quarta-feira, 15 de julho de 2015

Confissões do Padre Eugénio César d'Azevedo, natural de Paus (9)*


Cá torna o Francisco Cardoso d’Azevedo, de Vilar de Barrô, o tabelião de notas. O Pe. Diogo não roubou a este vulto 80:000 réis, como ele diz, e nós o transmitimos ao público. Ele não lhe roubou nem uma pena, porque roubar uma pena a um escrivão é um pecado grave.
Para José Rodrigues Paulino embarcar recorreu ao Pe. Diogo para lhe arranjar dinheiro, e este Padre tirou-lhe 70:000 réis a juro em Ferreirós em casa de José Rodrigues Caçador, e nunca ocupou o Sr. Francisco Cardoso d’Azevedo. Mas vem cá, Francisco, se tu abonaste no Porto a José Rodrigues Paulino, porque não exigiste dele um título? Quando tu principiaste a pedir ao Pe. Diogo esta dívida, ele escreveu para o Brasil ao Paulino, perguntando-lhe se era verdade dever-te esta quantia, e ele numa carta que enviou ao Pe. Diogo, e que este conserva, diz que nada te deve e que tu és um ladrão. Como queres tu que o Pe. Diogo te pague,  sem te dever tal dinheiro? Ó Francisco,  nem sempre se pode fazer do direito torto e do torto direito.
É como o Sr. José Maria Pinto de Meneses, da Feira Nova, da freguesia de S. Martinho de Mouros…Quem diria que este meu amigo que, sem merecimentos, quer passar por um cidadão honrado, também é um caluniador? Já lá vão bastantes anos que Lino José Rodrigues, sobrinho do Pe. Diogo, pediu a este que lhe abonasse na loja daquele Sr. Meneses um fato. O Pe. Diogo deu-lhe uma carta em que pedia ao Sr. José Maria Pinto de Meneses que fiasse ao sobrinho uma roupa até 4:500 réis. Passado algum tempo, o Pe. Diogo, vendo que o seu sobrinho por muito pobre não pagava, dirigiu-se ao Sr. Meneses e deu-lhe 4:500 réis. O Sr. Meneses, abrindo lá o seu cartapácio, disse ao Pe. Diogo: “ Você deve aqui 11:800 réis,  e este é o abono que fez a seu sobrinho”.  “Mostre a carta, que lhe dirigi”, disse o Pe. Diogo. O Sr. Meneses não apresentou a carta, porque não lhe fazia conta. Depois o dito Lino deu-lhe por vezes algum dinheiro, e hoje dever-lhe-á uns dois ou três mil réis. Eis aqui em detalhe toda a história, e à vista dela o Sr. José Maria Pinto de Meneses poderá queixar-se que o Pe. Diogo o roubou? Entendo que o não deve fazer, sem se colocar na classe mais degradante dos homens. O Pe. Diogo não roubou porque lhe pagou quanto tinha abonado; ele é que roubou o Padre, porque o calunia.
E menos o Pe. Diogo roubou o José Monteiro de Cardoso, como sem vergonha publicamos no nosso último panfleto, composto por uns elementos de retórica dados à luz pelo José Terra da Feira, de Fazamões, e ilustrados pelo mesmo José Monteiro. Este homem, tantas vezes ensarilhado pelo diabo, tantas vencido por ele e outras tantas vezes dele vencedor, é meu compadre e amigo, e serve-se do meu dinheiro. Como é muito grato, quis pagar-me os meus favores, arranjando também a sua calúnia, que me ajudou a encher as colunas do meu panfleto. 
*Transcrição do manuscrito "O abbade de Barrô e sua segunda confissão", datado de 25 de Novembro de 1889, procedendo-se apenas à actualização gráfica e a pequenas alterações, designadamente sinais de pontuação.
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