Cá torna o Francisco Cardoso d’Azevedo,
de Vilar de Barrô, o tabelião de notas. O Pe. Diogo não roubou a este vulto
80:000 réis, como ele diz, e nós o transmitimos ao público. Ele não lhe roubou
nem uma pena, porque roubar uma pena a um escrivão é um pecado grave.
Para José Rodrigues Paulino
embarcar recorreu ao Pe. Diogo para lhe arranjar dinheiro, e este Padre
tirou-lhe 70:000 réis a juro em Ferreirós em casa de José Rodrigues Caçador, e
nunca ocupou o Sr. Francisco Cardoso d’Azevedo. Mas vem cá, Francisco, se tu
abonaste no Porto a José Rodrigues Paulino, porque não exigiste dele um título?
Quando tu principiaste a pedir ao Pe. Diogo esta dívida, ele escreveu para o
Brasil ao Paulino, perguntando-lhe se era verdade dever-te esta quantia, e ele
numa carta que enviou ao Pe. Diogo, e que este conserva, diz que nada te deve e
que tu és um ladrão. Como queres tu que o Pe. Diogo te pague, sem te dever tal dinheiro? Ó Francisco, nem sempre se pode fazer do direito torto e do
torto direito.
É como o Sr. José Maria Pinto de
Meneses, da Feira Nova, da freguesia de S. Martinho de Mouros…Quem diria que
este meu amigo que, sem merecimentos, quer passar por um cidadão honrado,
também é um caluniador? Já lá vão bastantes anos que Lino José Rodrigues,
sobrinho do Pe. Diogo, pediu a este que lhe abonasse na loja daquele Sr.
Meneses um fato. O Pe. Diogo deu-lhe uma carta em que pedia ao Sr. José Maria
Pinto de Meneses que fiasse ao sobrinho uma roupa até 4:500 réis. Passado algum
tempo, o Pe. Diogo, vendo que o seu sobrinho por muito pobre não pagava,
dirigiu-se ao Sr. Meneses e deu-lhe 4:500 réis. O Sr. Meneses, abrindo lá o seu
cartapácio, disse ao Pe. Diogo: “ Você deve aqui 11:800 réis, e este é o abono que fez a seu sobrinho”. “Mostre a carta, que lhe dirigi”, disse o Pe.
Diogo. O Sr. Meneses não apresentou a carta, porque não lhe fazia conta. Depois
o dito Lino deu-lhe por vezes algum dinheiro, e hoje dever-lhe-á uns dois ou
três mil réis. Eis aqui em detalhe toda a história, e à vista dela o Sr. José
Maria Pinto de Meneses poderá queixar-se que o Pe. Diogo o roubou? Entendo que
o não deve fazer, sem se colocar na classe mais degradante dos homens. O Pe.
Diogo não roubou porque lhe pagou quanto tinha abonado; ele é que roubou o
Padre, porque o calunia.
E menos o Pe. Diogo roubou o José
Monteiro de Cardoso, como sem vergonha publicamos no nosso último panfleto,
composto por uns elementos de retórica dados à luz pelo José Terra da Feira, de
Fazamões, e ilustrados pelo mesmo José Monteiro. Este homem, tantas vezes ensarilhado
pelo diabo, tantas vencido por ele e outras tantas vezes dele vencedor, é meu
compadre e amigo, e serve-se do meu dinheiro. Como é muito grato, quis pagar-me
os meus favores, arranjando também a sua calúnia, que me ajudou a encher as
colunas do meu panfleto.
*Transcrição do manuscrito "O abbade de Barrô e sua segunda confissão", datado de 25 de Novembro de 1889, procedendo-se apenas à actualização gráfica e a pequenas alterações, designadamente sinais de pontuação.