alves (1992-2007); e, actualmente, desde 2007, o Pe. José Augusto Almeida Marques.
De todos os externatos que se criaram nas sedes dos concelhos da diocese na mesma altura do de Resende, este é o único sobrevivente. Tal facto fica a dever-se à persistência do Pe. António Martins Teixeira e dos seus mais próximos colaboradores que merecem a nossa justa e sincera homenagem.
 Nesta benemérita escola, prepararam-se para a vida e para o futuro, inúmeros adolescentes e jovens do concelho de Resende e de algumas freguesias d’além Doiro (sobretudo Santa Marinha e Gestaçô), desempenhando hoje muitos deles altos cargos e serviços relevantes na sociedade: no Ensino, na Medicina e na Administração….
Honra ao Externato.
Louvor aos seus pioneiros.
Parabéns aos seus professores e alunos.
Que os êxitos continuem a ver-se e a sentir-se, para bem do concelho e da região.
*Texto da autoria do Padre Dr. Joaquim Correia Duarte, publicado no "Jornal de Resende", edição de Novembro de 2013


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